As revelações de Venina complicam tudo ainda mais. Destroem a credibilidade de Graça Foster, que disse na CPI do Congresso não saber o que já sabia.
Mary Zaidan - O Globo
Diz a lenda que jabuticaba só existe no Brasil. Ainda que a tese seja
controversa, já que há espécies nativas catalogadas no México, tudo
aquilo, especialmente absurdos só vistos por aqui, é comparado com a
frutinha negra. Seria mais exato se isso fosse feito em relação à
Petrobras, possivelmente a única empresa estatal do mundo que carrega em
si o orgulho de uma nação. E, agora, a vergonha.
Vergonha expressa no e-mail que a ex-gerente Venina da Fonseca escreveu em 2011 para a então diretora de Gás e Energia Graça Foster, hoje presidente da estatal, reiterando alertas sobre esquemas de corrupção: “Do imenso orgulho que eu tinha pela minha empresa passei a sentir vergonha.”
Venina foi fundo. Se verdade ou não, as investigações dirão. Mas os sentimentos dela, revelados pelo jornal Valor Econômico, parecem ser compartilhados não só pelos funcionários da estatal, mas por boa parte do país.
Criada sob a égide de “o petróleo é nosso”, que uniu utopias de comunistas e nacionalistas, a petroleira foi o símbolo contra o imperialismo ianque, triunfo da esquerda. Conseguiu conciliar o atraso ideológico dessa turma com a modernidade operacional e tecnológica, e ser respeitada acima dessas bestices.
Desde sempre políticos fizeram a Petrobras ser maior do que o país. Alguns mais. Menina dos olhos dos militares durante a ditadura, também foi ponta de lança dos petistas. As mãos sujas de óleo negro do ex Lula ao anunciar a autossuficiência brasileira de petróleo – algo que se provou ser mentira pura – que o digam.
Nas campanhas eleitorais do PT, foi sempre estrela de primeira grandeza com a qual reavivava o nacionalismo à la Geisel a serviço do partido. Abusou de capacetes e uniformes da companhia e da acusação de que o adversário tucano queria privatizá-la.
Sob uma avalanche de denúncias de corrupção, neste ano a presença da Petrobras foi maior no campo oposicionista do que na campanha de reeleição. Milimetricamente orientada, Dilma Rousseff bateu e rebateu na tecla de que toda roubalheira – que, ao que tudo indica, financiou o PT e aliados - não passava de orquestração da mídia golpista e de tentativas de denegrir a imagem da empresa e de seu governo.
Dilma nada mais disse. A não ser que de nada sabia.
Venceu o pleito. Mas vai iniciar seu novo mandato com quase 70% dos brasileiros atribuindo a ela a corrupção na petroleira, segundo pesquisa Datafolha. Como disse o procurador-geral da República, “essas pessoas roubaram o orgulho dos brasileiros”. Rodrigo Janot não deu nomes nem excluiu ninguém. Nem mesmo a presidente.
As revelações de Venina complicam tudo ainda mais. Destroem a credibilidade de Graça Foster, que disse na CPI do Congresso não saber o que já sabia. Inviabilizam a sua permanência no mais alto posto da petroleira. E deixam o escândalo sem intermediação, próximo demais do Planalto.
Para Dilma, é uma desgraça ficar sem Graça. Sem ter a amiga para aliviar a indigestão, ela terá de engolir sozinha a jabuticaba. Com a casca e o caroço.
Vergonha expressa no e-mail que a ex-gerente Venina da Fonseca escreveu em 2011 para a então diretora de Gás e Energia Graça Foster, hoje presidente da estatal, reiterando alertas sobre esquemas de corrupção: “Do imenso orgulho que eu tinha pela minha empresa passei a sentir vergonha.”
Venina foi fundo. Se verdade ou não, as investigações dirão. Mas os sentimentos dela, revelados pelo jornal Valor Econômico, parecem ser compartilhados não só pelos funcionários da estatal, mas por boa parte do país.
Criada sob a égide de “o petróleo é nosso”, que uniu utopias de comunistas e nacionalistas, a petroleira foi o símbolo contra o imperialismo ianque, triunfo da esquerda. Conseguiu conciliar o atraso ideológico dessa turma com a modernidade operacional e tecnológica, e ser respeitada acima dessas bestices.
Desde sempre políticos fizeram a Petrobras ser maior do que o país. Alguns mais. Menina dos olhos dos militares durante a ditadura, também foi ponta de lança dos petistas. As mãos sujas de óleo negro do ex Lula ao anunciar a autossuficiência brasileira de petróleo – algo que se provou ser mentira pura – que o digam.
Nas campanhas eleitorais do PT, foi sempre estrela de primeira grandeza com a qual reavivava o nacionalismo à la Geisel a serviço do partido. Abusou de capacetes e uniformes da companhia e da acusação de que o adversário tucano queria privatizá-la.
Sob uma avalanche de denúncias de corrupção, neste ano a presença da Petrobras foi maior no campo oposicionista do que na campanha de reeleição. Milimetricamente orientada, Dilma Rousseff bateu e rebateu na tecla de que toda roubalheira – que, ao que tudo indica, financiou o PT e aliados - não passava de orquestração da mídia golpista e de tentativas de denegrir a imagem da empresa e de seu governo.
Dilma nada mais disse. A não ser que de nada sabia.
Venceu o pleito. Mas vai iniciar seu novo mandato com quase 70% dos brasileiros atribuindo a ela a corrupção na petroleira, segundo pesquisa Datafolha. Como disse o procurador-geral da República, “essas pessoas roubaram o orgulho dos brasileiros”. Rodrigo Janot não deu nomes nem excluiu ninguém. Nem mesmo a presidente.
As revelações de Venina complicam tudo ainda mais. Destroem a credibilidade de Graça Foster, que disse na CPI do Congresso não saber o que já sabia. Inviabilizam a sua permanência no mais alto posto da petroleira. E deixam o escândalo sem intermediação, próximo demais do Planalto.
Para Dilma, é uma desgraça ficar sem Graça. Sem ter a amiga para aliviar a indigestão, ela terá de engolir sozinha a jabuticaba. Com a casca e o caroço.
Graça Foster, presidente da Petrobras (Imagem: Marcelo Camargo / Agência Brasil)
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