Rodrigo Constantino - VEJA
Uma pesquisa do Ipea, divulgada pelo GLOBO
hoje, mostra que muitos brasileiros pensam que o estupro é “merecido”
quando as mulheres se comportam “mal”, abusam nas roupas curtas, etc.
São respostas assustadoras, que denotam um atraso civilizatório. Diz a
reportagem:
“Se as
mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros”. Ao ler essa
afirmação em um questionário do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), 58,5% dos 3.810 entrevistados concordaram totalmente ou
parcialmente com a frase. O dado aparece no estudo Tolerância social à
violência contra as mulheres, realizado pelo Sistema de Indicadores de
Percepção Social e divulgado nesta quinta-feira.
Realizada
entre maio e junho de 2013, a pesquisa aponta ainda que, para 42,7% dos
entrevistados, mulher com roupa que mostra o corpo merece ser atacada.
Além disso, 63% concordaram, total ou parcialmente, que “casos de
violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre os membros
da família”. E mais: 89%, somando aqueles que concordaram totalmente e
parcialmente, disseram concordar que “a roupa suja deve ser lavada em
casa”. O percentual dos que acreditam que “em briga de marido e mulher
não se mete a colher” também foi alto: 82%.
O Brasil precisa evoluir e muito ainda.
Ao menos a imensa maioria acha que o homem que bate na mulher deve ser
preso. Menos mal. Mas essa mentalidade que culpa a própria vítima pelo
estupro é absurda, chocante. É análoga àquela que culpa o rico pelo
seqüestro ou assalto, como se a própria desigualdade em si desse o
direito de o ladrão roubar.
Dito isso, e deixando bem claro que nada justifica
estupro ou assalto, podemos ser realistas e compreender que, se a
ocasião não faz o ladrão, ao menos pode estimulá-lo. Veja bem: Sakamoto
cai no ridículo quando culpa o dono do carro pelo assalto, apelando para
o sensacionalismo de esquerda; mas eu não iria com o Porsche que não
tenho para a Rocinha desfilar.
Quando o apresentador Luciano Huck teve
seu Rolex roubado, muita gente da esquerda usou exatamente o mesmo
discurso: quem mandou ostentar em um país pobre? Argumento ridículo,
como o de Sakamoto, e como esses todos que condenam a moça estuprada
pelo estupro, por causa de sua roupa curta. Mas eu tampouco iria com o
Rolex de ouro que não tenho para a favela da Maré.
O que quero dizer com isso? Que ninguém
tem o direito de estuprar ou roubar, que ninguém “merece” passar por
isso, e que a vítima não pode ser transformada em culpado; mas que,
feita essa ressalva importante, seria bom manter o realismo e
compreender que, nem por isso, devemos dar tantas chances ao azar.
Há estudos e pesquisas, como já comentei aqui,
mostrando correlação entre a revolução sexual e o aumento nos casos de
estupro. E não é um fenômeno brasileiro, mas mundial. Sexualidade cada
vez mais precoce, funk estimulando a vulgaridade, mulheres provocativas
rebolando seminuas até o chão, tudo isso atrai estupradores como moscas
ao mel.
Reconhecer essa obviedade não é o mesmo
que culpar a mulher pelo estupro. Claro que não. É apenas ser realista a
ponto de atestar que, dado o ambiente pré-civilizatório em que ainda vivemos,
tudo isso acaba estimulando o crime, da mesma forma que um desfile com
Rolex nas favelas cariocas faria (a menos que te confundam com o
traficante do pedaço).
Vou afirmar uma coisa muito chocante ao
leitor: o Brasil não é a Suíça! Algum grau de adaptação por vivermos no
país dos “malandros”, que criaram um país de otários, precisa ocorrer.
Defendo maior punição aos criminosos como principal instrumento de
combate ao crime, seja assalto, seja estupro. Mas não dá para negar a influência cultural.
Qual a saída? Colocar burca nas mulheres?
Deus nos livre da maldição islâmica! Seria como pregar a solução
sakamoteana para combater o crime: abandonar os nossos bens materiais
(sendo que ele não abandona seu McBook da Apple, pois ninguém é de
ferro). Seria a vitória dos bandidos.
Isso não nos impede, todavia, de
constatar que a licenciosidade e a libertinagem crescentes têm
colaborado como estimulante para os tarados em potencial. Junte-se a
isso a cultura machista e o ambiente de impunidade, e temos o quadro
perfeito para a desgraça.
Enquanto a cultura do machismo não
desaparece, e a punição exemplar não vem, seria recomendável, sim, que
as moças apresentassem um pouco mais de cautela, mostrassem-se um
tiquinho só mais recatadas, e preservassem ligeiramente mais as partes
íntimas de seus corpos siliconados. Não tenho dúvidas de que “garotas
direitas” correm menos risco de abuso sexual.
Vou apelar para o reductio ad absurdum na
esperança de deixar meu ponto ainda mais claro: a mulher que vai a um
canteiro de obras no final do expediente, começa a rebolar até o chão
dançando “na boquinha da garrafa” seminua, acha que exerce alguma influência no risco de descontrole sexual de algum potencial tarado no local, ou não?
Voltando à minha analogia para fechar, eu
não faria um banquete diante de uma legião de famintos. E tenho certeza
de que os colegas de esquerda também não. Tanto é que costumam degustar
de seu caviar com champanhe isolados em suas coberturas ou mansões,
distantes dos olhares de cobiça daqueles que juram defender…
PS: Agora, como o jornalista José Maria
me lembrou, por que diabos um instituto de “pesquisa econômica aplicada”
precisa fazer este tipo de pesquisa social, altamente subjetiva, cuja
resposta pode variar muito dependendo da forma com a qual é feita a
pergunta? Parece algo indutor de conflito social, típico do governo do
PT mesmo, que adota a máxima “dividir para conquistar”.
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