Pausa para respiro
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
O Banco Central não parece convencido de que o ciclo de
alta dos juros básicos (Selic) tenha chegado ao limite de 11,0% ao ano,
como o Copom deixou transparecer quarta-feira.
Isso ficou intencionalmente exposto no comunicado divulgado após a
reunião presidida por Alexandre Tombini (foto): "neste momento", os
juros ficam onde estão.
O comportamento dos preços nos próximos meses estará sujeito a
tensões de qualidades diferentes. A primeira delas é a tendência à queda
mensal da inflação. Até outubro, esperam-se números mais baixos do que o
0,67% registrado em abril.
A variação do IGP-M deste mês sobre o mês anterior veio negativa
(-0,13%) - veja o Confira -, refletindo significativa redução de preços
no atacado que, em mais algumas semanas, deverá ser repassada também
para o varejo (custo de vida). Essa desaceleração deverá ser acusada
também pelo IPCA deste e dos próximos três ou quatro meses.
Em contrapartida, a inflação medida em 12 meses deverá passar por bom
período acima do teto da meta de inflação (acima de 6,5%), fator que,
por si só, deve acionar movimentos defensivos em toda a economia,
especialmente nos processos de indexação (correção automática de preços e
valores), que, em princípio, deverão exigir contra-ataque por parte do
Banco Central.
A outra tensão é o forte achatamento dos preços administrados, que
correspondem a cerca de um quarto dos preços da cesta de consumo. Entre
eles estão as tarifas de energia elétrica, dos combustíveis (gasolina,
óleo diesel e gás) e dos transportes urbanos. É uma situação que cria
distorções não só na cadeia de preços, mas, também, em segmentos vitais
da economia, como o da energia elétrica e do petróleo. É o que leva os
empresários e demais agentes da economia a prever um "destampamento",
com impacto sobre toda a cadeia de produção e consumo, como o Banco
Central avisou no Relatório de Inflação, de março.
O economista Nelson Barbosa, que até junho do ano passado foi o
número dois do Ministério da Fazenda, prevê para 2015 uma inflação de
nada menos que 7,5%, como apontou na entrevista publicada na edição de
ontem do Estadão. É substancialmente mais do que os 6,0% apontados pelas
cerca de 100 instituições auscultadas semanalmente pelo Banco Central
na sua Pesquisa Focus. Mas Barbosa, que até outro dia esteve lá, sabe o
que está em jogo e sabe como as decisões são tomadas. Ele tem lá suas
razões para apostar nesse esticão bem mais alto. A mensagem é a de que,
em atenção a razões unicamente eleitorais, o governo fará de tudo para
não mexer nos preços administrados antes de novembro. No entanto, como
não podem seguir represados por muito mais tempo, quando começar, o
processo de realinhamento produzirá estragos inevitáveis no custo de
vida.
Essas são as principais razões pelas quais o Banco Central não pode
baixar a guarda. Tem de manter-se pronto para novas investidas contra os
preços com a única arma de que dispõe, a política de juros - caso o
governo continue com tão pouca disposição a fazer a sua parte nas
administrações de suas despesas, como vem demonstrando.
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