Reinaldo Azevedo - VEJA
O
que se vai narrar abaixo é uma história de ousadia — e de ousadia
criminosa. Sim, meus caros: segundo um dos presos que contou detalhes do
esquema de roubalheira incrustado na Petrobras, houve pagamento de
propina mesmo depois de deflagrada a Operação Lava Jato. Prestem
atenção!
Erton
Medeiros Fonseca, da Galvão Engenharia, já admitiu que pagou, sim,
propina à quadrilha que atuava na Petrobras. E um dos intermediários da
roubalheira, segundo ele, é alguém que entra tardiamente no relato das
tramoias, mas que, tudo indica, era muito bem relacionado: Shinko
Nakandakari. Segundo Erton, Shinko atuava como operador do esquema de
corrução comandado por Renato Duque, o petista que era diretor de
Serviços e homem de José Dirceu na Petrobras.
Outro
subordinado de Duque, Pedro Barusco, não custa lembrar, já admitiu
devolver, calculem vocês!, US$ 97 milhões. Segundo informa o Globo, “os
advogados de Fonseca entregaram nesta segunda-feira à Justiça Federal do
Paraná várias notas fiscais relativas à propina. Elas foram emitidas a
favor da LFSN Consultoria e Engenharia, no valor de R$ 8,863 milhões, e
teriam como finalidade pagar a propina a políticos”.
A LFSN
Consultoria pertence a Shinko Nakandakari, Luís Fernando Sendai
Nakandakari, que seria filho dele, e a Juliana Sendai Nakandakari. O
endereço informado à Receita Federal, segundo o Globo, é um apartamento
num prédio residencial no bairro do Brooklin, na Zona Sul de São Paulo,
que está em nome de Luís Fernando.
Sabem o
que impressiona? A ousadia da turma e a aposta na impunidade. Aqueles
quase R$ 9 milhões em propina foram pagos entre 2010 e 2014, enquanto o
processo do mensalão corria no Judiciário. Só isso? Não! A última nota
fiscal é de 25 de junho de 2014, dois meses depois de deflagrada a
operação Lava Jato. Os advogados de Fonseca entregaram nesta segunda à
Justiça Federal do Paraná algumas notas fiscais referentes ao
propinoduto.
Shinko não
é desconhecido da Polícia e da Justiça. Ele é um dos denunciados num
processo de improbidade administrativa envolvendo a construtora Talude,
que foi contratada pela Infraero para obras no aeroporto de Viracopos,
em Campinas. O valor inicial do contrato, assinado em 2000, foi de R$
13,892 milhões. Seis meses depois da assinatura, foi feito um aditivo de
R$ 1,904 milhão. O segundo aditivo, de R$ 1,540 milhão, ocorreu em
2011. Para o Ministério Público Federal, não havia razões para firmar os
aditivos, que tornaram a obra mais cara. O caso está na Justiça.
Convenham:
ainda que este senhor realmente fosse um prestador de serviços
convencional, a sua ficha já não o autorizaria a celebrar contratos com a
Petrobras. Mas sabem como é… Os patriotas não dão bola para isso.
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