sábado, 29 de março de 2014

Lula impõe “Berzoiniev” a Dilma; Mercadante perde o que nunca teve: influência. O homem dos aloprados e da Bancoop de volta à ribalta
Reinaldo Azevedo - VEJA
Berzoini
Que gente pitoresca!
Eis aí uma das expressões com as quais inicio um texto às vezes. Também há o “Ai, ai…”, nesse caso, traduzindo certo cinismo desconsolado. O “gente pitoresca” serve àqueles momentos em que o assunto, no fim das contas, é sério, embora pareça piada. Ricardo Berzoini (foto) — que eu chamo de “Berzoiniev”, já lembro por quê — vai assumir a Secretaria das Relações Institucionais, pasta que estava sob os descuidados de Ideli Salvatti, que já descuidou do Ministério da Pesca e vai descuidar agora dos Direitos Humanos. Sem mandato, onde houver um lambari para fisgar, lá estará Ideli com o seu puçá. Ficaremos sem as Luzes de Maria do Rosário, o que, convenham, é um ganho em si, mesmo quando substituída por Ideli, que rima, não é a solução, mas se mostra, ao menos, mais caricata — e, por isso, mais verdadeira — quando finge que seu pensamento atinge dimensões sublimes. A ministra que sai não consegue nem mesmo apelar a nosso senso de piedade intelectual.
Quem vai cuidar das “ Relações Institucionais”? Ora, ninguém menos do que um especialista em relações… não institucionais. Eis o jeito petista de fazer as coisas. Eu o chamo faz tempo “Ricardo Berzoniev” justamente para lhe emprestar, assim, um quê de burocrata soviético. Os dias pedem o seu “physique du rôle”, não é? Quanto mais os partidos se aproximam das eleições, mais vão pedindo, como posso escrever?, certo tipo de gente, capaz de fazer determinados trabalhos para os quais Berzoniev, por exemplo, está perfeitamente talhado. Sem contar que é homem de confiança de quem manda: Lula.
Atenção! Com Berzoiniev nas Relações Institucionais, o Apedeuta dá uma encostada em Aloizio Mercadante — e poucos estão atentando para isso — e põe no lugar um executor das vontades da máquina. Mercadante é atrevido o bastante para achar que tem ideias próprias e boas — uma contradição nos termos, em seu caso —, e Lula não o suporta nem tanto porque as ideias são ruins, mas porque são próprias… Na verdade, ao nomear Berzoniev, Dilma está abrindo mão da condução da política e entregando-a a Lula. A solução lhe foi imposta.
Como esquecer?
Como esquecer que o homem escolhido para as Relações Institucionais foi aquele que assumiu a presidência do PT quando os mensaleiros caíram em desgraça em 2005? Sua tarefa, vá lá, nos limites do que era possível a um petista fazer, era ao menos executar a mímica da ética na política. Com menos de um ano à frente do partido e um dos capas-pretas da campanha de Lula à reeleição, estourou o escândalo dos aloprados.
Segundo o próprio Lula — que, obviamente, tirou o corpo fora, embora houvesse no bando o seu segurança, o seu compadre, os seus amigos pessoais… —, o responsável foi… Berzoini, que era então coordenador de sua campanha. Afirmou à época: “Você escolhe um companheiro para determinada função, no caso do pessoal que cuidava da ‘pseudo-inteligência’ da minha campanha nem fui eu que escolhi, quem escolheu foi o presidente do partido [Ricardo Berzoini], que era o coordenador da campanha eleitoral.”
Berzoniev está ainda na origem da Bancoop, a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo, que levou no bico milhares de pessoas e é investigada por lavagem de dinheiro, superfaturamento e desvio de recursos para o PT.
Aí fico cá a me perguntar: se Dilma precisa de um ministro das Relações Institucionais que, em ano eleitoral, seja especialista em relações não institucionais — além de amigão de Lula e expressão da alta burocracia da CUT —, não poderia haver nome melhor do que o de Berzoniev. Ele poderá fazer o que Ideli não conseguiu. Não porque tenham morais distintas, mas porque ele dispõe de uma artilharia que ela nunca teve. De resto, convenham: se ninguém ouve o que ela diz, como culpar o interlocutor?

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