Cécile Ducourtieux, Frédéric Lemaître e David Revault D'allonnes - Le Monde
Bertrand Guay/AFP
O presidente da França, François Hollande, durante pronunciamento à imprensa no Palácio do Eliseu, em Paris
Será que os socialdemocratas europeus podem influenciar na política
europeia inspirada por Angela Merkel? Pela segunda vez em poucos meses,
François Hollande recebeu no sábado (30), no Palácio do Eliseu, todos os
membros do Conselho Europeu da família socialdemocrata – com exceção do
primeiro-ministro tcheco. Assim como em junho, o objetivo é "se
organizarem para chegarem alinhados" ao Conselho Europeu que seria
realizado à tarde, segundo um dos colaboradores do presidente da
República.
Para além da questão da Ucrânia e da dança das
cadeiras na chefia das instituições europeias, os dirigentes vindos da
esquerda concentram seus esforços sobretudo nas políticas monetárias e
orçamentárias, num momento em que o continente vem enfrentando duas
ameaças: estagnação e deflação. "Como a ação do Banco Central Europeu
(BCE) pode facilitar o acesso das empresas ao crédito? Como estimular os
investimentos na Europa"? Segundo o Palácio do Eliseu, é essa a questão
levantada pelos socialdemocratas em Bruxelas, assim como aquelas
relacionadas à redução dos déficits – "seu ajuste, seu ritmo e sua
coordenação."Além disso, foi com base nesses temas que François Hollande propôs, na quinta-feira, a realização de uma cúpula da zona do euro, com o objetivo sobretudo de apoiar uma nova iniciativa de crescimento e discutir as "flexibilidades" oferecidas pelo pacto de estabilidade. É um assunto muito polêmico, uma vez que essa ferramenta de disciplina orçamentária foi reforçada no auge da crise do euro. Segundo uma fonte de Bruxelas, o Conselho do dia 30 de agosto discutiu essa proposta de cúpula da zona do euro.
A França mais pressionada do que nunca
O único problema é que, diante de Angela Merkel, os dirigentes de esquerda não chegam em uma posição de força, a começar por François Hollande. No entanto, a presidência francesa garante que o episódio do remanejamento [ministerial] constitui uma "elucidação" em relação a parceiros europeus. A saída de Arnaud Montebourg, sua substituição por Emmanuel Macron e o discurso de Manuel Valls diante do Medef [patronato francês] também foram uma mensagem dirigida à Europa. Mas, para Bruxelas, a França está cada vez mais pressionada para finalmente colocar em ordem suas contas públicas, ou restabelecer a competitividade de suas empresas.O principal aliado de Paris para levantar o tema do crescimento é a Itália, ela mesma pressionada no plano econômico. O presidente do conselho, Matteo Renzi, até o momento tomou o cuidado de dar garantias à Alemanha, repetindo que seu país estava comprometido com o pacto de estabilidade e de crescimento (os famosos objetivos de déficit público a menos de 3% e de dívida pública inferior a 60%), e que Roma manteria um ambicioso programa de reformas.
"A Itália tem uma análise que vai no mesmo sentido que a nossa", afirma também a presidência francesa. De fato, a terceira maior economia da zona do euro tem uma voz que conta em Bruxelas: o país está presidindo a União Europeia desde o dia 1o de julho por seis meses e fez do crescimento na Europa uma de suas prioridades.
O crescimento no centro das prioridades de Juncker
Paris pode contar com uma conjuntura até favorável no nível da comunidade europeia. Dentro do Conselho Europeu, que reúne os chefes de Estado e de governo, as relações de força entre direita e esquerda se reequilibraram nos últimos anos.O próprio futuro presidente da Comissão, o luxemburguês Jean-Claude Juncker, membro do Partido Popular Europeu, foi eleito ao Parlamento graças a uma aliança entre seu partido e os socialdemocratas. O sucessor de José Manuel Barroso põe o crescimento no centro de suas prioridades. Ele chegou a anunciar que queria criar um grande plano de recuperação da UE, de 300 bilhões de euros em três anos. É três vezes menos do que o proposto por Paris, mas segue o mesmo princípio.
"A percepção da situação econômica está mudando na Comissão, e as declarações recentes de Mario Draghi, o presidente do BCE, que encoraja os países europeus a adotarem medidas de recuperação, surtiram efeito", observa um oficial europeu de alto escalão.
A reação do gabinete do comissário da Economia, Jyrki Katainen, na quinta-feira de manhã, após ter sido publicado o menor índice de confiança na zona do euro, em agosto, foi significativa. "Os gastos públicos deveriam ser mais voltados para a promoção do crescimento", afirmou o ex-premiê finlandês, tradicionalmente muito próximo das teorias de Angela Merkel.
Respeitar o pacto de estabilidade
O partido socialdemocrata alemão (SPD) tem um papel crucial nesse debate. Dois de seus representantes estiveram em Paris: Sigmar Gabriel, presidente do SPD, e Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu. Mas o primeiro se encontra em uma posição delicada. Vice-chanceler e ministro da Economia, ele evidentemente não pode se dissociar da política seguida pela chanceler.Além disso, para ultrapassar os 25% nas eleições legislativas e ter uma chance de vencer as eleições, o SPD está atualmente efetuando uma guinada à direita para seduzir a classe média e o meio empresarial. Tudo isso explica por que, embora em Paris Sigmar Gabriel defenda uma retomada do crescimento, ele lembra em cada um de seus discursos que para ele crescimento e consolidação orçamentária andam de mãos dadas. Exatamente o que Angela Merkel diz. Ele lembra também que é preciso respeitar o pacto de estabilidade e de crescimento. Todavia, diferentemente da chanceler, ele acredita que esse pacto pode ser "interpretado de forma inteligente". Mas ninguém no círculo próximo de Sigmar Gabriel realmente acredita em uma mudança no posicionamento alemão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário