O nome da crise
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
Dizem que o impossível acontece. Nem sempre, porém. Na
política, por exemplo, a perspectiva da perda do poder é um limite
intransponível. Cria uma impossibilidade.
Na essência disso é que está o nó dessa crise entre PT e PMDB, muito
mais difícil de desatar do que fazem crer os desenhistas de cenários
onde de um lado se põe a presidente Dilma Rousseff resistindo e de outro
o partido do vice-presidente Michel Temer insistindo em ocupar mais
cargos na administração federal.
Fosse assim tão simples ela já teria resolvido. Com a mesma falta de
cerimônia com que fechou os olhos para as denúncias que se acumulam em
relação à turma do ex-ministro Carlos Lupi na pasta do Trabalho, em
troca dos minutos do PDT no horário eleitoral.
Não se trata de entregar este ou aquele ministério ao PMDB, de isolar
o líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha, ou de conseguir que o
ex-presidente Luiz Inácio da Silva passe uma boa conversa nos parceiros
de aliança.
O buraco está literalmente mais embaixo, nos Estados. A raiz das
desavenças é a partilha do poder real, vale dizer aquele resultante das
urnas. Sem perspectiva (nem projeto) de candidatura presidencial, o PMDB
vive de eleger boas bancadas para o Congresso.
Para isso, precisa se sair bem nas eleições estaduais ou se
enfraquece. O PT ao mesmo tempo quer se fortalecer, tornar-se
hegemônico, ficar cada vez mais independente do parceiro e tirá-lo desse
lugar privilegiado no Parlamento, onde hoje preside as duas Casas.
Nessa altura um ministério a mais ou a menos não resolve o problema.
Em relação a Eduardo Cunha, o Palácio do Planalto deveria saber muito
bem que não é exceção à regra. Só chegou a líder e foi reconduzido ao
cargo porque teve apoio da bancada na Câmara e da direção do partido. Ou
seja, ele não é causa, é consequência.
Quanto a Lula, objetivamente é restrita sua margem para manobras.
Pelo simples motivo de que não é um árbitro isento. Ele tem lado, o
projeto dele é o do PT, de Dilma.
Como pedir a seu partido que abra mão da disputa do poder em prol do
parceiro? Ao mesmo tempo, como não reconhecer o direito do PMDB de
almejar os mesmos espaços?
Exemplo didático é o do Rio de Janeiro. Amigo e aliado do governador
Sérgio Cabral, nem por isso Lula teve como fazer (nem razão para tal) o
PT desistir da candidatura própria ao governo do Estado. Seria convidar o
partido à inanição do segundo maior colégio eleitoral. Assim será País
afora. Ambos com suas razões, cada um com seu cada qual.
Pé atrás. O PSDB está pesando os prós e os contras
de se juntar ao arrastão liderado pelo PMDB para tentar derrotar o
governo em duas questões: o Marco Civil da Internet e a criação de uma
comissão para investigar, na Holanda, denúncias de corrupção na
Petrobrás. Segundo o deputado tucano Duarte Nogueira, o receio é que, no
fim das contas, os pemedebistas se acertem com o Palácio do Planalto e
deixem a oposição falando sozinha.
Pirão primeiro. O governo reviu os valores pagos aos
médicos cubanos e aumentou em 90% o repasse destinado a eles. A ideia
não é resolver o problema dos profissionais, mas evitar danos à bandeira
eleitoral do programa Mais Médicos.
Se a preocupação fosse com as condições trabalhistas e o custo de
vida dos cubanos que recebiam algo em torno de R$ 1 mil por mês no
Brasil, os contratos não teriam sido firmados nos termos originais.
Mesmo com o aumento, os médicos exportados pelos irmãos Castro
continuarão recebendo cerca de 30% do que ganham os colegas de outras
nacionalidades, cujos governos não cobram pelo aluguel dos serviços nem
cerceiam o direito de ir e vir de seus cidadãos em solo estrangeiro
(onde são aceitas as regras da ditadura) enquanto "em casa" mantém suas
famílias como reféns.
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