O pior cego
Dora Kramer -OESP
Vejam só o senhor e a senhora que curiosa
essa notícia de que o PT encomendou pesquisa para saber que história é
essa de tantos brasileiros manifestarem rejeição ao partido. Por que
será?
No mundo da lua, realmente seria caso de
investigação profunda. Seguida de amplo debate para detectar as razões,
definir responsabilidades e providenciar uma arrumação na casa. Doa em
quem doer.
Consta que os petistas estão assustados com o
clima da campanha e os resultados das últimas eleições. Não sabiam de
nada - como é de praxe no partido - a respeito da insatisfação
disseminada País afora com o acúmulo de desmandos dos seus anos de
exercício de poder.
Ficaram especialmente espantados com o
ocorrido em São Paulo, onde estavam certos de que bastaria somar o
natural desgaste dos governos tucanos à novidade de mais uma invenção de
Lula, contar com a submissão do PMDB fazendo papel de sublegenda no
Estado e esperar que a seca se encarregasse do resto.
Deu-se
na vida real que a fiança dos postes perdeu prazo de validade, a
longevidade do PT no Planalto revelou-se mais cansativa, o candidato do
PMDB preferiu prudente distância e os paulistas, em sua maioria,
resolveram dizer em alto e bom som que andavam fulos da vida.
Trata-se,
obviamente, de resumo simplificado de um quadro mais complexo cuja
amplitude, variadas as dimensões, alcançam todo o Brasil. Razões que
qualquer cidadão razoavelmente informado não ignora.
De
onde é espantoso o fato de um político com a sensibilidade e o tirocínio
político de Lula não ter captado a mudança de ares no ambiente. Tão
incrível quanto seu desconhecimento enquanto presidente sobre o método
de organização da base de sustentação do governo no Congresso, local
composto por maioria de "picaretas", conforme sua avaliação quando lá
conviveu como deputado.
De modo semelhante intriga como
Dilma Rousseff, uma servidora exigente, competente, detalhista e
centralizadora, possa jamais ter-se dado conta, enquanto ministra das
Minas e Energia, chefe da Casa Civil e presidente da República, de que
havia superfaturamento nos contratos da Petrobrás, a despeito dos
alertas do Tribunal de Contas da União.
Diga-se, ignorados
também pelo Congresso, cuja maioria governista manteve o veto do então
presidente Lula a uma decisão que suspendia obras da Petrobrás na qual
havia indícios de corrupção. Na mesma época ele fazia discursos
criticando duramente órgãos de fiscalização, como o TCU, dizendo que
"atrapalhavam" o andamento de obras.
Em mais de uma ocasião
Lula desqualificou instituições. A Justiça Eleitoral, por exemplo, por
diversas vezes, chegando a debochar do valor das multas e transigindo as
regras de maneira explícita. Da mesma forma, dava abrigo a atos
incorretos e antiéticos de seus aliados, como José Sarney durante crise
devido a privilégios no Senado e Renan Calheiros enquanto enfrentava
processo de quebra de decoro.
Do alto de uma altíssima
aprovação popular, Lula fez, aconteceu, desfez e o partido seguiu o
modelo de completa arrogância, tratando os escândalos que surgiam
jogando o lixo para baixo do tapete, contando uma mentira atrás da
outra, acreditando poder fazer o Brasil todo de bobo.
Ao
ponto de insistir que o mensalão não existiu e que o Supremo havia
atuado como tribunal de exceção, enquanto a prisão dos companheiros era
vista pelo País como um avanço institucional.
Agora o PT
não compreende o motivo de ser alvo de tanta "intolerância" e
"preconceito". Para desvendar o mistério, encomendou uma pesquisa para
consultar os eleitores de todo o Brasil a respeito.
Perceberam
o senhor e a senhora? O partido só passou a se preocupar com a opinião
do público sobre suas condutas diante do risco eleitoral. Deve ser por
isso, por não ouvir, não querer ver e ter como única referência o poder é
que as coisas acontecem e ninguém sabe de nada no PT.
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