Lugares comuns que substituem o raciocínio crítico
Thomas Sowell - IMB
Se
algum dia criarem um concurso para aquelas palavras que se passam por
pensamento profundo e crítico, "diversidade" e "pluralidade" facilmente iriam
para a final e teriam um embate duríssimo.
A
beleza destas duas palavras mágicas e encantadoras é que você não
necessita de
nenhuma nódoa de evidência empírica e nem de nenhum processo de
encadeamento lógico para recitar rapsódias sobre os supostos benefícios
da diversidade e do
pluralismo. A própria ideia de querer
testar estes belos termos em relação a algo tão feio quanto a realidade é
em si
vista como um ato sórdido.
Diversidade
e pluralidade são termos que, justamente por englobarem de tudo, dispensam seus
promovedores de explicar especificamente o que defendem. Há diversidade e pluralidade de gênero, de
cor, de preferências sexuais, de renda, de inteligência, de etnia etc. Sendo assim, perguntar se aquelas instituições
que promovem a diversidade 24 horas por dia e sete dias por semanas apresentam
melhores resultados do que as instituições que não dão a mínima para estes
"pré-requisitos" fará apenas com que você seja visto como um reacionário
insensível, malicioso, racista, misógino e homofóbico.
Citar
evidências empíricas que mostram que aquelas localidades obcecadas com
pluralidade e diversidade geram relações ruins entre as pessoas forçadas a
conviver sob o mesmo ambiente é se arriscar a ser rotulado e
marginalizado. O livre pensamento e a liberdade
de expressão não são livres.
A
moda agora ao redor do mundo é afirmar que os governos devem promover a
diversidade e a pluralidade — o que na prática significa que alguns grupos
organizados têm mais direitos do que outros, o que por sua vez significa a
abolição da ideia de "igualdade perante a lei".
Neste
cenário, algumas perguntas se fazem necessárias. Como é possível que um país racialmente
homogêneo como o Japão consiga apresentar uma educação de alta qualidade sem
ter de recorrer ao essencial ingrediente da diversidade e do pluralismo, uma
necessidade "premente" segundo os sociólogos da atualidade?
Inversamente,
por que a Índia, uma das mais plurais e diversas nações da terra, apresenta um
histórico de intolerância e de violência letal entre seus diversos grupos de
pessoas pior do que aquele observado no sul dos EUA durante a vigência da
segregação racial?
O
simples ato de fazer tais perguntas já é garantia de ser acusado de recorrer a
táticas desonestas e de possuir motivações torpes demais para serem
dignificadas com uma resposta. Não que
os genuínos defensores da pluralidade tenham alguma resposta, é claro.
Dentre
os candidatos que disputam a segunda colocação no torneio dos lugares comuns
que tornam o pensamento algo obsoleto está o termo "socialmente excluído" e
todas as suas variáveis.
Pessoas
que não se encaixam nos pré-requisitos básicos exigidos por determinados
objetivos e funções, desde admissão em uma universidade a um empréstimo
bancário, passando por empregos em cargos que exigem diversas habilidades, são
tidas como pessoas socialmente excluídas cuja ascensão social lhes foi "negada
pela sociedade". Donde surgem as
desculpas de que tais pessoas estão moralmente eximidas de seguirem uma vida
pautada pelas mesmas regras aplicáveis ao restante da população — como, por
exemplo, não recorrerem à criminalidade.
Tanto
o 'pluralismo' quanto a 'exclusão social' devem ser corrigidos por políticas
públicas, como por exemplo as cotas.
Segundo os teóricos, tais políticas equalizariam as "oportunidades de
acesso". O problema é que os defensores
dessa tese sempre refugam quando instados a explicar por que uma igual
oportunidade de acesso seria sinônimo de igual probabilidade de sucesso.
Há
um exemplo interessante disso na própria política. Peguemos um estado americano conhecido
mundialmente: a Califórnia. Trata-se de
um estado majoritariamente progressista.
Neste estado, eleitores conservadores e eleitores progressistas têm
exatamente a mesma oportunidade de votar.
No entanto, as chances de um candidato conservador ser eleito na Califórnia
são muito menores do que as chances de um candidato progressista. Será que os progressistas defenderiam cotas e
uma lei de "igual oportunidade de acesso" para políticos conservadores na
Califórnia?
Similarmente,
todas as pessoas podem tentar adentrar uma universidade, pedir um empréstimo
bancário ou disputar um determinado emprego.
