Numa profusão de folhas, árvores crescem e transformam Nova York
Andy Newman - NYT
The New York Times
Imagens de 1912 e 2014 da ponte Queensborough, na 59ª rua, em Nova York, mostra aumento da plantação de árvores no local
Veja fotos antigas das ruas da cidade de Nova York e você notará com frequência uma rigidez estranha, parecida à de um set de cinema. Um momento de ponderação sobre as imagens em preto e branco revela o motivo: Não há árvores.
Vá para o mesmo quarteirão ou bairro hoje que você encontrará um
cenário diferente: o vazio preenchido e atenuado por altos carvalhos
vermelhos, o tronco camuflado de um plátano, ou uma fileira de jovens e
compridas pereiras ou bordos.Veja fotos antigas das ruas da cidade de Nova York e você notará com frequência uma rigidez estranha, parecida à de um set de cinema. Um momento de ponderação sobre as imagens em preto e branco revela o motivo: Não há árvores.
A cidade vai ganhando novas construções e a multidão vai crescendo. Novos prédios bloqueiam a vista do céu ou se espalham pelo espaço aberto. No século passado, a população saltou 65%.
Mesmo assim, ao longo dos últimos 50, 75 ou 100 anos, às vezes sem notarmos conscientemente, as partes mais desenvolvidas da metrópole mais densa do país ficaram mais verdes.
Pode-se dizer que Nova York está na época da folheação.
Não há como provar isso. Os censos das árvores nas ruas não eram confiáveis até os anos 1990. A população de árvores flutua - ondas de doenças, tempestades e espasmos financeiros do município reduzem periodicamente a floresta urbana e desfazem os esforços de arborização da cidade.
Mas a tendência a longo prazo parece ser inegavelmente positiva, disse Matthew Stephens, diretor de arborização do departamento de parques.
"A única prova que temos está naquelas fotos antigas", disse Stephens. "Há centenas de fotos que encontramos ao longo do nosso trabalho - das décadas de 1920, 1930 - e é raro ver qualquer árvore nelas."
Como um substituto para uma estatística, considere isso: no final dos anos 30, a fotógrafa Berenice Abbott tirou dezenas de fotos das ruas, principalmente em Manhattan, mas também em outros bairros, para um projeto federal e um livro chamado "Mudando Nova York". Sessenta anos mais tarde, o fotógrafo Douglas Levere pisou nas pegadas de Abbott e fotografou as mesmas paisagens. Há 24 fotos que mostram uma quantidade maior de árvores nas paisagens mais recentes, e nenhuma que mostre mais árvores na época de Abbott.
Não há um fator único por trás desse aumento.
A cidade está na reta final da campanha Milhão de Árvores NYC, que inclui o plantio de 160 mil árvores nas ruas - ou seja, árvores ao longo das calçadas ou outras vias públicas. Mas Nova York já havia percebido a necessidade de atenuar seus ângulos retos com o verde desde pelo menos 1870, quando o departamento de parques pediu pela primeira vez a criação de um sistema de arborização das ruas.
Ao longo do caminho, sempre houve obstáculos. Funcionários dos parques de Manhattan reclamaram em 1913 de "uma redução constante no espaço para as raízes por conta da agressão cada vez maior dos metrôs, calçadas, galerias e tubulação de esgoto."
Robert Moses, comissário de parques da cidade dos anos 30 aos 50, plantou muitos dos plátanos e carvalhos vermelhos majestosos que se espalham pela paisagem urbana hoje. Mas seus planos também sofreram com pragas que matavam as árvores e retrocessos políticos. Um plano ambicioso de 1973 do prefeito John V. Lindsay, de plantar seis árvores em um quarteirão a cada duas plantadas por moradores, foi interrompido quando a prefeitura ficou sem dinheiro.
Mais recentemente, um programa popular que permite que os moradores peçam uma árvore à prefeitura já arborizou muitos quarteirões até então cinzentos desde os anos 80.
E desde 1995, quando o primeiro censo confiável foi realizado, a população de árvores de Nova York explodiu - ela aumentou 30% desde então, de 500 mil árvores para cerca de 650 mil. O Bronx tem 67% mais ruas arborizadas do que tinha há 20 anos, o Brooklyn tem 42% a mais, e até Staten Island, onde as construções avançaram com fúria, tem 46% mais ruas arborizadas.
Ao perceber que a maior parte dos pedidos de árvores novas vinham de bairros mais ricos, o departamento de parques passou a se concentrar nas áreas mais pobres, incluindo Morrisania no Bronx e East New York no Brooklyn, para uma blitz de plantio.
As árvores, observa o departamento de parques, não só deixam a cidade mais bonita como também filtram a poluição, refrescam as ruas no verão e ajudam a reduzir as taxas de asma.
Em East New York, "basicamente a rua inteira foi arborizada" desde 2007, diz Stephens.
Com o inverno se aproximando, as árvores estão em dormência, que é a época mais segura para plantá-las, e a temporada de outono do departamento de parques está em andamento.
Em Astoria, Queens, em uma manhã gelada de sexta-feira, um grupo de sete homens trabalhavam nas ruas com um caminhão aberto. Na 14ª rua, eles plantaram uma árvore zelkova, a última de uma fileira de cinco, na frente da casa em que John Verni vive há 43 anos.
"Quando me mudei para cá, não havia uma única árvore neste quarteirão, nada, nem uma".
Ali perto, na 26ª avenida, uma nova cova vazia para uma árvore já havia sido inaugurada com um pequeno cercado feito de bambu e madeira reutilizada, colocada pelos vizinhos antes da chegada da árvore.
A equipe de plantio ergueu uma espécie de bordo na cova, içando a copa, e escorou-a com estacas de madeira. Um homem com ar sonolento foi até a porta de casa com seu filho pequeno. "Gostamos da árvore", disse ele.
Tradutor: Eloise De Vylder
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