Reinaldo Azevedo - VEJA
O governo federal teve uma ideia genial diante da reportagem de
VEJA evidenciando que, em 2009, tanto o então presidente Lula como a
então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, poderiam ter dado um murro
na mesa e interrompido a roubalheira na Petrobras — caso fosse, claro!,
do interesse do petismo fazê-lo. Em vez de dar uma reposta decente, o
governo preferiu ofender a VEJA.
Só para
lembrar: computadores do Palácio do Planalto apreendidos pela PF na
operação que investigava as lambanças de Erenice Guerra, amigona da
agora presidente, trazem um e-mail de Paulo Roberto Costa a Dilma
alertando o governo que o TCU havia apontado irregularidades na
construção das refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e Getúlio Vargas,
no Paraná, e no terminal do porto de Barra do Riacho, no Espírito
Santo. O tribunal recomendara a suspensão de repasse de verbas para
esses empreendimentos, o que o Congresso acatou. Paulo Roberto, mero
diretor de Abastecimento da Petrobras, acreditem!, recomendava que o
governo buscasse uma “saída política” para manter o fluxo de verbas, a
exemplo do que se fizera em 2007 e 2008. A “solução” veio: Lula vetou a
suspensão dos recursos, o dinheiro continuou a fluir, e a roubalheira se
manteve intocada.
Ora que
mimo! Um diretorzinho da Petrobras — que agora confessa ter sido o homem
que gerenciava a propina do PP, repassando recursos também para o PT —
estimula uma ministra de Estado, que também presidia o Conselho da
Petrobras, a ignorar os alertas de desvios de recursos feitos pelo TCU.
O Planalto
foi indagado a respeito do e-mail. Ignorou o assunto e afirmou que o
governo, então, encaminhou as restrições do TCU à Controladoria-Geral da
União. Como se sabe, nada aconteceu. Não fosse Youssef ser investigado
pela PF, que chegou ao descalabro na Petrobras, tudo teria continuado na
mesma. Publicada a reportagem, o Palácio do Planalto preferiu sair com
uma nota malcriada contra a revista.
Não é, claro!, a primeira vez. Quando VEJA trouxe a primeira reportagem com
detalhes do esquema, relatados por Paulo Roberto na delação premiada,
as baterias do PT e do Planalto se voltaram contra a… revista! Dilma
admitiu pela primeira vez a existência da roubalheira há meros 37 dias,
em 18 de outubro.
Reação igualmente bucéfala aconteceu quando a revista informou que
Alberto Youssef havia afirmado, no âmbito da delação premiada, que
Dilma e Lula sabiam de tudo. A mesma informação foi publicada depois por
todos os veículos de comunicação relevantes. Mas só a VEJA virou alvo
da fúria oficial.
Muito bem!
O líder da oposição no Congresso, Ronaldo Caiado (DEM-GO), quer que
Dilma e Lula sejam convocados a depor na CPI da Petrobras. E diz de modo
muito lógico: “Ela disse que não vai deixar pedra sobre pedra e que ela
está disposta a aprofundar toda a investigação. Nada mais justo do que
ela ir à CPI para esclarecer, em primeiro lugar, a fala do Alberto
Youssef e, agora, esse e-mail do Paulo Roberto Costa”. Ele informa que a
primeira convocação a ser solicitada, entretanto, será a do
ex-presidente Lula, que comandava o governo à época e que ignorou a
recomendação do TCU e liberou os recursos para as obras garantindo,
desse modo, a indústria dos desvios.
Pois é…
Todas as ofensas dirigidas contra a VEJA não conseguiram impedir que os
fatos começassem a vir à tona. Só um dos investigados na operação, Pedro
Barusco, da cota do PT, se dispõe a devolver aos cofres públicos US$
97 milhões roubados da Petrobras naquele escândalo cuja existência Dilma
se negava a reconhecer.
O Palácio ofende VEJA. E os fatos ofendem o Palácio.
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