Estagnação do crédito livre revela estado da economia
O Estado de S.Paulo
Cresceram, em abril, os sinais de estagnação da oferta de
crédito livre, segundo a nota de política monetária e creditícia do
Banco Central, divulgada ontem. Só não houve queda da oferta total de
crédito por causa das operações direcionadas, em especial dos
empréstimos imobiliários e rurais, além de financiamentos ao setor
público e setores específicos, como energia. Como proporção do Produto
Interno Bruto (PIB), o crédito total atingiu o nível mais alto em
dezembro (56,1% do PIB), estabilizando-se em março/abril em 55,9% do
PIB.
Diminuíram as operações de financiamento de veículos com pessoas
físicas, -0,5% entre março e abril e -2,1% na comparação com abril de
2013, e com pessoas jurídicas, -3,9% e -8,1%, respectivamente. No cartão
de crédito de pessoas físicas houve queda de 1,2% no mês e 6,7% entre
os primeiros quadrimestres de 2013 e 2014, mas ainda havia crescimento,
em 12 meses. O estoque total de crédito livre subiu apenas 0,1% entre
março e abril e 6,2% em 12 meses, ou seja, ritmo inferior ou igual à
inflação.
Já o saldo de crédito direcionado, com juros menores, se expandiu
1,3% no mês e 23,2% em 12 meses, liderado pelo crédito imobiliário
(+1,9% no mês e 30,7% em 12 meses, alcançando R$ 367 bilhões, ou R$ 86
bilhões mais do que em abril de 2013) e pelas operações rurais (+2,4% no
mês e 30,3% em 12 meses, atingindo R$ 122 bilhões).
Somando os saldos de operações livres e direcionadas, ainda houve
aumento mensal de 0,6% e anual de 13,4% e o saldo foi a R$ 2,77
trilhões, em abril. Mas as concessões de crédito dependeram das pessoas
físicas (+3,9% mensal e 15% em 12 meses), superando as concessões a
pessoas jurídicas (-1,8% no mês e 6,9% em termos anuais).
A perda de dinamismo do crédito não trouxe apenas aspectos negativos,
pois os juros cobrados dos devedores estabilizaram-se, entre março e
abril, e a inadimplência não aumentou. Houve leve queda de 0,1% (de
45,83% para 45,73%) no endividamento das famílias relativo a 12 meses,
entre janeiro e fevereiro, e também do comprometimento da renda com o
pagamento de dívidas.
A moderação no crédito é coerente com a desaceleração da atividade
econômica. Espelha, em especial, a relutância dos trabalhadores em
elevar as dívidas destinadas a manter o consumo, com preferência para o
crédito à moradia, que elimina o aluguel e significa investimento.
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