A equação de Dilma
José Paulo Kupfer - OESP
O processo de definição dos nomes que vão
compor a equipe econômica, na partida do segundo mandato de Dilma
Rousseff, é um caso clássico do peculiar estilo de comunicação da
presidente. Mesmo tendo escolhido economistas cujo perfil atende aos
reclamos de uma necessária correção de rumos na condução da economia,
Dilma produziu tensão, incertezas e desconfianças. Desagradou à esquerda
e à direita, deixando com um pé atrás a faixa do centro que viu as
indicações com bons olhos. Está claro que, no segundo mandato, vencer a
batalha da comunicação, campo em não tem mostrado habilidade nata, será
crucial para Dilma.
Não há dúvida sobre a filiação
ideológica do indicado para a Fazenda, Joaquim Levy - o economista é um
fiscalista militante. Mas também não há dúvida de que os desarranjos nas
contas públicas se tornaram, ao cabo do primeiro governo Dilma, a mãe
dos desequilíbrios macroeconômicos que hoje se refletem em pressões
inflacionárias, cambiais e no setor externo, contribuindo para
constranger o crescimento e ameaçar os ganhos sociais das últimas duas
décadas. Um nome como o de Levy, tudo isso considerado, deveria fazer
sentido. Só que, no ambiente contaminado do momento, detonou reações
negativas para todos os lados.
Sua escolha por Dilma é um
reconhecimento tácito de que fracassaram os experimentos de política
econômica do primeiro mandato e, de fato, não promoveram os benefícios
esperados. Passado o embate eleitoral, deveria importar menos a
impressão de que Levy estaria melhor num governo oposicionista do que o
fato de a decisão de convidá-lo representar um bem-vindo aceno à
mudança, na direção de um ajuste.
Ninguém pode negar que o
figurino ideológico que veste bem em Levy, o economista com doutorado
na Universidade de Chicago, meca do pensamento econômico ortodoxo, é o
do formulador de políticas liberais. Contudo, essa constatação, isolada,
não autoriza a concluir que seu nome não foi digerido pela direção do
PT, como tem circulado. É possível assegurar que, nessa esfera, não
houve veto, ao contrário do que possivelmente ocorreria se a preferência
recaísse no ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.
A
comunicação tumultuada na divulgação dos nomes da equipe econômica não
permitiu que se tivesse a menor ideia das atribuições delegadas aos
escolhidos - um ponto-chave da equação do novo governo. Não se pode
esquecer que é comum, nas montagens de equipes ministeriais, adaptar as
tarefas e objetivos das Pastas não só às necessidades do momento na
economia, mas também aos da política e até ao perfil dos escolhidos.
Fazenda e Planejamento, por exemplo, já desempenharam desde as funções
críticas de formulação e condução das grandes políticas até a mera
atividade de acompanhar Orçamentos. De Simonsen-Velloso, no governo
militar, até Mantega-Belchior, em Dilma 1, passando por Malan-Serra, nos
primeiros tempos de FHC e Palocci-Mantega, no Lula 1, esses arranjos
são a regra, não a exceção.
Com Levy e o ex-secretário
executivo da Fazenda Nelson Barbosa, de perfil moderadamente
desenvolvimentista, no Planejamento, a montagem que parece definida para
o segundo mandato de Dilma lembra a que inaugurou os anos Lula. Tanto
naquele tempo quanto agora, um governo mais à esquerda iniciou o mandato
em meio a desajustes macroeconômicos, com um grupo mais ortodoxo na
Fazenda e outro mais heterodoxo no Planejamento. Funcionou.
Sim,
há diferenças marcantes entre um período e outro. A principal delas é
que, na entrada dos anos 2000, a economia global se encontrava numa
etapa ascendente e agora vive uma fase de baixa, com risco de se
estender. Outra remete às características pessoais de Lula e Dilma. É
sabido que a presidente tem sido insistentemente aconselhada a deixar os
ministérios a cargo dos ministros. Mas seu histórico intervencionista
faz com que ainda prevaleçam justificadas desconfianças.
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