Suruba para todos
Hélio Schwartsman - FSP
Até um relógio (de ponteiros) parado fica certo duas vezes por dia.
Isso significa que não é porque uma proposta de alteração legislativa em
matéria penal vem de réu ou investigado que ela necessariamente não
presta. A origem suspeita recomenda que se examine a sugestão com máximo
cuidado, para ver se não esconde uma pegadinha, mas não constitui em si
um argumento contra a medida.
Nesse cenário, penso que o senador Romero Jucá tem razão ao afirmar que um eventual fim do foro privilegiado precisaria valer para todas as autoridades, inclusive juízes e promotores, não só para políticos. A escolha das palavras
talvez tenha sido meio forte: "Se acabar o foro, é para todo mundo.
Suruba é suruba. Aí é todo mundo na suruba, não uma suruba selecionada",
declarou o senador ao jornal "O Estado de S. Paulo".
Já escrevi aqui que não vejo o foro privilegiado como um mal em si. Ao
menos em teoria, ele evita que autoridades sejam tanto beneficiadas como
prejudicadas por decisões politicamente motivadas proferidas por juiz
singular. Um bônus extra é que pendengas jurídicas envolvendo
representantes do poder público, também em teoria, se resolveriam mais
rapidamente, já que não haveria tantas oportunidades de recurso.
Na prática, porém, o sistema não está funcionando. O STF ou não quer ou
não tem capacidade operacional para processar as várias dezenas de ações
penais contra políticos que tramitam na casa, o que frequentemente
termina em prescrição.
Não há muita dúvida de que o sistema precisa ser revisto. Sugestões é o
que não falta. Elas vão da extinção do foro à sua restrição a ilícitos
ocorridos no exercício do mandato, passando pela criação de varas
criminais especializadas. Prefiro as mais simples (1 ou 3), mas é
fundamental que elas, republicanamente, valham para todas as
autoridades, não apenas para políticos que são circunstancialmente a
bola da vez.
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