Reinaldo Azevedo - VEJA
Às
vezes, é preciso que a gente se prepare para a hipótese de a presidente
Dilma Rousseff estar certa, mesmo quando fala como a candidata Dilma
Rousseff. Neste domingo, ela deu uma rápida declaração no Palácio da
Alvorada e se disse preocupada com o conteúdo do programa de Maria Silva
para a indústria brasileira. Como Marina apareceu em primeiro lugar no
segundo turno em duas pesquisas, a do Ibope a do Datafolha, confesso que
eu também me preocupei. Vai que ela se eleja. Não sei bem o que pode
sair.
Muito bem!
Mais de uma vez já critiquei aqui a alta carga tributária brasileira,
que convive, não obstante, com desonerações concedidas a este ou àquele
setores. Sei que a tarefa não é fácil e a resposta não é simples, mas
melhor seria uma carga média mais baixa sem precisar escolher este ou
aquele para conceder um prêmio. Mas é evidente que entendo que o governo
brasileiro — a exemplo do que fazem todos — pode e deve criar
mecanismos para dar incentivo à sua indústria. Ou por outra: uma
política industrial é, sim, necessária: porque o setor gera os melhores
empregos, os mais bem remunerados e porque isso implica desenvolvimento
de tecnologia. A perda de competitividade da indústria e sua queda na
participação do PIB são, sim, problemas graves. Quem tiver dúvidas a
respeito que pergunte ao resto do mundo, em especial à China.
O programa
de Marina diz coisas estranhas em pelo menos dois momentos. No “Eixo
5”, pomposamente intitulado de “Novo Urbanismo, Segurança Pública e
Pacto Pela Vida”, critica severamente a redução de IPI para a compra de
carros. Com a devida vênia, é papo de ongueiro natureba. Esperem aí! A
indústria automobilística emprega mais de 130 mil pessoas; a de
autopeças, quase 330 mil; a de pneus, 26 mil. Quando se calculam os
empregos indiretos, chegamos facilmente a alguns milhões. O governo
Dilma cometeu muitas barbeiragens — e a redução de IPI não foi uma
delas.
Na chamado
Eixo 2, na página 73, o programa de Marina critica a forma como se dá a
política de proteção ao conteúdo local de determinados setores da
indústria, mas não diz exatamente o que pretende fazer, limitando se a
afirmar que tal iniciativa deve ter um tempo limitado e constituir
exceções, não a regra. E ponto.
O PT
percebeu a fragilidade das formulações do programa de Marina e
aproveitou para atacar: “Eu não fui eleita para desempregar ou para
reduzir a importância da indústria”. E emendou: “Nós não queremos que os
carros sejam só montados no Brasil. Eles podem ser produzidos no
Brasil, mas, sobretudo, sofrer no Brasil as inovações que são
fundamentais na indústria”.
Pois é…
Fazer o quê? De vez em quando, Dilma pode estar certa. Nesse caso, está.
Qualquer presidente em seu lugar — e, antes dela, no de Lula — teria
reduzido os impostos dos carros para manter os empregos. Se presidente,
Marina teria feito o quê? Um retiro espiritual para meditar sobre o
assunto? “Você não acha penoso, Reinaldo, ter de admitir que, em certos
casos, Dilma fez a coisa certa?” Eu não! Já havia dito isso antes. Tenho
compromisso com os fatos. E só.
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