Segurança da Rio-2016 não pode ser restrita
É coerente assegurar proteção integral à família olímpica, mas não se pode descuidar do resto da cidade. O Rio, em agosto, será uma vitrine para o mundo
O Globo
A decretação do estado de calamidade pelo governador fluminense em exercício, Francisco Dornelles, acendeu o sinal amarelo da engenharia de segurança pública para o Rio durante a Olimpíada. Essa medida, e mais as preocupantes ações de protesto da minoria ativista de agentes públicos das polícias civil e militar, juntamente com os bombeiros, bem como o virtual colapso em segmentos dos organismos policiais, são indicadores de que, a pouco mais de um mês dos Jogos, o Rio precisa reafirmar que está de fato preparado para enfrentar quaisquer ameaças.
Isso se aplica a questões rotineiras de segurança, mas também, e principalmente, a ameaças mais graves, como a eventual ação de grupos de terror. Em agosto e setembro, o Rio deverá receber em torno de 700 mil turistas, cem chefes de Estado e cerca de 12 mil atletas. É um contingente que merece a atenção sistemática de agentes e órgãos públicos, mas não só esse grupo. A população, em especial a que vive ou circulará nos centros olímpicos e seus entornos, num raio que se estende por praticamente toda a cidade, também precisa estar sob o anteparo dos organismos de Estado encarregados de evitar riscos à paz.
A destinação de R$ 2,9 bilhões ao governo fluminense, através de medida provisória assinada pelo presidente interino Michel Temer, nominadamente para “auxiliar nas despesas com a segurança pública do Estado do Rio de Janeiro decorrentes dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos”, é um fator de incremento na credibilidade do esquema oficial para a Rio-2016. Durante as competições, o Brasil — uma evidência de que o evento, embora restrito à cidade, está sendo tratado na ótica do interesse nacional — ativará o Centro Integrado Antiterrorismo e o Centro de Cooperação Policial Internacional, que mobilizarão 250 policiais de 55 países. Há ainda protocolos específicos para enfrentar ameaças do terror, programas de vistoria e contramedidas para detectar bombas, além de esquemas especiais de vigilância. É uma engenharia complexa.
Resta submeter essa parafernália ao teste objetivo da realidade. Aparentemente, a chamada família olímpica terá cuidados em tempo integral, mas o país não pode esquecer que, para além do circo das competições, há que assegurar a segurança de toda a sociedade. Os Jogos são, por natureza, uma vitrine do Rio para o mundo — portanto, um alvo em potencial para grupos terroristas que fazem de atentados um instrumento não só de disseminação do medo, mas também de propaganda.
Numa cidade que tem sido vítima de seus bandidos, mas que também sofre com as consequências do modo estanque como funcionam os órgãos de segurança do país — por exemplo, o controle fluido de fronteiras, estímulo ao contrabando de drogas e armas que entram no estado —, a tibieza com procedimentos básicos de defesa da sociedade precisa ser evitada.
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