domingo, 28 de junho de 2015

Terror exige ação de líderes religiosos e governos islâmicos
Mais do que ação militar e vigilância, o extremismo de grupos muçulmanos precisa ser combatido no campo ideológico e por meio da garantia de cidadania
O Globo
Três atentados quase simultâneos perpetrados por radicais muçulmanos voltaram a chocar a comunidade internacional ontem. Na praia de Sousse, um dos balneários turísticos mais populares da Tunísia, pelo menos 37 pessoas morreram e outras 36 ficaram feridas depois que homens abriram fogo contra turistas. Segundo o governo, entre os mortos estão britânicos, alemães e belgas. Na capital do Kuwait, o ataque de um homem-bomba à mesquita xiita al-Iman al-Sadeq, uma das maiores do país, deixou 25 mortos e mais de 200 feridos. A ação foi reivindicada por uma facção do Estado Islâmico (EI), grupo sunita. Na França, um homem foi decapitado e outras duas pessoas ficaram feridas em um ataque a uma usina química próxima a Lyon.
Os atentados mostram que a guerra santa no Oriente Médio não é apenas contra o Ocidente e seus valores seculares, mas igualmente entre facções muçulmanas. No mesmo dia dos ataques, um porta-voz do EI exortava os fieis a transformarem o Ramadã — o período sagrado de orações entre muçulmanos — numa “época de calamidade para os infiéis”, visando cristãos, xiitas e até mesmo sunitas que não compartilham a ideologia do Levante, defendida pelo grupo.
Chama a atenção, além da carnificina óbvia, a ressonância crescente da retórica jihadista de grupos como EI, especialmente sobre corações e mentes de jovens muçulmanos em todo o mundo. Os extremistas conseguem convencer inclusive segmentos de classe média bem estabelecidos em países europeus e nos EUA, que abandonam seus lares e familiares para se unir à frente de batalha ou praticar ações terroristas como os atentados da Maratona de Boston.
Como chamou a atenção o jornalista Rasheed Abou-Alsamh, em artigo no GLOBO, o canto da sereia do EI, disseminada de forma inteligente por redes sociais da internet, se baseia na promessa de criação um califado no Oriente Médio. Trata-se de uma espécie de utopia islâmica, com sociedades governadas por líderes devotados capazes de garantir segurança e acesso a serviços básicos, ao mesmo tempo em que se empenham em aniquilar os infiéis. No Iraque, por exemplo, o grupo cresceu no vazio deixado pelo governo. Em todas as cidades conquistadas em sua ofensiva militar, implementou infraestrutura de eletricidade e saneamento básico, antes inexistente ou precária.
Vigilância, ações militares e bombardeios têm se mostrado ineficazes para conter o radicalismo islâmico, quer sua expansão no Oriente Médio, quer a realização de atentados como os de ontem. Isto porque a batalha principal da guerra santa ocorre na esfera ideológica. Por isso, cabe ressaltar a imensa responsabilidade dos líderes religiosos muçulmanos na desconstrução da versão distorcida do Islã dos extremistas; bem como dos governos dos países islâmicos, para oferecer um mínimo de dignidade às suas populações.

Nenhum comentário: