A casa da crise
Na arquibancada, o
pessoal sabe apenas que problemas existem, porque eles batem na sua
porta e reclamam pedaços cada vez maiores de seus magros rendimentos
Luiz Garcia - O Globo
Como saiu no jornal, a
economia do país começou o ano com os dois pés no freio. Para quem
entende disso — o grupo de sábios que dominam essa área cheia de
penhascos e precipícios —, o Produto Interno Bruto (ou seja, o conjunto
de números que mostram o que o país produziu em bens e serviços) deverá
ficar entre uma queda de 0,1% e uma alta de 0,3% no primeiro trimestre
de 2014, em relação ao trimestre anterior.
Para a turma da
arquibancada entender melhor: é um resultado pior do que tivemos nos
últimos meses do ano passado. De quem é a culpa, partindo-se do
princípio de que ela não pertence inteiramente aos gurus econômicos do
governo?
Os especialistas que não trabalham para ele acusam o
governo de cometer um grave erro estratégico: os gurus do Planalto
estariam tentando incentivar a demanda — quando a gente está cansada de
saber (ou simplesmente alega que está) que as dificuldades moram no lado
da oferta. Traduzindo: numa baixa produtividade, que, por sua vez,
seria resultado de um erro do governo, que concentrou esforços
estimulando a procura de bens, quando o verdadeiro problema estaria na
oferta. Segundo o pessoal que entende disso (e não trabalha para o
Planalto), a pobre oferta sofre as consequências da baixa produtividade
do país. Um problema que, pelo visto, é ignorado pelo pessoal do
governo. Portanto, a crise teria nascido mesmo na miopia oficial.
Na
já mencionada arquibancada, o pessoal sabe apenas que problemas
existem, porque eles batem na sua porta e reclamam pedaços cada vez
maiores de seus magros rendimentos. E, na área habitada pelos sábios que
entendem de economia e não servem ao Planalto, há espaço para uma dose
de perplexidade: com a produção em queda, a inflação costuma baixar — e
isso não está acontecendo.
Fora do governo, alguns especialistas
afirmam, obviamente, que as coisas podem melhorar se o governo partir,
com uma mistura de audácia e bom senso, para uma política de reformas na
política econômica. Parece óbvio e sensato — mas é importante não
esquecer que essa previsão parte da constatação de que bom senso e
audácia ainda não moram no Palácio do Planalto.
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