Bloqueio chapa-branca
Maioria governista
consegue vitória na CPI mista sobre a Petrobras, em manobra para que
investigação não municie oposição na disputa eleitoral
FSP
Mostram-se incertas as
perspectivas de que uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito venha a
dar alento às investigações sobre irregularidades na Petrobras.
Instalada
na quarta-feira, a CPI mista dedicada ao tema, reunindo deputados e
senadores, apresentava-se como alternativa capaz de superar o impasse em
curso na sua equivalente no Senado.
Ali, a sólida maioria
governista diminuía de tal modo as possibilidades de atuação incisiva
que a oposição resolveu boicotar os seus trabalhos, depositando
expectativas mais ambiciosas na comissão que acaba de se instituir.
Feitas
as indicações dos nomes que iriam compor o novo grupo investigativo, um
razoável número de deputados e senadores da oposição, a que vieram
somar-se parlamentares da chamada base rebelada do governo, anunciava ao
menos a chance de maior equilíbrio.
Para tanto, a oposição
patrocinou a candidatura de um deputado pedetista, o gaúcho Ênio Bacci, à
presidência da CPI mista; confiava que sua filiação a um partido da
base governamental pudesse favorecer o consenso.
A proposta foi
malsucedida, sobretudo porque o governo Dilma Rousseff (PT) cerrou
esforços para impedir que qualquer investigação sobre a Petrobras venha a
municiar o discurso dos adversários na disputa presidencial.
Deu-se,
assim, a bizarra solução de eleger para presidente desse grupo de
trabalho, supostamente mais combativo, o mesmo congressista que já
presidia a chamada CPI chapa-branca do Senado.
Não são apenas os
senadores Vital do Rêgo (PMDB-PB) e Gim Argello (PTB-DF) que garantem a
predominância governista, ocupando respectivamente a presidência e a
vice do colegiado. Também para o cargo de relator --usualmente cedido às
correntes minoritárias-- foi eleito um fiel depositário das confianças
do Planalto, o deputado Marco Maia (PT-RS).
A tradição de manter
um mínimo de paridade entre governo e oposição nas comissões de
inquérito foi, assim, rompida. Não se trata de mera cortesia
parlamentar; é crucial preservar a credibilidade de foros dessa
natureza.
Resta esperar que, nos sempre imprevisíveis
desdobramentos dessas comissões, o bloqueio "chapa-branca" seja rompido
pelo contingente, agora um pouco mais numeroso, de oposicionistas.
Vale
lembrar, em todo caso, que o mesmo bloqueio se exerce, com sinal
trocado, nos esforços do PSDB paulista para abafar as investigações, no
Legislativo estadual, das milionárias transações que celebrou no
escândalo dos trens.
Desse modo, ninguém tem tanto assim do que
se queixar --exceto a maioria dos cidadãos, que vê os casos de
irregularidade no setor público endossados, na prática, pelos
representantes que elegeu.
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