Joaquim
Eliane Cantanhêde - FSP
BRASÍLIA - A passagem do
primeiro negro a ocupar e a presidir o Supremo Tribunal Federal foi,
além de rápida, fulgurante e fora de padrão --como a sua própria
biografia.
Levado pela mão de Lula como um troféu, para ser um
negro dócil e agradecido, Joaquim Barbosa rebelou-se contra o papel e
desnorteou o PT, o governo e os próprios pares. Mas, na avaliação
correta de um juiz atento, Joaquim poderia ter sido simplesmente altivo e
muitas vezes foi flagrantemente arrogante.
Muito dos seus
adoradores acreditam, como o próprio Joaquim, que ele só conseguiu os
resultados que conseguiu porque extrapolou, quebrou regras, confrontou
os colegas. A fila é longa: Ricardo Lewandowski lidera, mas também Dias
Toffoli, Marco Aurélio Mello, Gilmar Mendes... Tivesse sido mais
racional, mais sóbrio, talvez chegasse às mesmas conclusões --e com mais
legitimidade.
Goste-se ou não de Joaquim, porém, ele pode ter
sido o homem certo na hora certa: o irreverente e irascível capaz de
conduzir o processo do mensalão para a história como um marco, um
divisor de águas, na Justiça no Brasil. Ela não seria mais só para
pretos, pobres e prostitutas; os criminosos de colarinho branco que
pusessem as barbas de molho. Não há como negar: apavorou os poderosos e
lavou a alma do povo brasileiro.
Sua renúncia começou a se
delinear na "tarde triste" em que, abatido, com a voz cansada, assistiu
impotente à derrota da tese de "quadrilha", chave no processo do
mensalão. Como conviver como minoria num tribunal onde puxara a maioria?
Como deixar de presidir e passar a ser presidido logo por Lewandowski?
A
caminho da saída, Joaquim atropelou a estrela do mensalão, José Dirceu,
mas não conseguiu o fecho de ouro que tanto queria: o julgamento das
perdas pelos planos econômicos. Depois de subjugar poderosos da
política, sonhava derrotar os bancos.
Com o adiamento, teve seu último chilique no STF, de onde sai para a história. E para flertar com a política.
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