Rodrigo Constantino - VEJA
O programa Painel, da Globo News,
recebeu os economistas Bolívar Lamounier, José Roberto Mendonça de
Barros e Eduardo Giannetti, para falar sobre as consequências do
escândalo na Petrobras. O jornalista que os entrevistou foi Ernesto
Paglia. Recomendo aos leitores que assistam na íntegra.
Os três tocaram nos principais pontos, em
minha opinião, e souberam mostrar como se trata de um caso peculiar,
não de “apenas” mais um escândalo de corrupção. O jornalista tentou com
frequência fazer o papel de advogado do diabo, literalmente, ao procurar
aliviar para o lado do PT, como se fosse algo antigo, ou fruto do
financiamento privado de campanha, que necessitaria de uma reforma
política, leia-se financiamento público, para ser combatido ou mitigado.
Lamounier deixou claro não ser o caso, até porque o esquema de desvio nas estatais já usa o financiamento ilegal
de campanha, e nada mudaria ao se proibir empresas privadas de bancar
as milionárias campanhas eleitorais. Esse discurso insistente em reforma
política e financiamento público de campanha é cortina de fumaça para
ludibriar o leigo, para fazê-lo pensar que, com ele, o esquema na
Petrobras não teria ocorrido. Teria, pois foi uma quadrilha que se
instalou na estatal, e faria isso do mesmo jeito se as empreiteiras não
pudessem doar por dentro para os partidos, pois doariam por fora.
Os três economistas deixaram claro o
risco que isso tudo representa para nossa maior empresa estatal. Seu
programa de investimentos é gigantesco, e vai faltar caixa. Giannetti
previu que será inevitável um aumento de capital na empresa, ou seja, o
Estado terá que usar recursos públicos para injetar mais dinheiro na
empresa, que já tem uma das maiores dívidas do mundo. Falou-se
abertamente em destruição da Petrobras, que estaria em curso.
Mendonça de Barros chamou a atenção para o
que isso representa para toda uma cadeia produtiva, que envolve várias
empresas fornecedoras indiretas da Petrobras. O impacto poderá ser
grande. Criticou ainda o foco excessivo do governo em “soldar casco de
navio” como se fosse um grande avanço para o país, enquanto o mundo vive
na era da informação e do conhecimento, e que o verdadeiro valor
agregado está em outras áreas, como a de serviços, que conta com dezenas
de empresas internacionais atuando no país.
Por fim, Giannetti resumiu muito bem o
que está em jogo, uma escolha entre Noruega ou Venezuela, dizendo que
tentou fomentar esse debate durante a campanha eleitoral, uma vez que
foi assessor de Marina Silva, mas sem muito êxito. Na Venezuela, os
ganhos do petróleo foram direto para o orçamento estatal, a garantia de
uso irresponsável, populista e demagogo. Na Noruega, o próprio
Parlamento blindou os recursos por meio de um fundo soberano que não
pode ser tocado pelos políticos.
Claro que o Brasil sob o PT optou pelo
caminho venezuelano, e o pré-sal entrou diretamente no orçamento do
governo, até mesmo aquilo que ainda nem foi produzido. Mesmo que se fale
em carimbar o dinheiro para a educação, não é isso o ideal. Giannetti
pergunta: será que é bom para o país alguém como Garotinho, por exemplo,
ter acesso a essa montanha de recursos para “investir” em educação? A
Noruega fez algo muito mais inteligente, mas todos concordaram que era
quase impossível o Brasil resistir à tentação e seguir na mesma linha.
O pessimismo com o futuro da Petrobras e
seu impacto em nossa economia, portanto, foi grande. Ninguém ali acha
que Dilma aprenderá importantes lições a ponto de alterar completamente
os rumos atuais. Mesmo com a provocação “poliana” do entrevistador, o
tom foi sombrio, de alerta total. Vem chumbo grosso aí…
Link para a entrevista:
http://g1.globo.com/globo-news/globo-news-painel/videos/t/globonews-painel/v/painel-o-escandalo-de-corrupcao-na-petrobras-e-suas-consequencias/3784504/
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