A urgência de Lula
O Estado de S.Paulo
A presidente Dilma Rousseff nem começou seu
segundo mandato e seu padrinho, Luiz Inácio Lula da Silva, já está em
plena campanha para a eleição de 2018. A bem da verdade, Lula nunca
desceu do palanque - desde 2003, os governos lulopetistas se
notabilizaram por administrar o País pensando somente na eleição
seguinte, transformando o Estado em máquina partidária. Agora, no
entanto, parece haver um sentido de urgência na atitude do
ex-presidente, porque a oposição se fortaleceu pelo bom desempenho na
última disputa presidencial e, também, porque o descalabro econômico e o
maior escândalo de corrupção da história brasileira tornaram-se ameaças
sérias a seu projeto de poder.
A principal
estratégia de Lula e de seus seguidores tem sido atribuir cinicamente à
oposição o mau comportamento republicano que hoje caracteriza o PT.
"Eles acham que a campanha não acabou", afirmou o ex-presidente, em
discurso na abertura do 5.º Congresso do PT, em Brasília.
Com
isso, Lula busca tirar a legitimidade das críticas da oposição,
transformando-as em mera artimanha das "elites" para dar um "golpe" em
Dilma e em seu partido - quando na verdade é Lula quem desmoraliza a
democracia ao sistematicamente desrespeitar os que não votam nos
petistas nem aceitam o assalto ao Estado. Para esse fim, vale tudo: no
mesmo pronunciamento, Lula defendeu os envolvidos no escândalo da
Petrobrás, dizendo que eles já foram condenados pela imprensa antes
mesmo da análise do caso pelo Supremo Tribunal Federal (STF) - uma
maneira nada sutil de dizer que, se o STF acatar as denúncias, só o fará
por pressão dos jornais.
Na construção desse discurso
contra a oposição, Lula especializou-se em ofender a inteligência
alheia, apostando numa espécie de amnésia coletiva. "Eu perdi em 89, e
todo mundo sabe como perdi, entretanto não fiquei na rua protestando,
fui me preparar para a outra", afirmou Lula, referindo-se à eleição
presidencial de 1989, quando foi derrotado por Fernando Collor.
Insinuando que a eleição de Collor não foi legítima ("todo mundo sabe
como perdi"), Lula quis dizer que, apesar disso, não fez protestos como
os que a oposição hoje faz. E foi adiante: "Quando a gente perdia, a
gente acatava o resultado".
Não é preciso fazer um grande
esforço para lembrar que o PT sempre fez oposição sem trégua - votou
contra o Plano Real e contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, para
ficar em apenas dois exemplos da inconsequência do partido - e promoveu
uma campanha sistemática para minar o governo de Fernando Henrique
Cardoso, especialmente no segundo mandato. Líderes do partido, que hoje
dizem "acatar o resultado" das eleições e se queixam das manifestações
contra Dilma em razão do escândalo da Petrobrás, chegaram a defender o
impeachment de FHC diante das suspeitas de irregularidades nas
privatizações. Era o "Fora FHC!". Hoje, porém, Lula não se constrange em
pedir que cessem os protestos contra Dilma porque ela "precisa
governar": "Deixem a mulher trabalhar, gente! Ela ganhou as eleições".
Empenhado
em ditar os rumos do segundo mandato, para fortalecer sua eventual
candidatura em 2018, o ex-presidente, sempre que pode, cita as próximas
eleições. "Eles (a oposição) começam a ficar apavorados com a
perspectiva do quinto mandato", discursou Lula, dando a senha para que
os correligionários o ovacionassem. Em seguida, bem ao seu estilo, disse
que "ninguém tem de pensar em 2018", mas deixou clara a pressão sobre
Dilma, ao dizer que espera dela o "sinal que ela vai dar do ponto de
vista econômico, das políticas sociais, de desenvolvimento".
Lula
parece saber que é do desempenho de Dilma que depende sua força e a de
seu partido para enfrentar a tempestade do escândalo de corrupção e
sobreviver no poder em 2018. Essa é sua grande aflição e a razão pela
qual imputa tudo o que se diz sobre o escândalo na Petrobrás a uma
campanha para "destruir" o PT.
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