Petrobras ressarciu construtora até por descoberta de formiga em extinção
Empresa aceitou pagar extra de R$ 64,3 milhões por presença de saúva, entre outros motivos
Thiago Herdy - O Globo
A descoberta de formigas ameaçadas de extinção da espécie Atta
robusta, mais conhecida como saúva-preta, em área de uma obra da
Petrobras, foi um dos motivos para a Mendes Júnior Engenharia, outra
empresa investigada no âmbito da Lava-Jato, cobrar ressarcimentos depois
que o contrato já estava encerrado, por meio de transação
extrajudicial. A empresa havia recebido R$ 493,5 milhões para prestar
serviços no Terminal Aquaviário de Barra do Riacho, em Aracruz (ES). Em
dezembro de 2010, a Petrobras aceitou pagar um extra de R$ 64,3 milhões
por razões diversas, entre elas “dificuldades geradas por motivos de
ordem ambiental”.
Uma comissão de negociação da estatal cobrou da Mendes Júnior mais
provas dos prejuízos com as formigas, que foram localizadas em 16% da
área da obra. A empresa não as apresentou, mesmo assim conseguiu
negociar o pagamento por horas adicionais de seus funcionários na obra. O
trabalho na área foi liberado apenas 15 dias depois da descoberta da
espécie.
Em
outra negociação extrajudicial, a Mendes Júnior obteve R$ 20,8 milhões
além dos R$ 49,9 milhões que havia recebido por uma adutora na Refinaria
Duque de Caixas, na cidade homônima, no Rio de Janeiro. O contrato foi
assinado em março de 2003 e encerrado em setembro de 2005. Dois anos
depois, a empresa conseguiu receber o pagamento extra alegando atraso na
entrega de materiais por parte da Petrobras, "interação com a
comunidade de forma imprevista", a ocorrência de chuvas excepcionais e
até a condição do solo.
"Nos locais das travessias dos rios o solo comportava-se muitas vezes
de maneira imprevisível, demandando o uso de procedimentos não
convencionais", argumentou. Procurada pelo GLOBO, a construtora não quis
se pronunciar.
Outras empresas investigadas no âmbito da Lava-Jato também celebraram
transações extrajudiciais com a Petrobras com apoio de Duque e Barusco,
como Camargo Corrêa (R$ 69,7 milhões foram pagos dessa forma), Queiroz
Galvão (R$ 61,6 milhões) e IESA (R$ 44,5 milhões). O maior volume pago
nesta modalidade com a ajuda dos dois funcionários investigados, no
entanto, quem recebeu foi a fornecedora estrangeira Acergy (R$ 230,8
milhões).
Registros de reuniões da Diretoria Executiva da estatal mostram que
era comum Duque solicitar que os acordos continuassem em pauta por pelo
menos uma semana, gerando o registro deste ato em pauta. O acordo era
sempre aprovado na reunião seguinte.
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