Le Monde
Mike Groll/AP
28.mai.2014
- O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fez uma ampla defesa
de sua política externa durante a cerimônia de formatura na academia
militar de West Point
O elegante intelectual
que ocupa a Casa Branca quis responder aos detratores de sua política
externa, na quarta-feira (28). Basicamente aqueles que criticam Barack
Obama por ele ser, no cenário internacional, menos um ator do que um
comentarista – muito bom, aliás...
O presidente havia escolhido a
prestigiosa academia militar de West Point, no Estado de Nova York,
para voltar a falar sobre sua visão do papel dos Estados Unidos no
mundo. Ele foi atacado tanto por parte da esquerda democrata quanto
pelos republicanos de obediência neoconservadora.Alguns o acusam de não ser suficientemente intervencionista. Eles criticam sua passividade, sua reticência em usar de força, enfim, uma apatia da qual chineses e russos estariam se aproveitando para se destacar às custas dos Estados Unidos. Obama, por ceder fácil demais ao humor isolacionista do país, estaria assim presidindo o declínio dos Estados Unidos no cenário internacional. À sua maneira, ou seja, com dignidade.
Primeiro presidente americano de uma era multipolar
É verdade, Obama tem algo professoral e isso é bom. Ele aprende com as experiências passadas. Como as de uma guerra do Iraque, que provocou reverberações cujo preço ainda está sendo pago pelo Oriente Médio. As de uma guerra do Afeganistão, que não foi vencida nem perdida. Ou até mesmo as lições de uma intervenção na Líbia, de consequências no mínimo ambíguas.
Ele entendeu as limitações daquilo que uma ação militar pode conquistar. Diante dos futuros oficiais do exército americano, ele observou: "Desde a Segunda Guerra Mundial, alguns de nossos erros mais custosos vieram não de nosso recuo, mas sim de nossa precipitação em embarcar em aventuras militares sem pensar nas consequências."
Ele constata, filosoficamente, que existem problemas sem solução – ou pelo menos para os quais os Estados Unidos não têm a solução. "Os tempos estão mudando", como cantava Bob Dylan: os Estados Unidos desse início de século 21 não são mais a hiperpotência que eles poderiam ser. Obama é o primeiro presidente americano de uma era multipolar, onde as potências emergentes querem seu lugar.
Estados Unidos, a "nação indispensável"
Tudo isso faz dele um realista, o que é até positivo. No entanto, repetindo uma expressão da ex-secretária de Estado, Madeleine Albright, Obama diz acreditar que os Estados Unidos continuam sendo "a nação indispensável" na manutenção dos grandes equilíbrios estratégicos.
E estes não estariam sendo ameaçados pelo neo-intervencionismo de Moscou em sua vizinhança e pelo ativismo agressivo da China no Pacífico? A questão ainda levanta uma segunda: o estilo Obama, todo reservado, sobretudo na questão síria, não incentivaria o Kremlin e o governo chinês a irem em frente com ações irreversíveis? Esse mesmo estilo, com todo seu distanciamento, não estaria forçando a abandonar a questão de Israel e Palestina sem nem mesmo uma briga política?
Obama passa a impressão de estar fugindo das dificuldades, mais do que as enfrentando. Talvez essa percepção seja injusta, mas na diplomacia o estilo conta – tanto quanto as ações.
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