Manny Fernandez - NYT
Pouco antes de uma vigília à luz de velas na calçada, os funcionários
da última clínica de abortos no Vale do Rio Grande, no sul do Texas,
fecharam as portas na tarde de quinta-feira (6), tornando o aborto legal
indisponível na parte mais pobre do estado, depois de duras restrições
aprovadas no ano passado pelo Legislativo do estado.
O encerramento na quinta-feira (6) de duas clínicas operadas pela Whole Woman's Health [Saúde Integral da Mulher] --uma aqui em McAllen e outra na cidade de Beaumont, no leste do estado - faz parte de uma onda de fechamentos provocados pela nova lei.
Havia 44 centros que realizavam abortos no Texas em 2011, segundo os provedores do serviço. Depois dos dois fechamentos na quinta-feira (6), hoje são 24, segundo eles. Quando a lei for plenamente implementada, em setembro, esse número deverá cair para seis.
"Para nós é de partir o coração", disse Amy Hagstrom Miller, executiva-chefe da Whole Woman's Health, que contestou dispositivos da lei no tribunal. "Foi uma decisão muito difícil. Eu tentei de tudo, mas não consegui manter as clínicas abertas."
Os grupos antiaborto disseram que alguns motivos para o fechamento das clínicas foram as "condições deploráveis", violações dos regulamentos de segurança do estado e a alta rotatividade dos funcionários, acusações que os operadores negam. Os adversários do aborto manifestaram satisfação de que as duas clínicas, que juntas atendiam a quase 3 mil pacientes por ano, estivessem fechando.
"Ficamos felizes que as mulheres nunca mais receberão atendimento abaixo do padrão nesses centros de abortos", disse Joe Pojman, diretor-executivo da Texas Alliance for Life.
O aborto foi um tema político muito discutido no ano passado no Texas, quando os deputados republicanos, apoiados pelo governador Rick Perry, aprovaram algumas das restrições mais duras do país, apesar de uma maratona de bloqueio legislativo que transformou a senadora estadual Wendy Davis em uma figura política nacional. A política desde então perdeu a ênfase. Davis não participou do fechamento das clínicas na quinta-feira, nem enfatizou a questão em sua campanha para governadora.
Mas o impacto no mundo real se revelou nos meses seguintes à aprovação da lei. Em McAllen, o fechamento da única clínica de aborto da cidade aumentou os custos, o tempo e a distância de viagem para as mulheres que desejam abortar. Elas têm feito uma viagem de aproximadamente quatro horas e 380 quilômetros até San Antonio, ou cinco horas e 500 quilômetros até Austin para ter um aborto. Havia duas clínicas que realizavam abortos no Vale do Rio Grande, mas no final da quinta-feira não havia nenhuma. Outra, na cidade próxima de Harlingen, fechou há poucos dias.
A atividade na clínica de McAllen havia diminuído recentemente. Ela parou de praticar abortos no ano passado, quando partes da lei entraram em vigor. Na terça-feira (4), a sala de recuperação, para onde eram levadas as mulheres que haviam feito aborto, estava cheia de caixas de arquivos enquanto três funcionários se preparavam para o fechamento.
"Às vezes no meu horário de almoço venho aqui e fico sentada", disse Lucy Carreon, a defensora das pacientes da clínica que está se mudando para San Antonio para trabalhar no centro da Whole Woman's Health. "É muito triste. Não posso acreditar."
Os líderes da Whole Woman's Health, que opera clínicas no Texas e em outros dois estados, disseram que fecharam as clínicas de McAllen e Beaumont principalmente por causa de uma restrição da lei: a exigência de que os médicos que realizam abortos tenham privilégios de admissão em um hospital num raio de 50 quilômetros. Miller disse que quase todos os seus médicos não conseguiram obter essa autorização nos hospitais próximos e que alguns hospitais se negaram até a fornecer aos médicos formulários para a solicitação desse privilégio.
Outra parte da lei, que entrará em vigor em setembro, exige que as clínicas cumpram padrões de centro cirúrgico, o que significa que todos os abortos, incluindo procedimentos não cirúrgicos, devem ocorrer em salas de operação no estilo dos hospitais. É essa exigência que, segundo os provedores de abortos, deverá reduzir o número de clínicas no estado para seis e que segundo Miller influiu na decisão de fechar as clínicas em McAllen e Beaumont.
Mesmo antes da implementação do regulamento completo, as mulheres das áreas rurais já tinham mais dificuldade para conseguir abortos do que as que vivem em centros urbanos como Houston e Dallas. Na cidade de Lubbock, no oeste do Texas, a Planned Parenthood fechou a única clínica que oferecia abortos, enviando muitas mulheres em uma viagem de cinco horas até Dallas ou Albuquerque, no Novo México, a cerca de 500 quilômetros de distância. O fechamento da clínica de Beaumont tornou Houston a opção mais próxima, a mais de uma hora de viagem de carro. Uma clínica em Corpus Christi, que fica mais perto de McAllen do que San Antonio, mas ainda a mais de duas horas de viagem, será fechada em setembro por causa das exigências de padrões cirúrgicos.
