sexta-feira, 30 de maio de 2014

NÃO SE DEIXE ENGANAR. O INFERNO É LOGO ALI

Será o início de uma nova era para a Índia? 
Manu Joseph - INYT
Rajesh Kumar Singh/AP
12.mai.2014 - Indiano se registra para votar em Kunwarpur, no norte do Estado indiano de Uttar Pradesh 12.mai.2014 - Indiano se registra para votar em Kunwarpur, no norte do Estado indiano de Uttar Pradesh
Na segunda-feira passada, a posse do novo primeiro-ministro da Índia começou como uma espécie de contratempo. O presidente Pranab Mukherjee, chefe de Estado cerimonial que conduziu a cerimônia de juramento, disse, "eu", e olhou para os lados, como se estivesse a ponto de dizer: "eu realmente queria ser primeiro-ministro".
Isso porque o cargo de primeiro-ministro já foi considerado o destino certo de Mukherjee – função que esteve quase ao seu alcance devido ao fato de ele ser um poderoso líder do Congresso Nacional Indiano. Mas o partido escolheu Manmohan Singh e, por fim, se livrou de Mukherjee honrosamente ao nomeá-lo presidente, cargo que se assemelha ao dos monarcas britânicos, só que sem todas as propriedades reais. Mukherjee, é claro, parou depois de dizer "eu" e olhou para Narendra Modi, que, em seguida, leu o juramento e tomou posse como chefe de governo.
Em uma coincidência imprevista, o homem que comandou o juramento contribuiu de maneira incomensurável para o surgimento de Modi e de seu Partido Bharatiya Janata. Mukherjee foi um desastre como ministro da Fazenda entre 2009 e 2012. A relação entre as empresas indianas e o governo se deteriorou enquanto ele esteve no comando da pasta e a economia indiana entrou em desaceleração, eventos dos quais o Partido do Congresso nunca se recuperou.
Enquanto Modi e seus ministros eram empossados, a mídia cobria o evento com um otimismo entusiasmado e os comentaristas de TV enchiam de elogios o governo recém-nascido que, segundo eles, se parece muito com seu pai solteiro: Modi.
No entanto, o novo gabinete não se distancia muito do antigo. Treze dos ministros de Modi enfrentam acusações criminais nos tribunais, entre as quais acusações graves, como tentativa de homicídio e sequestro. E, apesar de Modi ter se apresentado como amigo dos jovens, a maioria de seus ministros tem mais de 60 anos e todos pareciam mais velhos enquanto subiam um pequeno lance de escadas para fazer o juramento.
O que mais pareceu impressionar os observadores políticos foi a presença de líderes das nações vizinhas, que aceitaram o convite incomum de Modi para testemunhar sua posse. O primeiro-ministro do Paquistão, Nawaz Sharif, foi à cerimônia, mas minutos depois de Modi ser empossado, como se num tributo, forças paramilitares do Paquistão abriram fogo na fronteira com a Índia.
Os analistas políticos esperavam que os dois líderes se dessem bem. Se levarmos em consideração os tuítes de Modi após um banquete realizado na própria segunda-feira, parece que os dois têm algo em comum: ambos compartilham o amor por suas mães.
Modi e seu partido receberam apenas 31% dos votos, mas dentro desse percentual houve uma rara concordância política entre a elite e os mais pobres. Nos últimos tempos, esses dois segmentos da sociedade costumavam desprezar as escolhas políticas um do outro. Mas, em dezembro do ano passado, eles aparentemente entraram em consenso ao apoiarem Arvind Kejriwal, do Partido Aam Aadmi, ao cargo de ministro-chefe de Déli.
Mas esse acordo se transformou em questão de semanas, após o apetite incontrolável de Kejriwal por manifestações de rua – mesmo depois de ele ter se tornado ministro-chefe – ter levado a classe média e os pobres a se unirem e a perderem a confiança nele. No dia em que Modi foi empossado como primeiro-ministro em Déli, Kejriwal estava na prisão, não muito longe da cerimônia, matando os muitos mosquitos que infestam sua cela. Kejriwal foi preso após ter sido acusado de difamação pelo ex-presidente do partido de Modi, Nitin Gadkari, a quem Kejriwal havia acusado de corrupção.
O núcleo do gabinete de Modi inclui Rajnath Singh, o novo ministro do Interior e ex-professor de física que acredita que as antigas escrituras hindus e uma conversa com o poeta Rabindranath Tagore ajudaram Werner Heisenberg a formular a teoria da mecânica quântica; Arun Jaitley, ministro da Fazenda e da Defesa e advogado articulado, que era cortês demais para abocanhar um assento para seu partido quando contestou as eleições gerais; e Sushma Swaraj, o ministro das Relações Exteriores e ex-aspirante a primeiro-ministro que tem uma relação tensa com Modi.
Em todo o país, as pessoas assistiram pela televisão os primeiros passos do novo governo, cuja missão urgente é infundir vida na economia indiana. Entre esses muitos telespectadores estava uma menina de 6 anos. Depois que ouvir que Modi era o novo primeiro-ministro, ela perguntou: "ele é um homem legal?"
Nesta época de eleição, enquanto a nação votava para ter uma vida material melhor, essa era, de alguma maneira, a questão menos relevante.
Tradutor: Cláudia Gonçalves

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