Alicia González - El País
Mikhail Klimentyev/Reuters - 29.mai.2014
O
presidente russo, Vladimir Putin, participa de reunião em Astana, no
Cazaquistão, que marcou a criação da União Euroasiática, um novo bloco
econômico na região
As fichas do tabuleiro
que o presidente russo, Vladimir Putin, acaba de formar com seus
vizinhos do Cazaquistão e de Belarus não se explicam pelos números. A
União Econômica Euroasiática não representará uma grande diferença para
economias em sérias dificuldades e cujo padrão exportador se sobrepõe,
mais que se complementa.
Inclusive no melhor dos casos, afirma
Dimitri Petrov, analista do Nomura, "o impacto será muito pequeno, com
um aumento do PIB entre 0,1% e 0,2%".Desde 2009 esses três países já têm um acordo de livre comércio e nesse tempo quase não variou o fluxo comercial entre eles. As exportações da Rússia para esses dois países representam apenas 7% do total, enquanto o comércio da região com a China quase duplicou.
O impressionante mercado de 170 milhões de consumidores em um espaço equivalente a 15% da terra firme - segundo lembram em seu site na web - se dilui ao comparar as economias desses três países que juntos somam US$ 2,7 bilhões, pouco menos que o PIB da França.
Não são os números. De Hong Kong, Alicia García-Herrero, economista chefe para mercados emergentes da BBVA Research, insiste em que se chegou a essa união por duas vias.
"Por um lado, a pressão da Europa pelo oeste, com a questão da Ucrânia, e pelo leste a crescente dependência da China de países como Turcomenistão e o próprio Cazaquistão. A Rússia precisa recriar um colchão que lhe preserve dos dois lados, e esse pacto deve ser lido nesse contexto."
De fato, a China é o principal parceiro comercial dos países da Ásia Central e seu principal importador de gás e petróleo. Mas além disso é um investidor de crescente importância na zona e uma clara fonte de financiamento de projetos de infraestrutura. E tudo sem pressões para aumentar a integração política, como faz Moscou.
"Pequim busca entre outras coisas um aumento das estradas e das infraestruturas ferroviárias, o que lhe permitirá a exportação de produtos chineses para a região e também para a Europa", explicava em um artigo recente Konrad Zaszotowt, especialista do Instituto Polonês de Assuntos Internacionais.
Apesar da pompa com que se celebrou a assinatura, as questões pendentes se amontoam e sua importância não é menor. "Há muitos temas para resolver, especialmente os relacionados à compra de companhias estatais ou a comercialização comum de produtos energéticos", salienta Petrov.
E esses são dois temas chaves para a Rússia, mas também para o Cazaquistão. Ao contrário do que declararam, estão cada vez mais construindo infraestruturas próprias.
De fato, Astana está construindo uma usina de gás perto do campo de Karachaganak para deixar de depender de um complexo semelhante da Rússia em Oremburgo; a refinaria de Pavlodar processa cada vez menos cru da Sibéria e mais petróleo nacional, e a expansão da rede ferroviária lhe permite evitar a rede russa para escoar suas exportações.
Também não é por acaso que a assinatura desse pacto de integração ocorra apenas uma semana depois do acordo do gás com a China.
"Os dirigentes russos estão desejando provar para o resto do mundo que o país não está tão isolado economicamente como pretendem fazer crer no Ocidente", esclarece Liza Ermolenko, economista de mercados emergentes na Capital Economics, em Londres. Mas os números a contradizem.
"A entrada de capital estrangeiro na Rússia este ano será mínima, um pouco de investimento direto para manter projetos já em andamento e algum investimento esporádico em carteira", reconheceu nesta quinta-feira o Instituto de Finanças Internacionais.
Em consequência do conflito com a Ucrânia e a desaceleração na Turquia, a Europa emergente verá despencar os fluxos para a região em 25% entre 2013 e 2015. Não é uma grande forma de fazer amigos.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Nenhum comentário:
Postar um comentário