Temer sugere que Fachin paralise investigação de Cunha, Alves, Geddel e Rocha Loures
Presidente questionou envio de parte do inquérito para Sergio Moro
André de Souza - O Globo
Em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a defesa do presidente Michel Temer se manifestou contrária a decisão tomada pelo ministro Edson Fachin, na semana passada, de mandar parte do inquérito em que Temer foi denunciado para a Justiça Federal.
Na prática, caso o pedido do presidente seja aceito, isso significa
paralisar o processo contra alguns investigados, como os ex-presidentes
da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Henrique Alves (PMDB-RN), o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e o ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). Isso ocorreria enquanto Temer continuar no cargo de presidente, impedindo ainda que o juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato na primeira instância, toque o processo.
Temer não será investigado pelo STF enquanto estiver na Presidência
da República, uma vez que a Câmara não autorizou o prosseguimento da
denúncia feita pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot em
setembro. Mas, graças à decisão de Fachin, outras pessoas terão seus
casos analisados pelos juízes federais Sérgio Moro, de Curitiba, e
Vallisney de Souza Oliveira, de Brasília. Os advogados de Temer avaliam
que o melhor é manter todo o processo unido - e parado - no STF.
Um dos argumentos da defesa é de que, no caso do delito de
organização criminosa, quem teve o processo enviado para a primeira
instância poderá se defender. E, embora a investigação não tenha mais
Temer como alvo, poderá resvalar nele, uma vez que trata de fatos
conexos. A defesa diz ainda que a denúncia de Janot, apontando o
presidente como líder da organização, é absurda.
"Ora,
permitir que tal imputação tenha sequência em relação a alguns dos
denunciados, e permaneça suspensa em relação a outros (dentre os quais,
no dizer da absurda inicial acusatória, aquele que seria o líder da
cerebrina organização criminosa), implica aceitar o risco de que, sem
que estes últimos possam defender-se na eventual instrução criminal que
venha a ser realizada, o julgamento dos fatos poderá atingir,
irreversivelmente, aqueles que não puderam participar da colheita da
prova, com prejuízo evidente a eles!", argumentaram os advogados Eduardo
Pizarro Carnelós e Roberto Soares Garcia.
"E
mesmo sem que haja julgamento, a própria produção probatória poderá
constituir irreparável prejuízo àqueles que dela não tenham podido
participar, porque a acusação contra eles permanecerá suspensa",
concluem.
Temer também foi denunciado por obstrução de justiça, crime que pode
ser cometido por apenas uma pessoa. Mesmo assim, a defesa argumenta que
"é inegável que as circunstâncias levam a uma inafastável conexão
probatória, e igualmente nesse caso há o consistente e perigosíssimo
risco de ocorrer colheita de prova sem a participação daqueles que, no
futuro, poderão vir a ser atingidos por ela".
Por fim, os advogados dizem não se insurgir contra a decisão de
Fachin que mandou parte do inquérito para Moro e Vallisney, mas afirmam
formular essas considerações para que o ministro, "se assim entender",
reconsidere o despacho anterior.
Pela decisão de Fachin, tomada na semana passada, ficará com Moro a
parte do inquérito que diz respeito a Cunha, Alves, Geddel e Rocha
Loures. Os quatro foram denunciados por Janot, acusados de integrarem
uma organização criminosa que desviou dinheiro público. As investigações
contra Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira
Franco (Secretaria-Geral da Presidência da República) continuam
paralisadas, conforme decisão tomada pela Câmara dos Deputados.
Fachin também determinou o envio para o juiz Vallisney da parte do
inquérito que trata da acusação de obstrução de justiça contra Cunha,
Rocha Loures, o empresário Joesley Batista, o executivo da JBS Ricardo
Saud, e Lúcio Bolonha Funaro, apontado como operador de políticos do
PMDB, além de sua irmã, Roberta Funaro Yoshimoto.
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