Desvio no petrolão é seis vezes maior que o identificado no mensalão
Numa comparação com escândalos recentes, o da Petrobras já é o maior
Alexandre Rodrigues - O Globo
Uma lista de 36 envolvidos no esquema de corrupção da
Petrobras denunciados à Justiça foi lida na última quinta-feira pelo
procurador da República Dalton Dellangnol em Curitiba. Eles foram
responsabilizados pelo desvio de R$ 286,4 milhões de contratos da
diretoria de Abastecimento da estatal com seis empreiteiras, mas o
Ministério Público já pediu o ressarcimento de R$ 1,1 bilhão. É o que já
se sabe que foi desviado da estatal pelo mesmo grupo também na
diretoria de Serviços. O procurador frisou que a denúncia é apenas a
primeira de uma investigação que ainda está em curso, mas o escândalo de
corrupção descoberto pela Operação Lava-Jato na Petrobras já é um dos
maiores das duas últimas décadas. Somente os prejuízos apurados até
agora já representam mais de seis vezes o que abasteceu o mensalão. A
comparação se limita aos valores que foram apurados em casos que vieram à
tona e também não leva em consideração o impacto político.
ROMBO DEVE SER MAIOR
Em
2005, investigações da Polícia Federal, Tribunal de Contas da União
(TCU) e do Ministério Público apontaram que R$ 101,6 milhões foram
desviados dos cofres públicos, principalmente do Banco do Brasil, para
pagamentos não declarados a parlamentares da base do governo.
Considerando a inflação acumulada desde 2005, esse valor seria o
equivalente hoje a pouco mais de R$ 170 milhões. Aplicando uma correção
monetária estimada aos valores que aparecem nas denúncias resultantes da
investigação de outros escândalos recentes para torná-los comparáveis
ao da Petrobras, é fácil perceber que o caso da estatal tem tudo para
superá-los. A cobrança de propinas de empreiteiras por executivos da
Petrobras em troca de contratos superfaturados foi descoberta pela PF a
partir da investigação de um esquema de lavagem de dinheiro operado por
doleiros como Alberto Youssef, que está preso. Os investigadores estimam
que R$ 10 bilhões podem ter passado pelo esquema.
No entanto, o volume de dinheiro que alimenta propinodutos nem sempre expressa o impacto político que eles produzem.
— No caso do mensalão, poucas cifras de fato apareceram. Não
foi só o volume de dinheiro público envolvido que chamou a atenção do
país. O maior impacto veio da revelação da relação estabelecida entre
pessoas muito poderosas no governo, que tinham biografias
significativas, e parlamentares. Era a exposição de um projeto de
permanência no poder — analisa a historiadora Maria Aparecida Aquino,
professora da Universidade de São Paulo (USP).
Se de fato o que já se revelou até agora sobre o
superfaturamento de contratos na estatal for apenas a ponta de um grande
iceberg, o escândalo revelado pela Lava-Jato tem tudo para rivalizar
com o abalo que o mensalão provocou no país. Isso porque tem
repercussões fortes no mundo dos negócios e na política. Assim como o
julgamento do caso do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF) quebrou
um paradigma ao condenar à prisão poderosos como ex-parlamentares e
ex-ministros, as denúncias da Operação Lava-Jato podem dar um fim
parecido a altos executivos de algumas das maiores empresas do país.
Por outro lado, o caso tem ainda uma bomba política prestes a
explodir: a lista de parlamentares e políticos denunciados pelo
ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa na delação
premiada. Em depoimento no Congresso no último dia 2, ele deixou escapar
que teria denunciado entre 35 e 40 políticos. A lista é mantida sob
sigilo pelo ministro do STF, Teori Zawaski, por causa do foro
privilegiado dos citados. Até agora, sabe-se que há envolvidos do PT, PP
e PMDB, que apadrinharam os executivos da Petrobras investigados.
— O caso da Petrobras não é o primeiro nem será o último
escândalo. A corrupção sempre existiu e não é um problema só do Brasil. O
que um escândalo como esse nos ensina é que a sociedade precisa vigiar
mais — diz Maria Aparecida.
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