Reinaldo Azevedo - VEJA
Danilo
Gentili que se cuide! Outros grandes do stand up ponham as barbas de
molho. O meu amigo Carioca, o maior humorista e imitador do Brasil —
porque bem informado, o que faz toda a diferença —, que se prepare para a
batalha. Eduardo Sterblitch, que conferiu método ao nonsense, não mais
dormirá em paz. Há um novo competidor na praça. Perto de ficar
desempregado, o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da
Presidência, está no mercado. Depois de ter respondido por alguns dos
maiores desastres do governo Dilma, ele resolveu entrar no ramo da
graça. Agora ele decidiu ser piadista.
Vamos ver.
O modelo tipicamente petista para a economia produz inflação no teto da
meta, juros cavalares de 11,25% ao ano, déficit na balança comercial,
déficit em transações correntes, déficit no governo central e déficit
nas contas públicas. Não só isso: ainda que a estatal não tivesse sido
vítima de um assalto organizado, os companheiros teriam levado a
Petrobras, a maior empresa do país, à beira do abismo, uma vez que
usaram o preço dos combustíveis para fazer política econômica das mais
vagabundas.
O sistema
tributário brasileiro virou um samba-do-petismo-doido, com um festival
de desonerações e incentivos que não conseguiram impedir que a indústria
vivesse o pior momento de sua história. O país está de mãos atadas,
preso a um Mercosul que virou um fardo. O modelo petista, em suma, tem,
em razão da conjuntura internacional, um breve passado de atenuação da
miséria — chamar o modelo de “distribuição de renda” é mais do que falta
de rigor técnico; é falta de vergonha na cara — e não tem futuro
nenhum.
Com a
falência do modelo petista, revelada pela saída melancólica do ministro
Guido Mantega, Dilma teve de chamar aquele que os petistas e as
esquerdas no geral consideravam o satã de um tal “neoliberalismo”, uma
corrente de pensamento econômico inventada pela mente perturbada de
esquerdistas. Seu nome é Joaquim Levy, oficializado hoje como futuro
ministro da Fazenda e homem da transição. A presidente fará a transição
de Dilma para Dilma, e Levy prepara o terreno para a posse de Levy. A
concorrência no mundo da comédia é grande. Mesmo os humoristas a favor —
uma categoria asquerosamente crescente no Brasil — acabarão enfrentando
dificuldades. Mas sigamos.
Nesta
quinta, vendo-se na contingência de explicar o nome de Levy como
ministro da Fazenda, afirmou o comediante involuntário Gilberto
Carvalho: “Sinceramente só vejo com bons olhos a nomeação do Levy. E é
evidente que, ao aceitar ser ministro desse projeto, ele está aderindo a
esse projeto e à filosofia econômica desse projeto. O nome dele é
importante porque, pela trajetória dele, ele traz uma credibilidade, ele
contribui com o nosso projeto”.
Uau! É
verdade! Então podemos esperar de Levy um modelo que produza déficits
crescentes, que fraude a Lei de Diretrizes Orçamentárias, que faça os
gastos subir a um ritmo muito superior à arrecadação, que avance no
caixa como se não houvesse amanhã, que capte dinheiro no mercado a
11,25% ao ano para emprestar a alguns nababos a 5%. Já cheguei a achar
que Carvalho não batesse bem dos pinos. Hoje, me vi tentado a ter a
certeza disso. Mas não! Como diria Polônio, a personagem de Hamlet, de
Shakespeare, não se trata de loucura, mas de método.
Segundo a
metafísica campanheira, tudo cabe no PT: uma tese e também o seu
contrário. Imaginem Aécio vitorioso e se vendo obrigado a reajustar os
combustíveis e a tarifa de energia elétrica, elevando a taxa de juros,
anunciando, adicionalmente a diminuição do papel do BNDES na economia… É
claro que os petistas botariam o bloco na rua, não é mesmo? Como são
eles a implementar tais medidas, então estas passam a ser legítimas e
encaradas como progressistas.
Não me espanta que essa gente trate corruptos comprovados como “heróis do povo brasileiro”.
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