Reinaldo Azevedo - VEJA
Dia
desses, um dos colunistas de nariz marrom da imprensa brasileira,
acostumado a escrever de joelhos, estranhava que Dilma Rousseff tivesse
escolhido Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Afinal, argumentava
ele, o homem é um “conservador”, um crítico da política econômica em
curso. E, segundo o “desanalista”, tudo vai tão bem com o país que o
desemprego continua baixo — para ele, evidência de que estamos no
caminho certo.
Pois bem.
As transações correntes em outubro tiveram um déficit de US$ 8,13
bilhões — oficialmente, é o maior desde 1980 porque tal medição, com os
critérios atuais, começou a ser feita nesse ano, mas é o maior desde
1947, quando se começou a fazer tal contabilidade. O ministro Guido
Mantega pode se orgulhar: sua gestão produziu o maior buraco nas
transações correntes em 67 anos.
Querem
mais? Para novembro, o BC projeta déficit de US$ 8 bilhões nas
transações correntes. Se a projeção se confirmar, o resultado acumulado
do ano passará de US$ 70,7 bilhões até outubro para US$ 78,7 bilhões. No
acumulado em 12 meses, o déficit externo equivale a 3,73% do PIB
(Produto Interno Bruto), o maior desde fevereiro de 2002 (3,94% do PIB).
Os números
que vão acima são próprios de um modelo que deu errado, a despeito do
que diga o oficialismo. É o fim do mundo? Não é? Caminhamos pra lá? Não
tão depressa. Mas estaremos condenados à mediocridade se não houver uma
alteração substancial da equação. Não sei se Joaquim Levy, futuro
ministro da Fazenda, conseguirá operar a mudança. Uma coisa é certa: ela
não se dará se continuarmos na metafísica de agora.
Os
Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) somaram US$ 4,979 bilhões em
outubro, resultado que ficou abaixo dos US$ 5,439 bilhões registrados no
mesmo período do ano passado. No acumulado do ano até o mês passado, o
IED soma US$ 51,194 bilhões, o equivalente a 2,71% do Produto Interno
Bruto (PIB). É um alento em meio às más notícias.
Faltando
apenas dois meses para o fim do ano, o número acumulado de 2014 ainda
precisa somar mais US$ 11,8 bilhões para alcançar a previsão do BC, de
terminar com US$ 63 bilhões. Nos últimos 12 meses até outubro, o IED
está em US$ 66,003 bilhões, o que corresponde a 2,91% do PIB. O número
não chega a financiar o rombo, mas compensa em parte o desastre. Mas
resta evidente que algo de profundamente errado se passa com a economia.
Acabou,
definitivamente, aquele ciclo da economia mundial em que, com o
supercrescimento da China e a supervalorização das commodities
brasileiras, saldos positivos na balança comercial compensavam
desequilíbrios. O déficit na balança no mês passado ficou em US$ 1,17
bilhão de dólares, o pior desde outubro de 1998.
Os
petistas e as esquerdas deveriam estar felizes. O abacaxi na economia,
vejam vocês, terá de ser descascado não por um esquerdista ou por um
populista, mas por um economista que eles consideram “conservador”. Pois
é… Um conservador terá de consertar as burradas do petismo. Tomara que
consiga.
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