A 'mediação' de Lula
O Estado de S.Paulo
É de autoria do deputado peemedebista gaúcho Osmar Terra
a síntese perfeita do que o PMDB entende ser a sua serventia última
para o projeto do segundo mandato da presidente petista Dilma Rousseff.
"Somos só 6 minutos de propaganda eleitoral para eles", escreveu no
Twitter. "Nada mais!" No entanto, vista a questão pelo ângulo da
política como a capacidade de agregar interesses e construir maiorias,
tem mais, sim.
As ambições hegemônicas do PT, agigantadas sob Dilma, e os métodos
rombudos a que a sigla recorre desde sempre para satisfazê-las impedem
que ceda ao aliado à beira de um ataque de nervos pelo menos um pouco do
que ele quer pelos minutos de que dispõe. Os petistas, que tanto
reverenciam o saber do povo, ignoram uma velha receita popular adequada
às circunstâncias: "Não é com vinagre que se pegam moscas, mas com
açúcar". No caso, com o doce sabor da ocupação de mais um Ministério
aqui, outro acolá, e o rearranjo nas coligações eleitorais nos Estados.
Ao demonstrar inflexibilidade, a presidente e a direção do PT decerto
partem da premissa de que o PMDB do vice Michel Temer pode falar o
quanto queira em largar a base aliada no Congresso e a empreitada da
reeleição, mas não tem para onde ir. Com o segundo mandato praticamente
assegurado, quem sabe até no primeiro turno - hão de raciocinar
olimpicamente -, e a visceral inaptidão peemedebista para fazer oposição
seja lá a que governo, a sua sina seria exorcizar com queixas
inconsequentes as mágoas da condição de sócio menor a que se sente
relegado. Ao fim e ao cabo, pode ser isso mesmo. Mas pode também ser um
autoengano, fruto da incurável soberba petista.
Nada, nada, o PMDB criou na Câmara um "blocão" de oito bancadas, uma
delas, a do Solidariedade, pescada na oposição. Os seus 250 deputados
representam perto da metade dos 513 membros da Casa. O blocão se propõe a
assustar o Planalto com a perspectiva de levar à votação propostas
perdulárias que sabotariam o programa de contenção de gastos anunciado
pela Fazenda, a menos que o governo sacie os apetites do condutor do
"cordão dos chantagistas", como se qualificou neste espaço (em 26/2) a
nova frente dita independente.
O cordão ainda não apareceu na avenida, mas a situação está ficando
"insustentável", no dizer do presidente em exercício do partido, Waldir
Raupp, para quem a crise está chegando ao Senado que ele integra. E
Raupp é dos que se opõem a uma ruptura com o PT. Foi nesse clima de
Quarta-Feira de Cinzas que desembarcou nesse dia em Brasília o
ex-presidente Lula para se reunir no Alvorada com a sucessora e o alto
comando de sua campanha. No PMDB, onde deixou saudade, ele é visto como o
mediador por excelência do confronto com Dilma, a quem vive
recomendando ter mais jogo de cintura.
Resta saber - e não é pouco - o que significa isso na prática. Uma
das principais demandas peemedebistas, por exemplo, é receber o
suculento Ministério da Integração Regional, que ficou vago com a saída
do pernambucano Fernando Bezerra Coelho, do PSB, quando o partido rompeu
com o governo. O PMDB quer que a Pasta seja entregue ao senador
paraibano Vital do Rêgo. Dilma insiste em oferecer a cadeira ao cearense
Eunício Oliveira - só para tirá-lo da corrida pelo governo estadual,
como querem os irmãos Cid e Ciro Gomes, que deixaram o PSB para ficar
com o governo.
É, de fato, o que parece: um cabo de guerra fisiológico pelo poder, à
revelia das populações que mais dependem do governo federal. Não é
diferente quando os peemedebistas reclamam de ter apenas 5 Ministérios,
ante os 17 do PT. Tampouco é diferente quando o PMDB o acusa de
escanteá-lo nas disputas estaduais. Desde a virada do ano, caíram de 16
para 5 as possíveis coligações entre as duas legendas. A principal meta
petista, além de tomar do PMDB o governo do Rio de Janeiro, com a
candidatura do senador Lindbergh Farias, é ampliar a distância entre a
sua majoritária bancada na Câmara e a do aliado nominal.
Tais são os limites impostos pela correlação de forças em Brasília à
"mediação" que os peemedebistas esperam de Lula: ele pode aconselhar ou
até pressionar Dilma, mas o seu compromisso de raiz é com ela.
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