Reinaldo Azevedo - VEJA
A história que vocês vão ler é do balacobaco. Volto depois.
Por Gabriel Castro, na VEJA.com:
Desde julho do ano passado, o pedreiro
Amarildo Dias de Souza é o símbolo máximo da luta contra a ação de maus
policiais no Rio de Janeiro. O “Cadê o Amarildo?” foi usado tanto para
cobrar providências como para embalar a série de manifestações contra o
governador Sérgio Cabral. O corpo do homem de 43 anos que, para o
Ministério Público, foi torturado e morto por PMs de uma Unidade de
Polícia Pacificadora (UPP), nunca foi encontrado. A família do pedreiro
passou a viver, depois de seu desaparecimento, num quadro agravado da
pobreza na qual já se encontrava. Uma bem intencionada campanha
conclamou artistas, intelectuais e doadores a contribuir com a viúva e
os seis filhos do pedreiro. O “Somos Todos Amarildo” deu resultado.
Comandado pela empresária e produtora Paula Lavigne, o projeto arrecadou
310.000 reais em dois eventos: um leilão de arte e objetos de famosos e
um show no Circo Voador, com participação de Caetano Veloso e Marisa
Monte. A família do pedreiro, no entanto, ficou com a menor parte: com a
compra de uma casa e de mobília, foram gastos, respectivamente, 50.000 e
10.000 reais. O restante do dinheiro – 250.000 reais – ficou com o
Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (DDH), ONG que se tornou
notória por defender black blocs e tem, entre seus diretores, um
assessor do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), o advogado Thiago
de Souza Melo.
Um dos
organizadores do evento, que pede para não ser identificado, afirmou ao
site de VEJA que, desde o início, a família sabia que não ficaria com o
montante total do dinheiro – apesar de o uso do nome do pedreiro dar a
entender que o valor seria destinado a ela. Mas foi informada, na
ocasião, que ficaria com metade – o que, nos valores de fato
arrecadados, corresponderia a 125.000 reais. “Soubemos na época que
ficaríamos com metade. Como recebemos 60.000, eu pensava que o total era
de 120.000”, diz Anderson Dias, de 21 anos, o primogênito, que
administra, com a mãe, Elizabeth, as contas da família.
Moram na
casa, além dos dois, os filhos Amarildo, de 18 anos; Beatriz, 13;
Alisson, 10; e Milena, 6. Todos em uma casa de dois quartos, sala,
cozinha e banheiro. Só um dos filhos de Amarildo – Emerson, de 20 anos –
não vive no imóvel. A área de serviço – que não tem janela – está sendo
adaptada para servir como dormitório. Segundo Anderson, a casa que a
família recebeu é uma construção antiga, com defeitos na rede elétrica e
na parte hidráulica. Devido aos problemas encontrados, os filhos
procuraram o advogado João Tancredo, presidente do DDH, para saber sobre
a possibilidade de uma reforma. “Fiz um orçamento no valor de 45.000
reais. Mas Tancredo me disse que não tinha mais dinheiro”, afirma.
Os 10.000
reais que a família recebeu para comprar os móveis para a casa também
não foram suficientes. Elizabeth não conseguiu comprar mesa, cadeiras e
fogão. “Fiz uma lista com o que era indispensável, mas tive que cortar
muita coisa. Não deu nem para comprar o fogão. Pedi a minha cunhada para
usar o cartão dela e vou pagando aos poucos”, conta Elizabeth. “Não
tive coragem de pedir mais dinheiro, porque achei que a outra parte
seria destinada a outras pessoas pobres. Mas vou conversar sobre isso
com o advogado”.
O
presidente do DDH afirma que o acordo previa o repasse para a entidade
de aproximadamente 250.000 reais obtidos com o leilão e o show.
“Inicialmente, o projeto se resumiria a arrecadar fundos para a
aquisição de uma casa em condições adequadas para a família de Amarildo.
Mas logo se viu que seu desaparecimento não era um caso isolado”,
explicou Tancredo, por e-mail, ao site de VEJA. Segundo ele, os recursos
serão aplicados em um “projeto ainda indefinido”. As opções aventadas
pela ONG envolvem o custeio de uma pesquisa para traçar o perfil dos
desaparecidos, um serviço de atendimento de familiares de desaparecidos,
o acompanhamento jurídico de casos do tipo ou a formação de uma rede
para debater o tema. É dificil acreditar que quem contribuiu com o
“Somos Todos Amarildo” desejava que seu dinheiro tivesse esse destino
incerto. O cheiro de oportunismo é fortíssimo.
Voltei
Fatos e considerações que podem colaborar para você formar um juízo a respeito do assunto.
1:
O tal DDH, que ficou com 69% da grana, é comandado por dois assessores
do deputado Marcelo Freixo e atua em “causas” abraçadas pelo PSOL;
2:
Freixo, claro!, diz não ter interferência nenhuma no DDH. João
Tancredo, presidente da ONG, doou nada menos de R$ 260 mil para a
campanha do deputado à Prefeitura, em 2012: R$ 200 mil como pessoa
física e R$ 60 mil em nome de sua empresa — um escritório de advocacia.
Coerente e eticamente, como é de seu feitio, o PSOL está em campanha
contra a doação de empresas. Entendo.
3:
O dinheiro arrecadado pela campanha, como se nota, permitiria que se
comprasse uma casa melhorzinha para a família de Amarildo. Bobagem! Para
pobre, está bom demais, não é mesmo? O socialismo, afinal, tem
prioridades mais ambiciosas.
4:
Espetacular a resposta do tal advogado. Os R$ 250 mil serão usados em
projetos “ainda indefinidos”. Ah, bom! O que é um projeto indefinido
quando confrontado com as necessidades da família de Amarildo?
5:
No fim da contas, havia muita gente nessa história que não estava dando
a menor pelota para Amarildo. Ele era apenas um pretexto. E, como se
percebe, virou também uma boa fonte de arrecadação de recursos.
6: É a cara dos comunas fazer um troço como esse. As pessoas que se danem! O que interessa é a “causa”.
7:
Noto, finalmente, que nada disso me surpreende. Mas, mesmo assim, é
moralmente chocante. Ademais, a corretagem, se assim se pode chamar, do
DDH é uma das mais altas do mercado, não é? 69%!!! Escandaliza o regime
capitalista! Isso costuma ser taxa de agiota.
8: Cadê o dinheiro do Amarildo?
9:
Os que doaram têm todo o direito, acho eu, de exigir seu dinheiro de
volta. A Justiça teria de decidir se é estelionato. O mecanismo é
rigorosamente o mesmo.
.
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