Altos e baixos na segurança
O Estado de S.Paulo
As últimas estatísticas sobre criminalidade em São Paulo
- capital e interior - divulgadas pela Secretaria da Segurança Pública
trazem boas e más notícias, e estas últimas são suficientemente
importantes para acender um sinal de alerta. Os homicídios registraram
mais uma queda em fevereiro, em comparação com o mesmo período do ano
passado, confirmando tendência de redução consistente nos últimos meses,
interrompida apenas por uma ligeira alta em janeiro. Com os roubos
aconteceu o contrário, com a agravante de que neste caso o aumento foi
muito mais forte do que a redução naquele.
Com redução de 3,4%, a capital registrou o menor índice de homicídios
para fevereiro, desde 2001, o que constitui um avanço significativo. No
Estado ela foi bem maior, de 11,3%. Outro dado importante refere-se aos
latrocínios, um dos crimes mais violentos e temidos pela população,
cujos aumentos, por isso mesmo, vinham criando forte inquietação. Embora
seja necessário que os resultados positivos se repitam para confirmar
uma tendência, é animador constatar que esse tipo de crime sofreu uma
queda na capital, de 13,3% (de 15 para 13 casos). No Estado, o índice
ficou estável, com 33 casos nos meses de fevereiro deste ano e do ano
passado.
O lado ruim das estatísticas é o dos crimes contra o patrimônio. Os
roubos - nos quais não estão incluídos os de carros - aumentaram 47,5%
na capital e 37,2% no Estado. Em números absolutos, foram 13.166 casos
na capital, média de 470 por dia, e 25.274 (902 por dia) no Estado. Tão
ou mais grave que esses índices elevados é o fato de fevereiro ter sido o
nono mês consecutivo de aumento do número de roubos, o que indica uma
tendência e não fatos isolados.
Uma das explicações para isso, segundo o secretário de Segurança,
Fernando Grella Vieira, foi a liberação, desde dezembro, do registro de
ocorrências pela internet. Isto teria inflado as estatísticas, pois
muitas pessoas que não denunciavam principalmente pequenos roubos, por
falta de tempo para enfrentar a burocracia dos Distritos Policiais,
passaram a fazê-lo pela chamada "delegacia eletrônica", de acesso muito
mais fácil e rápido.
Ele próprio reconhece, contudo, que isso não basta para explicar o
aumento de roubos daquela dimensão, e que existem de fato elementos que
indicam estarmos diante de uma tendência. Um trabalho feito pela
Coordenadoria de Análise e Planejamento da Secretaria mostra que, mesmo
desconsiderando a influência da "delegacia eletrônica" nas estatísticas,
o aumento do número de roubos no Estado foi de 27%, grande o suficiente
para justificar preocupação. De fato, os boletins de ocorrência feitos
pela internet em fevereiro não foram além de 39% do total.
É de esperar que essa atitude sensata e realista do secretário, que o
leva a não buscar desculpas para o aumento do índice de roubos,
facilite a adoção das providências que se impõem para reverter esse
quadro negativo. Ele promete tomar medidas nesse sentido nos próximos
meses. O ponto principal delas é aumentar a capacidade de investigação
da polícia, por meio principalmente da contratação de agentes.
Essa grave deficiência do aparelho policial explica por que, como
admite o secretário, somente cerca de 2% dos casos de roubo em todo o
Estado são esclarecidos e seus autores presos. É uma porcentagem
ridícula, que expressa uma impunidade de fato, em grande escala, e
funciona como um forte incentivo ao crime.
Deverão também ser feitos ajustes no programa de concessão de bônus e
fixação de metas para a polícia, que dependem de aprovação da
Assembleia Legislativa. Por ele, policiais poderão receber bônus de até
R$ 2 mil, se os roubos ficarem estabilizados nos níveis do primeiro
trimestre do ano passado e os homicídios e latrocínios caírem 7% em
relação ao mesmo período. No caso desses dois últimos crimes, a meta
poderá ser atingida. Já no dos roubos, é quase impossível que isso
aconteça. A revisão das metas se impõe, portanto, para evitar que,
tornadas irrealistas, elas acabem prejudicando o desempenho dos
policiais.
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