Catherine Mann - Prospect
European Commission/AP
O desempenho econômico da zona do euro desde a crise tem decepcionado, e as previsões piorado ano após ano
O desempenho econômico da zona do euro desde a crise tem decepcionado, e
as previsões piorado ano após ano. Os gastos dos consumidores estão
estagnados nos níveis de 2009, o desemprego é muito alto e as obrigações
da dívida pública continuam se acumulando. A inflação já está bem
abaixo da meta de 2% do Banco Central Europeu e é provável que continue
assim por algum tempo.
As decepções persistentes têm causas subjacentes preocupantes. Será que
os responsáveis pelas políticas conseguirão retomar o crescimento da
economia da zona do euro? Ou será que milhões de pessoas continuarão
desempregadas, com o consumo estagnado, e os investidores sem opções que
valham a pena? No cerne do fraco crescimento da zona do euro está a
baixa demanda. Consumidores, empresas e governos estão relutando em
gastar. Embora alguns países com dívidas significativas, como a Espanha
ou a Irlanda, precisavam que os consumidores e o governo recuassem,
outras economias com balancetes fortes – Alemanha, Áustria – também
optaram por manter baixos os gastos do governo.O período de investimento lento reduziu o potencial de crescimento de muitos países na zona do euro e problemas profundos das políticas e desempenho pesam sobre suas economias. Regulamentações restritivas que impedem a concorrência e a inovação, e políticas de mercado de trabalho que levam a uma elevada taxa de desemprego e dificultam que as pessoas mudem de emprego são difíceis de alterar em um clima econômico tão sisudo, além de restringirem o desempenho econômico atual e futuro.
Há um debate sobre o quanto do fraco desempenho da zona do euro se deve à demanda e quanto se deve à oferta. São dois lados da mesma moeda. As empresas não vão investir se não virem um ambiente favorável de negócios. Por outro lado, se há pouca demanda dos consumidores, não importa quão favorável é o clima para os investimentos. As preocupações com o futuro a médio prazo são particularmente prejudiciais para a confiança em alguns países, sobretudo na França e na Itália.
Sem uma ação mais forte por parte formuladores de políticas, a zona do euro vai com um desempenho fraco – ou piorar. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico publicou recentemente sua análise econômica, que prevê uma recuperação superficial, com um crescimento do PIB de apenas 1,1% em 2015 e 1,7% em 2016. Bem mais lento do que o que a zona do euro deveria atingir, e que atingiu em média durante oito anos seguidos até a crise financeira. O que é mais preocupante é que apenas um pequeno choque poderia levar a zona do euro ao um crescimento zero, um cenário de inflação zero, em que o desemprego continuaria acima de 11%. Os riscos de uma nova recessão e deflação são, portanto, significativos.
Este cenário negativo para a zona do euro é ruim para a economia global. Mesmo com a crescente participação das economias asiáticas, a zona do euro ainda responde por mais de um quinto do PIB global, e junto com os seus vizinhos de fora do euro, por um terço do PIB mundial e ainda mais do comércio global. As fortes ligações comerciais e financeiras com o Reino Unido e com o centro e o leste europeu colocam a melhora recente no desempenho econômico em risco. Estas regiões seriam muito afetadas se a zona do euro enfraquecesse significativamente.
Então, o que pode ser feito para retomar a recuperação da zona do euro? Os formuladores de políticas não conseguiram aumentar a demanda fraca nem melhorar o desempenho do lado da oferta da zona do euro. A política fiscal e monetária dos Estados Unidos e Reino Unido, e em menor medida a do Japão, tem procurado resolver esses problemas, mas a política na zona do euro tem sido contida. Muitas vezes se mostrou insuficiente e tardia; ou exagerada na direção errada.
Para sair de um ciclo de demanda fraca e problemas estruturais, uma resposta política unificada precisa ser elaborada com o BCE e os países, todos trabalhando na mesma direção. A política monetária, a política fiscal e as políticas estruturais são estratégias complementares. Essas políticas funcionam como num banco de três pernas, e a Europa precisa de todas as três para o banco ficar em pé.
O BCE já tomou medidas positivas para aliviar as condições de crédito desde o verão, mas a demanda fraca e os riscos de deflação pedem mais ações. Isto deveria incluir um compromisso de continuar estimulando a economia – inclusive através da compra da dívida soberana, como parte de um programa de flexibilização quantitativa – até que a inflação volte à meta.
Todo o espaço fiscal deve ser usado para sustentar a demanda. As regras fiscais da UE são importantes, mas é possível ter mais liberdade de ação. Se uma economia desacelera mais que o esperado e isso faz aumentar o déficit orçamentário, isso deve ser tolerado. Em última análise, a melhor solução para a dívida pública elevada na zona do euro deve ser um retorno ao crescimento. Alguns países da periferia da Europa tomaram medidas difíceis para melhorar o mercado de trabalho e fomentar a concorrência. Outros têm feito pouco. De forma encorajadora, Itália e França começaram a enfrentar o desafio de implementar reformas. Chegou a hora de a Alemanha avançar e incentivar o investimento doméstico, empreender reformas internas nos serviços e, assim, aumentar seu potencial de crescimento.
Chegou a hora de todos na Europa começarem a mover na direção do mesmo objetivo de acelerar o crescimento. A economia mundial precisa que a zona do euro se recupere. Para que isso aconteça, os formuladores de políticas europeus terão de fornecer o impulso necessário para colocar a recuperação em marcha.
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