Blair Glencorse e Sujeev Shakya - TINYT
Hemanta Shrestha/EFEMulher tenta recuperar pertences dos escombros de sua casa em Changunarayan, próximo de Bhaktapur, no Nepal, destruída pelo terremoto que atingiu o país em 25 de abril, e deixou mais de 8.000 mortos"
Ke garne?" disse uma idosa para nós, com seu rosto cheio de lágrimas, enquanto visitávamos sua aldeia destruída pelo terremoto no distrito de Dhading, no Nepal, no mês passado: "O que fazer?" Com uma história de repetidas crises –-políticas, econômicas e naturais-– essa se tornou a forma nepalesa de dar de ombros e torcer pelo melhor.
Infelizmente, as pessoas estão esperando há muito tempo: antes mesmo dos
terremotos, o Nepal era um dos países mais pobres, corruptos e
desiguais do mundo. Agora, apesar da recente destruição e sofrimento, o
Nepal tem uma oportunidade real não apenas de reconstruir vidas
quebradas e infraestrutura em ruínas, mas também dar início ao processo
de criar uma sociedade nova, mais inclusiva e mais responsável.
Desde o final da guerra civil em 2006, os nepaleses descobriram ser impossível se unirem em torno de uma visão compartilhada para o país, com a incapacidade de se chegar a um acordo a respeito de uma nova Constituição levando a contínuas greves e violência. Mas o terremoto gerou um senso sem precedente de responsabilidade coletiva pelo futuro.
Os jovens nepaleses, em particular, demonstraram ser incrivelmente criativos, colaboradores e altruístas. A Casa Amarela e a Associação das Organizações Jovens do Nepal, por exemplo, mobilizaram milhares de voluntários para autofinanciar e distribuir ajuda até mesmo aos distritos mais remotos. Um engenheiro jovem chamado Bipin Gaire criou a Bhukampa, uma rede de mais de 350 engenheiros que está avaliando os prédios danificados gratuitamente.
Grupos organizados pela Nepal se Ergue estão monitorando as redes sociais para identificar falhas na resposta e envio de suprimentos, incluindo tendas e alimentos, para as áreas atingidas pelo desastre. Empreendedores sociais talentosos do Abari (o Instituto de Pesquisa do Adobe e Bambu, que reutiliza materiais tradicionais em práticas de construção contemporâneas) e da Iniciativa Climática do Himalaia (um grupo jovem que promove energia limpa) estão colaborando com os aldeões na construção de moradias leves e resistentes a terremoto, usando materiais locais. E a lista continua.
Os muros do status social ruíram à medida que aqueles com água, banheiros e eletricidade passaram a compartilhá-los com pessoas carentes; e novos relacionamentos estão surgindo por todas as linhas econômicas e de casta. Na comunidade de Dhapasi, por exemplo, nós vimos uma família brâmane deslocada compartilhando uma tenda e cozinhando com seus vizinhos dalit ("intocáveis"). Isso seria impensável no passado.
No distrito de Patan, próximo de Katmandu, um grupo de empreendedores da Smart Paani (uma empresa que projeta sistemas de gestão de água) adaptou seus sistemas de energia elétrica independentes da rede para criar um centro para carga de celulares e notebooks, que foi muito usado pelos pobres nos dias que se seguiram ao primeiro terremoto.
Isso não quer dizer que a sociedade nepalesa foi repentinamente transformada, mas há voluntariedade, espírito comunitário e consciência social que são novos e muito diferente do que havia antes. Isso pode ser explorado de formas positivas muito além do trabalho de ajuda humanitária pós-desastre.
O povo nepalês também está exigindo saber como a ajuda está sendo distribuída e como os fundos estão sendo gastos em seu nome. Organizações como Bibeksheel Nepali e Quake Relief Updates estão dando o tom ao publicar todas as suas doações e gastos online em tempo real. Sites estão surgindo para consolidar a informação sobre os esforços de ajuda, mapear chamadas por assistência e documentar os fluxos da ajuda que chega ao país.
