Reinaldo Azevedo - VEJA
Que gente pitoresca!
Eis aí uma
das expressões com as quais inicio um texto às vezes. Também há o “Ai,
ai…”, nesse caso, traduzindo certo cinismo desconsolado. O “gente
pitoresca” serve àqueles momentos em que o assunto, no fim das contas, é
sério, embora pareça piada. Ricardo Berzoini (foto) — que eu chamo de
“Berzoiniev”, já lembro por quê — vai assumir a Secretaria das Relações
Institucionais, pasta que estava sob os descuidados de Ideli Salvatti,
que já descuidou do Ministério da Pesca e vai descuidar agora dos
Direitos Humanos. Sem mandato, onde houver um lambari para fisgar, lá
estará Ideli com o seu puçá. Ficaremos sem as Luzes de Maria do Rosário,
o que, convenham, é um ganho em si, mesmo quando substituída por Ideli,
que rima, não é a solução, mas se mostra, ao menos, mais caricata — e,
por isso, mais verdadeira — quando finge que seu pensamento atinge
dimensões sublimes. A ministra que sai não consegue nem mesmo apelar a
nosso senso de piedade intelectual.
Quem vai
cuidar das “ Relações Institucionais”? Ora, ninguém menos do que um
especialista em relações… não institucionais. Eis o jeito petista de
fazer as coisas. Eu o chamo faz tempo “Ricardo Berzoniev” justamente
para lhe emprestar, assim, um quê de burocrata soviético. Os dias pedem o
seu “physique du rôle”, não é? Quanto mais os partidos se aproximam das
eleições, mais vão pedindo, como posso escrever?, certo tipo de gente,
capaz de fazer determinados trabalhos para os quais Berzoniev, por
exemplo, está perfeitamente talhado. Sem contar que é homem de confiança
de quem manda: Lula.
Atenção!
Com Berzoiniev nas Relações Institucionais, o Apedeuta dá uma encostada
em Aloizio Mercadante — e poucos estão atentando para isso — e põe no
lugar um executor das vontades da máquina. Mercadante é atrevido o
bastante para achar que tem ideias próprias e boas — uma contradição nos
termos, em seu caso —, e Lula não o suporta nem tanto porque as ideias
são ruins, mas porque são próprias… Na verdade, ao nomear Berzoniev,
Dilma está abrindo mão da condução da política e entregando-a a Lula. A
solução lhe foi imposta.
Como esquecer?
Como esquecer que o homem escolhido para as Relações Institucionais foi aquele que assumiu a presidência do PT quando os mensaleiros caíram em desgraça em 2005? Sua tarefa, vá lá, nos limites do que era possível a um petista fazer, era ao menos executar a mímica da ética na política. Com menos de um ano à frente do partido e um dos capas-pretas da campanha de Lula à reeleição, estourou o escândalo dos aloprados.
Como esquecer que o homem escolhido para as Relações Institucionais foi aquele que assumiu a presidência do PT quando os mensaleiros caíram em desgraça em 2005? Sua tarefa, vá lá, nos limites do que era possível a um petista fazer, era ao menos executar a mímica da ética na política. Com menos de um ano à frente do partido e um dos capas-pretas da campanha de Lula à reeleição, estourou o escândalo dos aloprados.
Segundo o
próprio Lula — que, obviamente, tirou o corpo fora, embora houvesse no
bando o seu segurança, o seu compadre, os seus amigos pessoais… —, o
responsável foi… Berzoini, que era então coordenador de sua campanha.
Afirmou à época: “Você escolhe um
companheiro para determinada função, no caso do pessoal que cuidava da
‘pseudo-inteligência’ da minha campanha nem fui eu que escolhi, quem
escolheu foi o presidente do partido [Ricardo Berzoini], que era o
coordenador da campanha eleitoral.”
Berzoniev
está ainda na origem da Bancoop, a Cooperativa Habitacional dos
Bancários de São Paulo, que levou no bico milhares de pessoas e é
investigada por lavagem de dinheiro, superfaturamento e desvio de
recursos para o PT.
Aí fico cá
a me perguntar: se Dilma precisa de um ministro das Relações
Institucionais que, em ano eleitoral, seja especialista em relações não
institucionais — além de amigão de Lula e expressão da alta burocracia
da CUT —, não poderia haver nome melhor do que o de Berzoniev. Ele
poderá fazer o que Ideli não conseguiu. Não porque tenham morais
distintas, mas porque ele dispõe de uma artilharia que ela nunca teve.
De resto, convenham: se ninguém ouve o que ela diz, como culpar o
interlocutor?
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