segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Dilma ataca programa de Marina para a indústria e sugere que ele pode desempregar. Bem, ela está.. certa!
Reinaldo Azevedo - VEJA
Às vezes, é preciso que a gente se prepare para a hipótese de a presidente Dilma Rousseff estar certa, mesmo quando fala como a candidata Dilma Rousseff. Neste domingo, ela deu uma rápida declaração no Palácio da Alvorada e se disse preocupada com o conteúdo do programa de Maria Silva para a indústria brasileira. Como Marina apareceu em primeiro lugar no segundo turno em duas pesquisas, a do Ibope a do Datafolha, confesso que eu também me preocupei. Vai que ela se eleja. Não sei bem o que pode sair.
Muito bem! Mais de uma vez já critiquei aqui a alta carga tributária brasileira, que convive, não obstante, com desonerações concedidas a este ou àquele setores. Sei que a tarefa não é fácil e a resposta não é simples, mas melhor seria uma carga média mais baixa sem precisar escolher este ou aquele para conceder um prêmio. Mas é evidente que entendo que o governo brasileiro — a exemplo do que fazem todos — pode e deve criar mecanismos para dar incentivo à sua indústria. Ou por outra: uma política industrial é, sim, necessária: porque o setor gera os melhores empregos, os mais bem remunerados e porque isso implica desenvolvimento de tecnologia. A perda de competitividade da indústria e sua queda na participação do PIB são, sim, problemas graves. Quem tiver dúvidas a respeito que pergunte ao resto do mundo, em especial à China.
O programa de Marina diz coisas estranhas em pelo menos dois momentos. No “Eixo 5”, pomposamente intitulado de “Novo Urbanismo, Segurança Pública e Pacto Pela Vida”, critica severamente a redução de IPI para a compra de carros. Com a devida vênia, é papo de ongueiro natureba. Esperem aí! A indústria automobilística emprega mais de 130 mil pessoas; a de autopeças, quase 330 mil; a de pneus, 26 mil. Quando se calculam os empregos indiretos, chegamos facilmente a alguns milhões. O governo Dilma cometeu muitas barbeiragens — e a redução de IPI não foi uma delas.
Na chamado Eixo 2, na página 73, o programa de Marina critica a forma como se dá a política de proteção ao conteúdo local de determinados setores da indústria, mas não diz exatamente o que pretende fazer, limitando se a afirmar que tal iniciativa deve ter um tempo limitado e constituir exceções, não a regra. E ponto.
O PT percebeu a fragilidade das formulações do programa de Marina e aproveitou para atacar: “Eu não fui eleita para desempregar ou para reduzir a importância da indústria”. E emendou: “Nós não queremos que os carros sejam só montados no Brasil. Eles podem ser produzidos no Brasil, mas, sobretudo, sofrer no Brasil as inovações que são fundamentais na indústria”.
Pois é… Fazer o quê? De vez em quando, Dilma pode estar certa. Nesse caso, está. Qualquer presidente em seu lugar — e, antes dela, no de Lula — teria reduzido os impostos dos carros para manter os empregos. Se presidente, Marina teria feito o quê? Um retiro espiritual para meditar sobre o assunto? “Você não acha penoso, Reinaldo, ter de admitir que, em certos casos, Dilma fez a coisa certa?” Eu não! Já havia dito isso antes. Tenho compromisso com os fatos. E só.

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