Rodrigo Constantino - VEJA
Em poucos dias Joaquim Levy deve ser
confirmado como o novo ministro da Fazenda, substituindo Guido Mantega.
Após um convite feito a Luiz Trabuco, presidente do Bradesco, que
declinou, o diretor-superintendente do Bradesco Asset Managment (Bram)
deve ser o novo responsável pela condução da política econômica.
A notícia animou os mercados, pois os
investidores enxergam em Levy a seriedade necessária para o resgate da
credibilidade perdida. Seria a sinalização de que Dilma pretende dar uma
guinada à “direita”, adotando postura mais ortodoxa no segundo mandato.
De fato, Levy goza do respeito dos
investidores. Como Secretário do Tesouro Nacional durante o primeiro
mandato de Lula, e também tendo atuado como Secretário da Fazenda no
governo de Sérgio Cabral, Joaquim Levy ganhou a fama de duro na hora de
abrir os cofres, reputação fundamental para ser um bom ministro da
Fazenda, alguém que precisa dizer “não” com muita frequência aos anseios
perdulários dos governantes.
Justamente por isso, por ter sido visto
como um negociador firme e com “mãos de tesoura”, a escolha desperta
mais dúvidas do que certezas. Será que Dilma realmente está disposta a
abrir mão do controle da economia, para deixá-lo nas mãos de alguém com
autonomia para negá-la pedidos e favores eleitoreiros? Será que a equipe
dele terá novos nomes capazes de desafiar a mentalidade predominante no
governo atual?
Levy é doutor pela Universidade de
Chicago, uma das mais respeitadas do mundo e com vários liberais
conhecidos, como o Prêmio Nobel Milton Friedman. Como um ortodoxo vai
lidar com tantos desenvolvimentistas, que acreditam nos gastos públicos
crescentes como uma espécie de panaceia? Como será esse embate
ideológico dentro do próprio governo? Dilma acordou mesmo para seus
erros, ou está apenas tentando ludibriar os investidores e ganhar tempo?
As próximas decisões deixarão mais claro
qual é o caso. De minha parte, desconfio bastante, infelizmente,
tratar-se da segunda alternativa. Dilma se convenceu que deveria fazer
alguma concessão, sinalizar que escutou um pouco as reclamações dos
investidores, mas em sua cabeça basta isso, um ato cordial, uma
indicação amigável, e tudo voltará ao “normal” depois. Ou seja, o
nacional-desenvolvimentismo seguirá seu curso, com ou sem Levy.
A jornalista Miriam Leitão resumiu bem a questão em sua coluna deste sábado:
Concordo. Será que Levy aceita rasgar sua
reputação e suas crenças para contemporizar com os desenvolvimentistas?
Acho pouco provável. O que nos deixa as duas outras opções: ou a
presidente Dilma realmente decidiu mudar e deixar de ser ela mesma,
ainda que reeleita, ou Levy não será ministro por tanto tempo. Eu
apostaria nessa última alternativa…
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