Der Spiegel
Thomas Peter/Reuters
A
chanceler da Alemanha, Angela Merkel, participa de debate sobre a
situação no Iraque, em que rebeldes do Estado Islâmico estão em conflito
com forças do país pelo controle de cidades, na câmara baixa do
Bundestag, o Parlamento alemão, em Berlim
O
governo alemão chegou a uma decisão durante o fim de semana sobre as
armas que pretende enviar para os curdos no norte do Iraque para
ajudá-los a combater o avanço dos militantes do Estado Islâmico (EI).
Mas a "Spiegel" soube que não será fácil encontrar uma via legal para
realmente entregar essas armas. Além disso, algumas delas poderão ser
usadas contra ex-soldados alemães.
Segundo fontes de segurança
em Berlim, cerca de 23 antigos membros do Bundeswehr, como são
conhecidos os militares da Alemanha, viajaram para a Síria e o Iraque,
aparentemente com a intenção de aderir a grupos extremistas islâmicos do
EI. Eles se somam a outros estimados 400 jihadistas alemães que já
viajaram para a região. A maioria destes, entretanto, não tinha
experiência militar anterior, tornando os 20 soldados treinados
especialmente valiosos.O serviço de inteligência militar da Alemanha, MAD, considera o islamismo um problema crescente entre os militares alemães. Recentemente, um ex-sargento do Bundeswehr que havia sido descomissionado anteriormente por causa de suas tendências islâmicas, foi impedido de viajar para a região em crise.
No fim de semana, Hans-Georg Maassen, chefe do Departamento de Proteção à Constituição (BfV), a agência de inteligência interna da Alemanha, manifestou preocupações de que o fluxo de islâmicos da Alemanha para a Síria e o Iraque continue. Ele disse que alguns muçulmanos mais jovens radicalizados são atraídos para o EI em particular por causa da brutalidade do grupo. "O Estado Islâmico é, por assim dizer, a coisa 'quente' nesse cenário", disse Maassen. É "muito mais atraente que a Jabhat al-Nusrah, a filial da Al Qaeda na Síria. O que atrai as pessoas são o alto grau de brutalidade, o radicalismo e o rigor."
Alemanha preocupada com um Estado curdo
A mesma brutalidade foi o que levou os alemães a afastar-se de sua política de décadas de não enviar armas para zonas de guerra. Depois de chegar a um acordo sobre a remessa de armas em meados de agosto, o governo alemão anunciou no fim de semana quais armas pretende mandar. A lista inclui 16 mil rifles de assalto, 40 metralhadoras e 240 armas antitanques, juntamente com 500 foguetes antitanques. Cerca de 10 mil granadas de mão e 8 mil pistolas também deverão ser enviadas.Como exatamente as armas chegarão aos curdos não está claro. Segundo as leis alemãs que regem a exportação de armas, um acordo desse tipo deve ser aprovado pelo ministro da Economia, que por sua vez precisa ter o consentimento por escrito do governo do país receptor. Mas o novo governo de Bagdá ainda não assumiu. Fontes disseram à "Spiegel" que autoridades de Berlim estão tentando encontrar uma alternativa.
O ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, e a ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, apresentaram a lista de armas no domingo à noite em Berlim, dizendo que o carregamento deverá bastar para equipar 4 mil soldados curdos. Steinmeier reconheceu que foi uma decisão difícil, citando a possibilidade de que as armas sejam usadas pelos curdos para combater por seu próprio Estado independente. Ele disse ao jornal de Hanôver "Hannoverschen Allgemeinen Zeitung" que o volume do carregamento foi calibrado para que "nenhum estoque de armas possa ser formado para mais tarde ser usado em outros conflitos".
Steinmeier reiterou suas preocupações sobre a fundação de um Estado curdo, dizendo que está preocupado "que um Curdistão independente resultaria em uma separação de outras regiões iraquianas, por exemplo no sul e ao redor de Basra". O resultado, ele continuou, seriam "novas lutas sobre novas fronteiras e territórios estatais", o que "resultaria em regiões inteiras tornando-se ingovernáveis".
Ainda assim, disse o ministro alemão, o avanço dos islâmicos "não é apenas uma tragédia humana de proporções inimagináveis, mas também uma ameaça existencial para a região do norte do Iraque e para o fraco Estado iraquiano como um todo".
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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