sábado, 6 de dezembro de 2014

José Eduardo Cardozo volta a meter os pés pelos pés e a se comportar como advogado do PT
Reinaldo Azevedo - VEJA
José Eduardo Cardozo, como a personagem citada por Millôr, é um homem destemido e, depois de chegar ao limite, sempre dá mais um passo. É evidente que, como já destaquei aqui e como afirmou ontem o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, é um despropósito que seja Cardozo o escalado para defender o PT e a “candidata” (não a presidente!) Dilma Rousseff da acusação feita por um executivo. Luís Inácio Adams foi na mesma trilha, rebaixando um pouquinho mais as instituições, como de hábito.
Pois não é que, depois de ter incorrido no absurdo na quinta, Cardozo volta à carga nesta sexta? Afirmou:
“Não se podem fazer especulações políticas com investigações. Atrapalha as investigações e, muitas vezes, serve a um revanchismo que eu acho que perdeu espaço para a democracia brasileira. E isso afirmo como ministro da Justiça. Cabe a mim defender a democracia e a verdade dos fatos. [...] Agora, não podemos transformar isso, quando um delator fala em 11 partidos que receberam doações legais em uma disputa política eleitoral, localizando uma campanha específica”.
Dá quase para fazer o jogo de sete erros. Em primeiro lugar, especulações são livres. A Constituição garante o direito de especular. Revanchismo? Disputas políticas dentro das regras do jogo, meu senhor, não são “revanchismo”, a menos que se admita que o vencedor transgrediu as linhas da normalidade. Foi o caso? Que história é essa de “cabe a mim defender a democracia”??? Ao senhor e a todos os brasileiros! O fato de Cardozo ser ministro da Justiça não faz dele um juiz, com competência para definir o que é “democracia” e o que é “especulação”. Quanto a escolher uma “campanha específica”, o que respondo ao doutor? Só uma “campanha específica” elegeu a presidente da República.
Cardozo se mostrou a segunda figura mais deletéria do governo Dilma, só perdendo para Gilberto Carvalho. Imaginem que foi capaz de dizer o seguinte:
“Cabe ao ministro da Justiça garantir investigações, sejam na Petrobras ou no cartel do metrô em São Paulo”. Uma
sutileza tão elefantina quanto tem se tornado seu perfil físico. Ao tocar no “cartel do Metrô de São Paulo” — e vou dar de barato, para efeitos de raciocínio, que ele tenha existido como diz a PF —, é claro que Cardozo tenta criar uma equivalência entre os dois casos, o que é, por si, um escândalo, seja na natureza do crime apontado, seja no volume de recursos. De resto, por que Cardozo não toca no cartel do metrô de Belo Horizonte ou de Porto Alegre?
Sigamos. Ministro da Justiça não garante nada. Quem garante é a lei. Quer dizer que, se Cardozo deixar de “garantir”, a Polícia Federal passará a ter menos prerrogativas? Tenham paciência!
Cardozo, impávido e cada vez mais colosso, foi adiante:
“O que eu disse não foi em defesa de nenhum partido, foi em defesa dos fatos que constaram de depoimentos. Porque eu ouvi inúmeras declarações que diziam textualmente que aquela situação divulgada aproximava os fatos investigados da campanha da presidente Dilma, do Palácio do Planalto etc. Mas vamos ver os fatos. [...] Quem disse que essa doação, em primeiro lugar, havia um conluio para recebê-la? Isso não está claro nesse depoimento e, por isso, está sendo investigado. Em segundo lugar, não está claro que em momento algum [o dinheiro] tenha ido para a campanha da presidente Dilma em 2010 ou para o governador A, B, C ou D”.
Ainda que assim fosse, esse não é um texto para Cardozo, mas para o presidente do PT ou para o tesoureiro. Dê-se ao respeito, meu senhor.
O líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), emitiu uma nota muito oportuna. Lê-se lá:
“Os ministros, talvez pela ansiedade de se cacifarem para a vaga que está aberta no Supremo Tribunal Federal, queiram mostrar serviço e misturem as atribuições de Estado ao papel partidário. É até compreensível que ambos estejam também preocupados com a situação da presidente Dilma, que pode, lá na frente, enfrentar situações mais difíceis ainda, mas não está entre suas atribuições serem advogados do PT. Isso é inadmissível”.
É isso!

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