quarta-feira, 8 de novembro de 2017

PF investiga se Cabral pediu dossiê contra Bretas, que teve nome pesquisado em delegacia
Inspetor da Polícia Civil procurou registros sobre o juiz no sistema da secretaria de Segurança 
O Globo
Atendendo a pedido de investigadores da força-tarefa da Lava-Jato no Rio, a Polícia Federal (PF) abriu investigação para apurar a produção de dossiês contra o juiz federal Marcelo Bretas e contra procuradores do Ministério Público Federal (MPF) no Rio. Há a suspeita de que o ex-governador Sérgio Cabral, preso desde 17 de novembro do ano passado por ordem de Bretas, esteja por trás dos movimentos, usando sua influência como ex-governador do estado.
Requisitada a prestar informações sobre o caso, a Secretaria de Segurança Pública do Rio informou em relatório à PF que um inspetor da 22ª DP, na Penha, fez pesquisas no sistema interno da Polícia Civil em busca de anotações criminais nos nomes de Bretas e de sua mulher, a também juíza Simone Bretas. As informações são da TV Globo, e as pesquisas ocorreram pelo menos em janeiro, maio e setembro de 2017, quando o ex-governador Sérgio Cabral já estava preso.
No último dia 1º, o colunista Ancelmo Gois, do GLOBO, havia noticiado que Bretas suspeitava estar sendo investigado, inclusive por policiais civis e militares do Rio e mesmo por membros do Ministério Público estadual.
Segundo a TV Globo, as informações sobre a produção de dossiês contra Bretas partiram inicialmente de uma denúncia feita de dentro da cadeia em Benfica onde está o ex-governador. A Secretaria de Segurança do Rio também já entregou à PF o nome de policiais que fizeram as buscas no sistema pelos nomes do juiz e de parentes seus.
Há três semanas, Bretas afirmou ter se sentido ameaçado por Cabral, quando, em depoimento num processo sobre lavagem de dinheiro, o peemedebista citou a empresa de sua família no Centro do Rio. O fato suscitou a determinação, por Bretas, da transferência de Cabral para um presídio federal, decisão que acabou sendo posteriormente derrubada pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
POLÍCIA CIVIL ABRE INVESTIGAÇÃO
Além da investigação da Polícia Federal, a Polícia Civil do Rio informou que sua corregedoria também investigará o envolvimento de servidores num possível dossiê contra Bretas a partir de consultas no sistema de inteligência da instituição. A chefia de Polícia diz em nota que "tem o maior interesse de apurar com rigor e celeridade a responsabilidade por eventuais ilicitos administrativas e/ou criminais para que os servidores envolvidos sejam penalizados na forma da lei" e que "está totalmente à disposição da Polícia Federal e do Ministério Público Federal para colaborar com as investigações referentes a este caso".
Nesta quarta-feira, Sérgio Cabral e Bretas estiveram novamente frente a frente, em novo depoimento do ex-governador, desta vez no processo, em que ele também é réu, que investiga esquema de corrupção na área de Saúde do governo estadual do Rio. Além de Cabral, o ex-secretário Sérgio Côrtes e o empresário Miguel Iskin, acusado de ser o corruptor do esquema, também prestarão depoimento ao juiz Marcelo Bretas.
Pouco antes da audiência, o juiz Marcelo Bretas fez um breve comentário sobre a investigação que apura se Cabral bancou a produção de dossiês contra o magistrado:
— Se é que existe (a investigação), eu não estou cuidando disso nem vou cuidar. Não tem o que falar — afirmou o juiz Marcelo Bretas, se dirigindo à imprensa.
Mais cedo, durante o depoimento do ex-subsecretário de Saúde César Romero, Bretas ironizou a polêmica sobre a suposta ameaça do ex-governador Sérgio Cabral. Romero contou que certa vez o ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes recebeu um jaleco com uma gravata amarrada no pescoço, como forma de ameaça. Foi quando o juiz disse:
— Ah, mas isso não é ameaça. Ameaça tem que vir por escrito e com firma reconhecida do cartório.
OUTRO LADO
A defesa de Sérgio Cabral afirmou que a acusação de que o peemedebista esteja pagando para produzir dossiê contra o juiz é "uma mentira", uma "maldade sádica", que tem a intenção de criar intriga e o objetivo de determinar novamente uma transferência para um presídio federal, o que já foi negado por um ministro do STF.

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