Nas áreas rurais, onde eleições não são realizadas há quase duas décadas, as comunidades estão encontrando suas próprias formas de desenvolver prestação de contas. Na cidade de Sankhu, por exemplo, a 24 quilômetros a leste de Katmandu, nós descobrimos que os cidadãos formaram um Comitê de Ajuda Humanitária neutro para agir como baluarte contra a influência política e distribuir os suprimentos de ajuda de modo equânime.
O Grupo de Intervenções Locais e Laboratório de Prestação de Contas montou mesas de ajuda móveis para auxiliar as pessoas a resolverem problemas e assegurar a transparência dos esforços de ajuda na esfera local –-e centenas de jovens voluntários estão se inscrevendo para ajudar. Durante crises anteriores, como o massacre da família real em junho de 2001, era o governo do Nepal que ditava o fluxo de informação, o que impedia que os cidadãos questionassem aqueles no poder. Agora, as redes sociais estão permitindo aos nepaleses pressionar o governo por mais transparência –-e estamos vendo as autoridades responderem.
Desde 25 de abril, o dia do primeiro terremoto, o governo criou uma série de contas no Twitter, incluindo para o Fundo de Ajuda Humanitária do Primeiro-Ministro, Polícia Nacional e o Centro Nacional de Operações de Emergência. As autoridades perceberam que precisavam interagir com os cidadãos a respeito das questões que importavam e têm usado esses canais para consertar os problemas relacionados aos esforços de recuperação. O governo também está divulgando dados sobre todos os fundos de ajuda coletados e desembolsados por meio do Portal de Ajuda Humanitária ao Terremoto.
Em solo, nós esperamos que as autoridades locais sigam o exemplo da autoridade distrital de Dhading, que se comprometeu a divulgar boletins diários online sobre as atividades relacionadas ao terremoto, para que os cidadãos possam monitorar o progresso.
Com o passar do tempo, esse movimento em prol da transparência pode vir a se tornar normal e fornecer a base para uma autoria de políticas mais aberta e igual.
Por toda sua história recente –-do estabelecimento da democracia em 1990 à abolição da monarquia em 2008– as mudanças ocorreram de forma repentina no Nepal quando sua população assumiu a responsabilidade pelo seu próprio destino. Os terremotos recentes representam outra chance extraordinária para os nepaleses forjarem coletivamente um futuro baseado na unidade nacional, responsabilidade compartilhada e prestação de contas por parte dos que estão no poder. Eles precisam aproveitá-la.
Desde o final da guerra civil em 2006, os nepaleses descobriram ser impossível se unirem em torno de uma visão compartilhada para o país, com a incapacidade de se chegar a um acordo a respeito de uma nova Constituição levando a contínuas greves e violência. Mas o terremoto gerou um senso sem precedente de responsabilidade coletiva pelo futuro.
Os jovens nepaleses, em particular, demonstraram ser incrivelmente criativos, colaboradores e altruístas. A Casa Amarela e a Associação das Organizações Jovens do Nepal, por exemplo, mobilizaram milhares de voluntários para autofinanciar e distribuir ajuda até mesmo aos distritos mais remotos. Um engenheiro jovem chamado Bipin Gaire criou a Bhukampa, uma rede de mais de 350 engenheiros que está avaliando os prédios danificados gratuitamente.
Grupos organizados pela Nepal se Ergue estão monitorando as redes sociais para identificar falhas na resposta e envio de suprimentos, incluindo tendas e alimentos, para as áreas atingidas pelo desastre. Empreendedores sociais talentosos do Abari (o Instituto de Pesquisa do Adobe e Bambu, que reutiliza materiais tradicionais em práticas de construção contemporâneas) e da Iniciativa Climática do Himalaia (um grupo jovem que promove energia limpa) estão colaborando com os aldeões na construção de moradias leves e resistentes a terremoto, usando materiais locais. E a lista continua.
