Reinaldo Azevedo - VEJA
As
primeiras escolhas da presidente Dilma Rousseff para compor o futuro
ministério estão deixando esquerdistas de teclado e botequim um tanto
perplexos, o que não deixa, já escrevi, de ser um boa notícia, não é
mesmo? Se a presidente não mudar de ideia, uma “não-escolha” — o que
valerá por uma demissão — também será um boa notícia: Dilma não pretende
reconduzir Gilberto Carvalho para a Secretaria-Geral da Presidência,
cargo que assumiu maior importância no primeiro mandato da petista. Ao
secretário-geral cabe a interlocução com os chamados “movimentos
sociais”, que nada mais são dos que os braços do petismo que usam o
Estado brasileiro como um cartório de suas demandas.
Dilma
nunca gostou de Carvalho e o quer distante do seu governo, embora a
tarefa não seja fácil. Ele é o segundo homem mais importante do PT na
hierarquia informal do partido — depois de Lula. Com aquele seu ar
santarrão, sua fala mansa e sua estatura, pode ser muito mauzinho. Este
senhor não perdeu uma só oportunidade de responder a problemas antigos
criando problemas novos. Na sua mais recente investida, resolveu
reclamar de público contra o que chamou de falta de interlocução de
Dilma com os movimentos sociais, sugeriu que houve retrocesso nessa área
e aplicou uma censura pública à sua chefe. E se explica por que o fez:
Carvalho é que se considera chefe dela e imune à demissão.
Vamos
a um exemplo? Embora a Funai seja uma autarquia subordinada ao
Ministério da Justiça, a “questão indígena” ficou a cargo da
Secretaria-Geral. Carvalho botou literalmente, para quebrar. O
braço-direito do ministro na empreitada é um tal Paulo Maldos. Se alguém
quer saber como a dupla trabalha, basta verificar como se deu a chamada
“desintrusão” de uma região chamada Marãiwatséde, em Mato Grosso. Nessa
área, havia a fazenda Suiá-Missú, que abrigava, atenção, um povoado
chamado Posto da Mata, distrito de São Félix do Araguaia. Moravam lá 4
mil pessoas. O POVOADO FOI DESTRUÍDO.
Nada ficou de pé, exceto uma igreja — o “católico” Gilberto Carvalho é
um homem respeitoso… Nem mesmo deixaram, então, as benfeitorias para os
xavantes, que já são índios aculturados. Uma escola que atendia a 600
crianças também foi demolida. Quem se encarregou da destruição? A Força
Nacional de Segurança. Carvalho e Maldos foram, depois, para a região
para comemorar o feito.
A
irresponsabilidade de Carvalho foi muito longe. Tão logo surgiram os
primeiros protestos violentos em São Paulo, em junho de 2013, ele, ao
atacar a Polícia, demonstrou a sua óbvia simpatia pelos arruaceiros,
imaginando que o custo político cairia no colo do governador Geraldo
Alckmin. O tiro saiu pela culatra: o tucano se reelegeu no primeiro
turno em São Paulo, e Dilma conseguiu um segundo mandato na trave, com
pouco mais de três pontos de diferença.
A
estupidez de Carvalho não parou aí: ele tentou usar os tais rolezinhos —
mero fenômeno, então, de consumo, sem conotação política — para
estimular uma guerra racial.
Segundo esse gênio, os brancos de classe média se assustavam com
aquele, como ele chamou, “bando de meninos negros e morenos”. É pouco?
Calma!
Ele sempre pode ir além. Confessou, em entrevista, que manteve vários
encontros com representantes dos black blocs, os mascarados criminosos
que saíam quebrando tudo por aí. Sim, um ministro de Estado dialogava
secretamente com bandidos. Depois de o MST espancar 30 policiais na
Praça dos Três Poderes, em Brasília, ele compareceu ao encontro do
movimento no dia seguinte, com patrocínio da CEF e do Banco do Brasil.
Quem é
cotado para o lugar de Carvalho? Miguel Rossetto, um dos coordenadores
da campanha de Dilma neste 2014 e atual ministro do Desenvolvimento
Agrário. Já escrevi aqui: membro de uma corrente do PT chamada
“Democracia Socialista”, no papel ao menos, está à esquerda de Carvalho.
No caso, isso conta menos: se escolhido, Rossetto será, efetivamente,
um subordinado de Dilma e poderá ser demitido se não fizer a coisa
certa. Com Carvalho, é diferente: é ele, insisto, quem se sente chefe de
sua chefe. Se a presidete não aproveitar o momento para tirá-lo do
Palácio, lá ele continuará, conspirando em favor da volta de Lula, o seu
Dom Sebastião.
Dilma
terá mesmo autonomia e clarividência para botar Carvalho pra fora do
seu governo? Para o bem do país, espero que sim. E isso, adicionalmente,
poderá fazer bem até… a seu governo.
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