Crédito zero, pacote para carros
Total de empréstimos que não são bancados ou regulados pelo governo para de crescer
Vinícius Torres Freira - FSP
ACABOU O GÁS do crédito.
Afora os empréstimos com dinheiros bancados ou regulados pelo governo, o
total de empréstimos parou de crescer em abril, em relação ao ano
passado, descontada a inflação. O total de dinheiro emprestado para a
compra de carros, por exemplo, diminuiu. Atarantado e pressionado pelas
montadoras, o governo discute um pacote a fim de arrumar dinheiro para
financiamento de veículos (vide o final da coluna).
O total de
crédito dito "livre", aquele dinheiro emprestado pelo mercado sem
depender de regras e fundos estatais, crescera a 9,4% 2011, a 7,3% em
2012 e minguara ao ritmo de 1,8% de 2013. Nos 12 meses encerrados em
abril passado, parou de crescer.
O crescimento restante dos
empréstimos vem de recursos direcionados (como o do dinheiro da poupança
para financiamentos imobiliários) e de bancos estatais (como os do
BNDES), vitaminados na prática por fundos públicos financiados por meio
de dívida pública.
Nos últimos 12 meses, o total do dinheiro emprestado (estoque de crédito) cresceu 6,7% (crescia ao ritmo de 11,5% em 2011).
Por
que o crédito "livre" zerou e o total ainda cresce? Primeiro, porque o
crédito direcionado é mais barato, claro, muitas vezes subsidiado, como o
dinheiro emprestado a grandes empresas pelo BNDES, a taxas de juros
reais negativas (menores que a inflação).
Segundo, porque os
bancos privados e/ou comerciais estão na retranca, segurando
empréstimos, pois temem calotes, dado o desempenho pífio da economia.
Terceiro, porque os consumidores estão evitando fazer dívidas, pelo
mesmo motivo dos bancos comerciais: prudência.
O crédito para
pessoas físicas não entrou em colapso porque o mercado de financiamento
imobiliário ainda vai muito bem, um nicho de que os bancos gostam: mais
seguro, firmam relacionamentos longos com os clientes, o "funding"
(origem dos recursos) é mais ou menos estável e em conta.
Em
termos reais, cresceu quase 23% nos últimos 12 meses. Neste ano, o
crescimento do crédito imobiliário foi responsável por quase 61% do
total do dinheiro emprestado para pessoas físicas (sendo que o
financiamento de imóveis responde apenas por 28% do crédito total para
pessoas físicas).
O colapso do crédito para veículos, as férias
coletivas e as ameaças de demissão anunciadas pelas montadoras devem
levar o governo a anunciar algum pacote de estímulo.
A princípio,
será um pacotinho de crédito. O governo permitiria que bancões maiores
comprem os empréstimos concedidos pelos bancos das montadoras (isto é,
passariam a receber as prestações, seriam os novos credores, abrindo
espaço para os bancos das montadoras emprestarem mais).
Para
tanto, o governo liberaria parte dos fundos que os bancos são obrigados a
deixar parados no Banco Central (reservas compulsórias), um esquema
usado vez e outra desde a crise de 2008.
No fundo, não faz muito
sentido. Entenda-se: o Banco Central vinha elevando os juros justamente a
fim de segurar o ritmo de crédito e, pois, o da economia. O governo
abriria, assim, um buraco na represa do BC.
Enfim, pode não dar
muito certo. Pode ser simplesmente que o crédito para carros esteja
minguando porque as pessoas não queiram comprar mais carros.
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