Lava-Jato origina multinacional anticorrupção
Ministérios públicos de vários países se
reúnem em Brasília para tratar da criação de forças-tarefas
internacionais, algo essencial para coibir crimes contra o Erário
O Globo
Lançada em março de 2014, a força-tarefa da Lava-Jato é um
marco no combate à corrupção praticada em redes de conluio entre
políticos e partidos, agentes privados e públicos. Isso, mesmo que
persistam — e estejam até mais audaciosas — as escaramuças montadas no
Congresso contra a atuação conjunta de Justiça, Ministério Público
Federal, PF e Receita destinada a desbaratar um esquema de desvio de
dinheiro da Petrobras para o lulopetismo e aliados, mas que se ampliou
até chegar a outras estatais e quadrilhas associadas.
Não era imaginável que a operação de combate à lavagem de
dinheiro, iniciada a partir de um posto de gasolina de Brasília,
atingiria tal dimensão. Tampouco que a Lava-Jato abriria e ampliaria
canais de comunicação entre investigadores brasileiros e estrangeiros,
com o objetivo comum de desvendar o fluxo de dinheiro ilegal entre
empreiteiras brasileiras, executivos de estatais, Petrobras à frente, e
políticos.
Há pouco, num encontro coordenado pelo procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, estiveram em Brasília representantes dos
ministérios públicos de Argentina, Chile, Colômbia, Equador, México,
República Dominicana, Panamá, Peru e Portugal. Não por acaso, são países
em que a Odebrecht atua. Ou atuava.
Isso porque a globalização dos negócios leva à
internacionalização dos esquemas de desvio de dinheiro público. O que
teria de resultar, cedo ou tarde, também na interconexão dos organismos
nacionais de enfrentamento da corrupção. No campo de investigação da
Lava-Jato, encontram-se empreiteiras internacionalizadas — Odebrecht e
Andrade Gutierrez, as duas maiores —, com obras no exterior e vários
projetos de centenas de milhões de dólares apoiados pela diplomacia
comercial do lulopetismo. Tudo certo, menos as contrapartidas dadas a
políticos no poder — e não apenas no Brasil.
A proximidade entre ministérios públicos é essencial neste
embate. A reunião em Brasília foi para se avançar na integração entre as
forças-tarefa nacionais. Em artigo no GLOBO, o presidente da ONG
Transparência Internacional, José Carlos Ugaz, defendeu que, como
consequência dessa cooperação, surja uma espécie de força-tarefa
internacional com propósito específico de lançar a rede sobre corruptos,
onde estejam.
Na América Latina, uma das regiões daquela diplomacia nos
governos Lula e Dilma, este trabalho está em andamento, e não só no
Brasil. No Peru, a filial da Odebrecht sofreu um confisco de US$ 46
milhões, e o ex-presidente Alejandro Toledo está refugiado; mesmo na
Venezuela transcorrem investigações, e assim por diante. Há algum tempo
avança a colaboração com a Suíça, essencial quando se trata deste tipo
de operação, assim como a ajuda da Justiça americana.
Têm sido assinados tratados de colaboração internacional
para reprimir a corrupção, trabalho facilitado desde 2001, quando,
depois do 11 de setembro, os americanos entenderam que o sigilo bancário
favorecia o trânsito de dinheiro sujo pelo mundo para financiar o
terror. Começaram a cair os bastiões bancários como o suíço. É crucial
que esta integração mundial prospere.
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