Os muros do status social ruíram à medida que aqueles com água, banheiros e eletricidade passaram a compartilhá-los com pessoas carentes; e novos relacionamentos estão surgindo por todas as linhas econômicas e de casta. Na comunidade de Dhapasi, por exemplo, nós vimos uma família brâmane deslocada compartilhando uma tenda e cozinhando com seus vizinhos dalit ("intocáveis"). Isso seria impensável no passado.
No distrito de Patan, próximo de Katmandu, um grupo de empreendedores da Smart Paani (uma empresa que projeta sistemas de gestão de água) adaptou seus sistemas de energia elétrica independentes da rede para criar um centro para carga de celulares e notebooks, que foi muito usado pelos pobres nos dias que se seguiram ao primeiro terremoto.
Isso não quer dizer que a sociedade nepalesa foi repentinamente transformada, mas há voluntariedade, espírito comunitário e consciência social que são novos e muito diferente do que havia antes. Isso pode ser explorado de formas positivas muito além do trabalho de ajuda humanitária pós-desastre.
O povo nepalês também está exigindo saber como a ajuda está sendo distribuída e como os fundos estão sendo gastos em seu nome. Organizações como Bibeksheel Nepali e Quake Relief Updates estão dando o tom ao publicar todas as suas doações e gastos online em tempo real. Sites estão surgindo para consolidar a informação sobre os esforços de ajuda, mapear chamadas por assistência e documentar os fluxos da ajuda que chega ao país.
Nas áreas rurais, onde eleições não são realizadas há quase duas décadas, as comunidades estão encontrando suas próprias formas de desenvolver prestação de contas. Na cidade de Sankhu, por exemplo, a 24 quilômetros a leste de Katmandu, nós descobrimos que os cidadãos formaram um Comitê de Ajuda Humanitária neutro para agir como baluarte contra a influência política e distribuir os suprimentos de ajuda de modo equânime.
O Grupo de Intervenções Locais e Laboratório de Prestação de Contas montou mesas de ajuda móveis para auxiliar as pessoas a resolverem problemas e assegurar a transparência dos esforços de ajuda na esfera local –-e centenas de jovens voluntários estão se inscrevendo para ajudar. Durante crises anteriores, como o massacre da família real em junho de 2001, era o governo do Nepal que ditava o fluxo de informação, o que impedia que os cidadãos questionassem aqueles no poder. Agora, as redes sociais estão permitindo aos nepaleses pressionar o governo por mais transparência –-e estamos vendo as autoridades responderem.
Desde 25 de abril, o dia do primeiro terremoto, o governo criou uma série de contas no Twitter, incluindo para o Fundo de Ajuda Humanitária do Primeiro-Ministro, Polícia Nacional e o Centro Nacional de Operações de Emergência. As autoridades perceberam que precisavam interagir com os cidadãos a respeito das questões que importavam e têm usado esses canais para consertar os problemas relacionados aos esforços de recuperação. O governo também está divulgando dados sobre todos os fundos de ajuda coletados e desembolsados por meio do Portal de Ajuda Humanitária ao Terremoto.
Em solo, nós esperamos que as autoridades locais sigam o exemplo da autoridade distrital de Dhading, que se comprometeu a divulgar boletins diários online sobre as atividades relacionadas ao terremoto, para que os cidadãos possam monitorar o progresso.
Com o passar do tempo, esse movimento em prol da transparência pode vir a se tornar normal e fornecer a base para uma autoria de políticas mais aberta e igual.
Por toda sua história recente –-do estabelecimento da democracia em 1990 à abolição da monarquia em 2008– as mudanças ocorreram de forma repentina no Nepal quando sua população assumiu a responsabilidade pelo seu próprio destino. Os terremotos recentes representam outra chance extraordinária para os nepaleses forjarem coletivamente um futuro baseado na unidade nacional, responsabilidade compartilhada e prestação de contas por parte dos que estão no poder. Eles precisam aproveitá-la.
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