Recuo improvável
João Bosco Rabello - OESP
A presidente Dilma Rousseff atravessa agora a
etapa da reação da base aliada, mais especificamente do PT e do PMDB, às
nomeações não anunciadas oficialmente, mas confirmadas
extra-oficialmente, para a área econômica e do ministério da Agricultura
para seu segundo mandato.
São reações esperadas, talvez mais aguerridas pela
falta de aviso pévio da presidente. O que sinaliza também para a
orientação aplicada a essa etapa: são nomes que ela não admite discutir
no contexto das negociações para ocupação do ministério.
Nesse caso, as decisões da presidente não poderão
sofrer recuo, sob pena de uma demonstração de vulnerabilidade diante da
pressão de uma base parlamentar que precisa se submeter às
circunstâncias de crise que marcam o início do segundo mandato.
A receita para a economia é ortodoxa, o que impõe um
perfil ortodoxo para a sua condução e que torna a discussão sobre
conservadorismo e desenvolvimentismo inútil no presente. A nomeação de
Nelson Barbosa para o Planejamento, é, nesse sentido, um contraponto
aceitável para Joaquim Levy , que terá com ele uma interlocução com um
desenvolvimentista.
A outra nomeação, da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO),
para a Agricultura, é mais fácil de compor com o PT do que com o PMDB.
Para compensar o PT, este terá Miguel Rosseto na Secretaria-Geral da
Presidência, entre outros.
A reação maior a Kátia é do PMDB – e não pelos
motivos até aqui arrolados pelo partido: sua condição de
“neo-peemedebista”, ou sua suposta indiferença com a agricultura
familiar. A reação se deve à inconformação do partido com a perda de um
feudo que domina há muitos anos, sem eficiência e, não raras vezes, com
escândalos, como o que retirou de cena o ex-ministro da pasta, Wagner
Rossi.
Anunciada mesmo extraoficialmente, Kátia deve ficar
com o ministério. Voltar atrás para Dilma seria mais que ceder a uma
reclamação da base: seria capitular diante do líder do PMDB, Eduardo
Cunha (RJ), com quem trava renitente duelo e cuja candidatura à
presidência da Câmara desafia a liderança da presidente sobre a base.
Já de outras vezes, ficou claro que o líder do PMDB
não abre mão da influência do partido para os cargos da Agricultura, a
começar pela cadeira do ministro. O faz legitimamente e com aval da
bancada, mas uma vez tendo a presidente dado o passo sem consulta ao
partido – ao que tudo indica, mesmo ao vice Michel Temer -, estabeleceu o
fato consumado.
Dilma pretende redimensionar o papel do ministério da
Agricultura, podendo mesmo fazer retornar à Pasta a Secretaria da
pesca, hoje com status de ministério, mergulhada em ineficiência e
com problemas legais como o da distribuição de benefícios para muito
além dos pescadores.
O ministério será caracterizado como gestor de um
segmento da economia que mais contribui para o PIB nacional. Precisará
ser visto como fomento da alimentação interna e externa, com um pé nas
pesquisas, via Embrapa, e outro na infraestrutura, que o liga, pelos
interesses do setor, aos meios de distribuição da produção.
A etapa posterior à da reação deverá comprometer a
presidente com um esquema de compensação ao PMDB que, segundo o
vice-presidente Michel Temer, responsável pela filiação de Kátia Abreu
ao partido, se dará durante o mês de dezembro.
A escolha de Joaquim Levy para a Fazenda também
parece irreversível, a menos que se admita uma derroita presidencial
antes de começar o segundo mandato -e, pior, para a própria base de
sustentação. A repercussão positiva de Levy na Fazenda já se fez sentir
com as reações favoráveis do mercado e de renomados economistas.
O próprio PT exibe uma crítica quase burocrática, já
substituída pelas manifestações e apoio de suas lideranças no Senado.
Além disso, o ex-presidente Lula é o fator moderador no contexto – ele
mesmo um defensor da nomeação de um perfil ortodoxo para a Pasta, que
fazia recair no ex-presidente do Banco central, Henrique Meirelles.
Joaquim Levy é uma nomeação que neutraliza, em parte,
o discurso oposicionista de irresponsabilidade do governo na condução
da economia daqui em diante. Sua presença no governo atende ao
receituário que o PSDB pregou na campanha, o que rende o discurso de
estelionato eleitoral, mas na prática cria uma dificuldade para a
oposição.
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