Em McAllen, os problemas associados à viagem de 380 quilômetros até San Antonio --incluindo custos adicionais de gasolina, hospedagem ou cuidado de crianças - levaram algumas mulheres a ir ao México comprar uma "pílula do aborto" facilmente encontrada, que pode induzir abortos e representa riscos significativos para a saúde, segundo provedores e defensores do aborto. Carreon, a defensora das pacientes, disse acreditar que de 30 a 40 mulheres que contataram a clínica desde o ano passado decidiram por conta própria tomar essa pílula.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
O encerramento na quinta-feira (6) de duas clínicas operadas pela Whole Woman's Health [Saúde Integral da Mulher] --uma aqui em McAllen e outra na cidade de Beaumont, no leste do estado - faz parte de uma onda de fechamentos provocados pela nova lei.
Havia 44 centros que realizavam abortos no Texas em 2011, segundo os provedores do serviço. Depois dos dois fechamentos na quinta-feira (6), hoje são 24, segundo eles. Quando a lei for plenamente implementada, em setembro, esse número deverá cair para seis.
"Para nós é de partir o coração", disse Amy Hagstrom Miller, executiva-chefe da Whole Woman's Health, que contestou dispositivos da lei no tribunal. "Foi uma decisão muito difícil. Eu tentei de tudo, mas não consegui manter as clínicas abertas."
Os grupos antiaborto disseram que alguns motivos para o fechamento das clínicas foram as "condições deploráveis", violações dos regulamentos de segurança do estado e a alta rotatividade dos funcionários, acusações que os operadores negam. Os adversários do aborto manifestaram satisfação de que as duas clínicas, que juntas atendiam a quase 3 mil pacientes por ano, estivessem fechando.
"Ficamos felizes que as mulheres nunca mais receberão atendimento abaixo do padrão nesses centros de abortos", disse Joe Pojman, diretor-executivo da Texas Alliance for Life.
O aborto foi um tema político muito discutido no ano passado no Texas, quando os deputados republicanos, apoiados pelo governador Rick Perry, aprovaram algumas das restrições mais duras do país, apesar de uma maratona de bloqueio legislativo que transformou a senadora estadual Wendy Davis em uma figura política nacional. A política desde então perdeu a ênfase. Davis não participou do fechamento das clínicas na quinta-feira, nem enfatizou a questão em sua campanha para governadora.
Mas o impacto no mundo real se revelou nos meses seguintes à aprovação da lei. Em McAllen, o fechamento da única clínica de aborto da cidade aumentou os custos, o tempo e a distância de viagem para as mulheres que desejam abortar. Elas têm feito uma viagem de aproximadamente quatro horas e 380 quilômetros até San Antonio, ou cinco horas e 500 quilômetros até Austin para ter um aborto. Havia duas clínicas que realizavam abortos no Vale do Rio Grande, mas no final da quinta-feira não havia nenhuma. Outra, na cidade próxima de Harlingen, fechou há poucos dias.
A atividade na clínica de McAllen havia diminuído recentemente. Ela parou de praticar abortos no ano passado, quando partes da lei entraram em vigor. Na terça-feira (4), a sala de recuperação, para onde eram levadas as mulheres que haviam feito aborto, estava cheia de caixas de arquivos enquanto três funcionários se preparavam para o fechamento.
"Às vezes no meu horário de almoço venho aqui e fico sentada", disse Lucy Carreon, a defensora das pacientes da clínica que está se mudando para San Antonio para trabalhar no centro da Whole Woman's Health. "É muito triste. Não posso acreditar."
Os líderes da Whole Woman's Health, que opera clínicas no Texas e em outros dois estados, disseram que fecharam as clínicas de McAllen e Beaumont principalmente por causa de uma restrição da lei: a exigência de que os médicos que realizam abortos tenham privilégios de admissão em um hospital num raio de 50 quilômetros. Miller disse que quase todos os seus médicos não conseguiram obter essa autorização nos hospitais próximos e que alguns hospitais se negaram até a fornecer aos médicos formulários para a solicitação desse privilégio.
Outra parte da lei, que entrará em vigor em setembro, exige que as clínicas cumpram padrões de centro cirúrgico, o que significa que todos os abortos, incluindo procedimentos não cirúrgicos, devem ocorrer em salas de operação no estilo dos hospitais. É essa exigência que, segundo os provedores de abortos, deverá reduzir o número de clínicas no estado para seis e que segundo Miller influiu na decisão de fechar as clínicas em McAllen e Beaumont.
Mesmo antes da implementação do regulamento completo, as mulheres das áreas rurais já tinham mais dificuldade para conseguir abortos do que as que vivem em centros urbanos como Houston e Dallas. Na cidade de Lubbock, no oeste do Texas, a Planned Parenthood fechou a única clínica que oferecia abortos, enviando muitas mulheres em uma viagem de cinco horas até Dallas ou Albuquerque, no Novo México, a cerca de 500 quilômetros de distância. O fechamento da clínica de Beaumont tornou Houston a opção mais próxima, a mais de uma hora de viagem de carro. Uma clínica em Corpus Christi, que fica mais perto de McAllen do que San Antonio, mas ainda a mais de duas horas de viagem, será fechada em setembro por causa das exigências de padrões cirúrgicos.
Em McAllen, os problemas associados à viagem de 380 quilômetros até San Antonio --incluindo custos adicionais de gasolina, hospedagem ou cuidado de crianças - levaram algumas mulheres a ir ao México comprar uma "pílula do aborto" facilmente encontrada, que pode induzir abortos e representa riscos significativos para a saúde, segundo provedores e defensores do aborto. Carreon, a defensora das pacientes, disse acreditar que de 30 a 40 mulheres que contataram a clínica desde o ano passado decidiram por conta própria tomar essa pílula.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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