Se todas essas solicitações forem julgadas pelos mesmos critérios, então
todos tiveram uma igual oportunidade de acesso.
Se aquele sujeito com pouquíssimas qualificações intelectuais não
conseguiu o emprego na multinacional ou o ingresso em uma universidade, ou se
um sujeito de histórico creditício duvidoso não conseguiu o empréstimo
bancário, isso não significa que lhe foi negada a mesma oportunidade de
acesso. Simplesmente nunca houve uma
igual probabilidade de sucesso.
A
'diversidade' e a 'exclusão social' geram um terceiro lugar comum:
'redistribuição de renda' — ou, sua variável próxima, 'justiça social'.
Aparentemente,
todas as pessoas têm direito a receber uma "fatia justa" da prosperidade da
sociedade, não importa se elas trabalharam 16 horas por dia para ajudar a criar
essa prosperidade ou se não fizeram nada mais do que viver na mendicância ou
recorrer ao crime. No final, tudo indica
que devemos alguma coisa a estas pessoas pelo simples fato de elas nos
agraciarem com sua existência. Tudo
indica que elas "têm o direito" de viver à custa dos pagadores de impostos,
mesmo que sintamos que poderíamos viver muito bem sem elas.
No
outro extremo da escala da renda, os ricos supostamente devem pagar sua "fatia
justa" em altos impostos. Mas para
nenhum dos dois extremos da escala da renda há uma definição concreta do que é
uma "fatia justa". Há um determinado
número ou uma proporção exata? Nunca se
soube. 'Justiça social' e
'redistribuição de renda' são apenas sinônimos políticos para "mais poder
arbitrário para o governo", cuidadosamente adornado por uma retórica
sonoramente moralista.
A
intelligentsia vem há décadas promovendo a ideia de que não deve haver nenhum
estigma em se aceitar auxílios do governo.
Viver à custa dos pagadores de impostos é retratado como um "direito",
ou, mais ponderadamente, como parte de um "contrato social".
É
claro que você não se lembra de ter assinado qualquer contrato desse tipo, mas
tal lugar comum soa poético e pomposo.
Ademais, e isso é o que interessa, ele rende muitos votos entre os
ingênuos, e este é exatamente o objetivo de políticos que defendem
assistencialismo.
Por
fim, "acessível" é outro termo popular que substitui toda e qualquer
necessidade de pensamento crítico. Dizer
que todo mundo tem direito a "moradia acessível" é bem diferente de dizer que
todo e qualquer indivíduo deve poder decidir qual tipo de casa quer ter.
Programas
governamentais que distribuem "moradias a preços acessíveis" nada mais são do
que programas que dão a algumas pessoas o poder de não apenas decidir qual
imóvel elas querem ter como também o de obrigar outras pessoas — os pagadores
de impostos, os donos dos imóveis etc. — a absorver uma fatia do custo desta
decisão, uma decisão da qual elas nunca foram convidadas a participar.
E,
ainda assim, a crença de que pessoas que preferem que as decisões econômicas
sejam feitas voluntariamente por indivíduos no mercado não são tão compassivas
quanto aquelas pessoas que preferem que tais decisões sejam tomadas
coletivamente por políticos nunca é vista como uma crença que deveria ser
comprovada por fatos.
Mas,
por outro lado, isso não é algo recente.
A crença na compaixão superior dos políticos é um fenômeno mundial que
data ainda do século XVIII. E, em todas
as épocas e em todos os locais, nunca houve nenhum esforço genuíno dos
progressistas para verificarem se esta pressuposição crucial é sustentada por
fatos.
A
realidade econômica, no entanto, é que o governo fazer, por meio de
decretos, com que várias coisas sejam mais "acessíveis" de modo algum
aumenta a quantidade de
riqueza na sociedade. Colocar o governo
para redistribuir propriedade e determinar seu "valor justo" não faz com
que a
sociedade seja mais rica do que seria caso os preços dos imóveis fossem
"proibitivos". Ao contrário: tais
políticas, que nada mais são do que controles de preços e redistribuição
de
propriedade, reduzem os incentivos para se produzir.
Nada
do que aqui foi dito é uma ciência obscura e inacessível. Porém, se você é do tipo que jamais se põe a
pensar criticamente e se contenta com a mera repetição de lugares comuns, então não
importa se você é um gênio ou um deficiente mental. Palavras fáceis que impedem as pessoas de
pensar criticamente reduzem até mesmo o mais reconhecido gênio ao nível de um completo
idiota.
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