domingo, 23 de novembro de 2014

Noruega ou Venezuela? As consequências do escândalo na Petrobras
Rodrigo Constantino - VEJA
O programa Painel, da Globo News, recebeu os economistas Bolívar Lamounier, José Roberto Mendonça de Barros e Eduardo Giannetti, para falar sobre as consequências do escândalo na Petrobras. O jornalista que os entrevistou foi Ernesto Paglia. Recomendo aos leitores que assistam na íntegra.
Os três tocaram nos principais pontos, em minha opinião, e souberam mostrar como se trata de um caso peculiar, não de “apenas” mais um escândalo de corrupção. O jornalista tentou com frequência fazer o papel de advogado do diabo, literalmente, ao procurar aliviar para o lado do PT, como se fosse algo antigo, ou fruto do financiamento privado de campanha, que necessitaria de uma reforma política, leia-se financiamento público, para ser combatido ou mitigado.
Lamounier deixou claro não ser o caso, até porque o esquema de desvio nas estatais já usa o financiamento ilegal de campanha, e nada mudaria ao se proibir empresas privadas de bancar as milionárias campanhas eleitorais. Esse discurso insistente em reforma política e financiamento público de campanha é cortina de fumaça para ludibriar o leigo, para fazê-lo pensar que, com ele, o esquema na Petrobras não teria ocorrido. Teria, pois foi uma quadrilha que se instalou na estatal, e faria isso do mesmo jeito se as empreiteiras não pudessem doar por dentro para os partidos, pois doariam por fora.
Os três economistas deixaram claro o risco que isso tudo representa para nossa maior empresa estatal. Seu programa de investimentos é gigantesco, e vai faltar caixa. Giannetti previu que será inevitável um aumento de capital na empresa, ou seja, o Estado terá que usar recursos públicos para injetar mais dinheiro na empresa, que já tem uma das maiores dívidas do mundo. Falou-se abertamente em destruição da Petrobras, que estaria em curso.
Mendonça de Barros chamou a atenção para o que isso representa para toda uma cadeia produtiva, que envolve várias empresas fornecedoras indiretas da Petrobras. O impacto poderá ser grande. Criticou ainda o foco excessivo do governo em “soldar casco de navio” como se fosse um grande avanço para o país, enquanto o mundo vive na era da informação e do conhecimento, e que o verdadeiro valor agregado está em outras áreas, como a de serviços, que conta com dezenas de empresas internacionais atuando no país.
Por fim, Giannetti resumiu muito bem o que está em jogo, uma escolha entre Noruega ou Venezuela, dizendo que tentou fomentar esse debate durante a campanha eleitoral, uma vez que foi assessor de Marina Silva, mas sem muito êxito. Na Venezuela, os ganhos do petróleo foram direto para o orçamento estatal, a garantia de uso irresponsável, populista e demagogo. Na Noruega, o próprio Parlamento blindou os recursos por meio de um fundo soberano que não pode ser tocado pelos políticos.
Claro que o Brasil sob o PT optou pelo caminho venezuelano, e o pré-sal entrou diretamente no orçamento do governo, até mesmo aquilo que ainda nem foi produzido. Mesmo que se fale em carimbar o dinheiro para a educação, não é isso o ideal. Giannetti pergunta: será que é bom para o país alguém como Garotinho, por exemplo, ter acesso a essa montanha de recursos para “investir” em educação? A Noruega fez algo muito mais inteligente, mas todos concordaram que era quase impossível o Brasil resistir à tentação e seguir na mesma linha.
O pessimismo com o futuro da Petrobras e seu impacto em nossa economia, portanto, foi grande. Ninguém ali acha que Dilma aprenderá importantes lições a ponto de alterar completamente os rumos atuais. Mesmo com a provocação “poliana” do entrevistador, o tom foi sombrio, de alerta total. Vem chumbo grosso aí…
Link para a entrevista: http://g1.globo.com/globo-news/globo-news-painel/videos/t/globonews-painel/v/painel-o-escandalo-de-corrupcao-na-petrobras-e-suas-consequencias/3784504/

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