Por que a bolsa sobe quando Dilma cai
Investidores comentam a expectativa de nova rodada de
valorização das ações se as próximas pesquisas mostrarem a ascensão de
Aécio ou a possibilidade da volta de Lula
Fábio Alves - OESP
SÃO PAULO - A Bovespa e os outros ativos brasileiros poderão
registrar uma nova rodada de valorização se as próximas pesquisas de
intenção de voto mostrarem perda de terreno da presidente Dilma Rousseff
e um desfecho das eleições presidenciais apenas no segundo turno.
E o rally das ações e da moeda brasileira poderá ser ainda
maior se crescerem as chances de Dilma perder as eleições para um
candidato de oposição, em particular o tucano Aécio Neves, ou ainda,
embora numa magnitude bem mais modesta, se uma reviravolta no cenário
político trouxer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de volta para
disputar a Presidência em substituição à Dilma.
Esse é, em resumo, o sentimento de três investidores
estrangeiros ouvidos nesta sexta-feira, 28, pela Broadcast, serviço de
informações em tempo real da Agência Estado. Um deles fala abertamente e
os outros dois pedem nonimato pela delicadeza do tema.
A ameaça à candidatura de Dilma Rousseff tomou força ontem,
quando foi divulgado que a avaliação positiva do governo caiu de 43%
para 36% em relação a dezembro, segundo pesquisa CNI/Ibope. O porcentual
de entrevistados que consideram o governo regular oscilou de 35% para
36%, enquanto os que o avaliam como ruim ou péssimo subiu de 20% para
27%.
Essa pesquisa acendeu a luz amarela em relação ao apoio
popular da presidente, em meio a uma economia em desaceleração, a uma
inflação em alta e a escândalos, como a compra da refinaria de Pasadena
pela Petrobrás.
É preciso ressaltar, contudo, que na última pesquisa de
intenção de voto, a presidente ainda conta com larga vantagem. No
levantamento do Ibope, divulgado no dia 20 deste mês, a presidente Dilma
Rousseff venceria a eleição no primeiro turno caso a votação fosse
hoje, na pesquisa estimulada.
No cenário em que a presidente enfrenta Aécio Neves (PSDB),
Eduardo Campos (PSB) e candidatos de partidos nanicos, Dilma aparece com
43% das intenções de voto. O senador do PSDB é o segundo colocado com
15% e o governador de Pernambuco tem 7%.
O porcentual de Dilma é o mesmo daquele apresentado na última
pesquisa Ibope, em 18 de novembro. Em relação à mesma pesquisa, Aécio
subiu um ponto porcentual (dentro da margem de erro) e Campos manteve os
mesmos 7%.
Perspectiva de mudança. Na opinião de Greg
Lesko, diretor-gerente da Deltec Asset Management em Nova York, que têm
US$ 800 milhões em ativos, dos quais quase US$ 200 milhões investidos
nas bolsas da América Latina, os investidores estrangeiros se sentiriam
mais confiantes em voltar a comprar Brasil se houvesse a perspectiva de
mudança de rumos da política econômica no próximo governo.
"Sobre a volta do Lula, o ex-presidente apenas manteve no
lugar os pilares econômicos estabelecidos no governo Fernando Henrique
Cardoso", disse Lesko a esta coluna. "Aconteceria um rally nos preços
dos ativos apenas se Lula promovesse uma reviravolta no mix atual de
política econômica."
Lesko, contudo, não acredita que Lula e o Partido dos
Trabalhadores que ele representa fariam isso. "O que o Lula fez no seu
governo não eram as políticas do PT", disse. "Outros quatro anos de
políticas do PT, quer seja Lula ou Dilma, não seriam bom para o Brasil."
Para Lesko, uma vitória de Aécio Neves seria o que mais
agradaria ao mercado pela perspectiva do retorno de políticas
"investment friendly", ou pró-investimento. "A Bovespa já teve uma boa
alta, então há um potencial para correção, mas se futuras pesquisas de
opinião mostrarem uma eleição bem mais competitiva do que os últimos
números de intenção de voto indicaram até agora, então há espaço para a
Bovespa manter a valorização já acumulada ou subir até mais", disse
Lesko.
Na opinião de um estrategista-chefe de um hedge fund baseado
em Londres, o qual investe 80% do seu patrimônio em ações e dívida de
países emergentes, se as próximas pesquisas mostrarem uma probabilidade
cada vez maior de Dilma Rousseff perder as eleições em favor de um
candidato da oposição, em especial Aécio Neves, ou mesmo se ela for
substituída por Lula, a Bovespa poderia se valorizar mais 20% sobre o
nível atual.
Apenas no mês de março, a Bovespa já acumula ganho de 6,1%, sendo negociada a 49.976,69 pontos por volta das 12h20.
"O Brasil tem um grande problema neste momento que é um mix
de política econômica, a qual é percebida pelos investidores brasileiros
e estrangeiros como sendo errada", afirmou a fonte, que pediu para não
ser identificado. "Há grande preocupação com a postura fiscal do governo
brasileiro, com a demanda doméstica e com a falta de investimentos - e o
sentimento dos investidores é que a reeleição de Dilma não resolveria
tais preocupações, ao menos nos primeiros seis ou doze meses do próximo
mandato", explicou.
Volta de Lula. Para ele, o mercado ficaria
satisfeito com um cenário em que tivesse de escolher entre a volta de
Lula ou a vitória de um candidato de oposição que representasse uma
mudança dos rumos da política econômica.
"Mas certamente a volta de Lula como candidato do PT no lugar
de Dilma seria um 'driver' (catalisador) poderoso para os preços dos
ativos brasileiros", afirmou o gestor de hedge fund inglês. Além da alta
da Bovespa, ele considera que a entrada de capital estrangeiro poderia
derrubar a cotação do dólar até R$ 2,15.
Já um gestor de um hedge fund nos Estados Unidos, com uma
aplicação significativa na bolsa brasileira, comentou que há uma grande
frustração entre os investidores estrangeiros com a falta de
investimentos no Brasil.
"A reeleição de Dilma Rousseff não reverteria o sentimento
negativo hoje prevalecente entre os investidores", disse. Além disso, um
segundo mandato de Dilma representaria, aos olhos do gestor ouvido
acima, a continuidade do controle de preços da energia elétrica e dos
combustíveis, além do intervencionismo em vários segmentos da economia. O
reflexo disso, segundo ele, está na resistência das expectativas
inflacionárias em ceder.
"Obviamente, uma queda dela nas pesquisas de intenção de voto
poderá animar os investidores", afirmou. Para ele, a volta de Lula não
resolveria as incertezas dos investidores. "Ninguém quer mais o PT e sua
política de controle de preços administrados", afirmou. Para ele, uma
crescente possibilidade de vitória de Aécio Neves poderia dar mais
confiança aos investidores estrangeiros de que, ao menos quanto à
estabilidade macroeconômica, o Brasil poderia "arrumar a casa" e abrir
espaço para a volta dos investimentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário