O preço da improvisação
O Estado de S.Paulo
Já começam a aparecer as consequências da
maneira atabalhoada com que estão sendo implantados na capital os 400 km
de ciclovias prometidos pelo prefeito Fernando Haddad, sem um estudo
sério sobre sua real utilidade e sem planejamento. O que está
acontecendo com a ciclovia da Avenida São João, no centro - invadida por
motos, carros e até caminhões, já que é pequeno o número de ciclistas
que a utilizam -, é um exemplo que pode se repetir em outras regiões em
que estão sendo implantadas, às pressas, essas vias exclusivas.
Reportagem publicada pelo Estado mostrou que naquela
avenida, entre a Rua General Osório e a Avenida Duque de Caxias, das 17
às 19 horas de determinado dia, as 43 bicicletas que por ali passaram
tiveram de dividir o espaço que deveria ser só seu com 158 motos -
circulando em alta velocidade, algumas na contramão -, 16 carros e um
Veículo Urbano de Carga (VUC), minicaminhão autorizado a circular pelo
centro. Na prática, a ciclovia se transformou numa motofaixa.
Para o presidente do Sindicato dos Motoboys, Gilberto de Almeida Santos,
isso acontece porque "aquela ciclovia é um espaço que ninguém usa".
Ciclistas - ou cicloativistas, como preferem ser chamados aqueles para
os quais a bicicleta é ao mesmo tempo um meio de transporte e de
militância - ouvidos pela reportagem afirmam que no começo é mesmo
pequeno o número dos seus colegas que utilizam uma ciclovia. Num ou
noutro caso - não importa quem tenha razão -, a Prefeitura tinha a
obrigação, se a sua ação fosse planejada, de tomar desde o início
medidas para evitar a invasão da ciclovia. Ou de não instalar ciclovias
onde não há necessidade.
Essa deve ser uma das razões pelas quais o prefeito Fernando Haddad
anunciou o emprego de agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) - a
serem para isso treinados pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) -
para fiscalizar as ciclovias, aplicando multas a quem nelas praticar
irregularidades. Isso começará a ser feito ainda este ano e Haddad
promete que haverá três guardas civis a cada quilômetro.
A população tem o direito de saber se a Prefeitura pretende fiscalizar e
punir apenas as irregularidades que prejudicam os ciclistas, como vem
acontecendo, ou também as cometidas por eles em toda a cidade. Ninguém
em sã consciência coloca em dúvida a necessidade - ou melhor, a
obrigatoriedade - de proteger os ciclistas. Mas isso não significa
colocá-los acima da lei - como uma espécie de seres superiores, porque
ecologicamente corretos -, com o direito de fazer impunemente o que bem
entendem.
É inaceitável que ciclistas - como é frequente - andem na contramão,
para encurtar caminho, sem capacete de proteção e com bicicleta sem
farolete. Sem falar na circulação pelas calçadas. Essas são condutas de
alto risco, para eles próprios, mas igualmente para os condutores de
outros veículos, que também devem ser protegidos da sua imprudência, e
para os pedestres sujeitos a ser a atropelados nas calçadas.
Já é mais do que hora de os ciclistas serem obrigados, como os
condutores de outros veículos, a respeitar leis de trânsito e normas de
segurança. Isso implica a obrigatoriedade de as bicicletas terem placa,
sem a qual a fiscalização é praticamente impossível. Se Haddad quer que
se difunda em São Paulo o uso da bicicleta como meio de transporte, a
exemplo do que fizeram e fazem grandes cidades dos países desenvolvidos,
essa é uma das regras a serem seguidas.
A outra é a do planejamento, que começa pela determinação de quantas
ciclovias a cidade comporta e onde elas devem ser implantadas, o que
exige estudos técnicos que não foram feitos. Se foram, onde estão? Tanto
é verdade que a improvisação é a marca registrada dos pretendidos 400
km de ciclovias de Haddad que, mal começaram a ser implantadas, já têm
de ser reavaliadas.
É o caso da ciclovia da Chácara Santo Antônio, na zona sul, cujo trecho
de 2,4 km, que acaba de ser inaugurado, está sendo revisto por técnicos
da CET por pressão dos moradores da região. Pela mesma razão, isso pode
acontecer também com as ciclovias da região central.
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