A responsabilidade de Temer com as reformas
Sem avançar nas reformas estruturais,
principalmente a da Previdência e a tributária, este governo legará ao
próximo algo como uma moldura bonita, porém vazia
O Globo
Michel Temer perdeu uma preciosa chance política na última
segunda-feira, durante encontro com líderes da base parlamentar
governista, o primeiro desde que a Câmara dos Deputados reafirmou a
validade do seu mandato presidencial pelos próximos 14 meses. A reunião
foi sobre a agenda de mudanças essenciais à retomada da rota do
desenvolvimento.
Tinha o presidente a oportunidade de demonstrar liderança no processo
de negociações no Congresso. No entanto, acabou passando à sociedade
uma mensagem ambígua, nada entusiasmadora, em relação às possibilidades
de aprovação das reformas da Previdência Social e do sistema tributário.
Em resumo, disse que vai tentar, ressalvando que “se a sociedade” não
quiser, “paciência”. Em contraste, foi mais claro e objetivo na
“gratidão” aos que no Legislativo empenharam o próprio prestígio com o
eleitorado para formar a maioria que o preservou na Presidência da
República. “Quero deixar uma palavra de gratidão por tudo o que vocês
fizeram, não pelo governo, mas pelo Brasil”, disse. “O Legislativo não é
um apêndice do Executivo. É um órgão que trabalha junto com o Executivo
e governa junto. Estamos fazendo um governo conjugado, dando um exemplo
da força das nossas instituições.”
Temer,
de fato, não tem motivos para se queixar do Congresso. Hábil em
negociações nos bastidores, recebeu tudo o que pediu aos parlamentares
desde o afastamento de Dilma Rousseff, em maio do ano passado —
inclusive uma inédita retificação do próprio mandato, por duas vezes nos
últimos cinco meses.
Seria lícito supor que, na última etapa do mandato no Palácio do
Planalto, Temer se dedicasse integralmente ao acabamento de seu legado
reformista, emoldurado na aprovação de limites aos gastos públicos, a
reforma do ensino médio, as mudanças na legislação trabalhista e a
renegociação da dívida dos municípios. Sem avançar na agenda de reformas
estruturais na economia, principalmente na Previdência e no sistema
tributário, sabem o presidente e todos os parlamentares governistas,
este governo legará ao próximo algo similar a uma moldura bonita, porém
vazia, na parede.
Isso porque, sem reformas, restará a realidade impositiva do aumento
de tributos durante o próximo calendário eleitoral, com consequências
diretas, objetivas, sobre a taxa de juros referencial (Selic).
O efeito previsível disso tende a ser um novo adiamento na retomada
das atividades econômicas, depois de um ciclo de recessão sem
precedentes, no qual o Produto Interno Bruto recuou 8,6% durante 11
trimestres até 2016. É dever do presidente agir, rápido e com máxima
firmeza, para liderar o Congresso na aprovação dessas medidas vitais ao
país. É sua responsabilidade com a História.
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