quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Sequestro em Sydney prova que novas medidas antiterrorismo são ineficazes
Thomas Fuller e Michelle Innis - TINYT 
Saeed Khan/AFP
15.dez.2014 - Refém foge em direção à polícia em um café no distrito empresarial central de Sydney 15.dez.2014 - Refém foge em direção à polícia em um café no distrito empresarial central de Sydney
Quando imagens macabras de decapitações passaram a circular pelo mundo nos últimos meses, o primeiro-ministro da Austrália, Tony Abbott, apresentou uma série de leis em resposta ao que disse ser "a crescente ameaça" de o Estado Islâmico tentar um ato ousado de terrorismo em solo australiano.
As leis, que foram aprovadas pelo Parlamento australiano com amplo apoio, tornam crime defender o terrorismo, mesmo nas redes sociais; proíbem os australianos de irem lutar no exterior; permitem às autoridades confiscar e cancelar passaportes; e preveem o compartilhamento de informação entre os serviços de segurança e defesa. O governo também empregou centenas de policiais em ações de contraterrorismo por todo o país.
Nenhuma dessas medidas impediu um homem, conhecido tanto pela polícia quanto pelos líderes das organizações muçulmanas como profundamente perturbado e com um longo histórico de problemas com a lei, de fazer reféns por 16 horas em um popular café no centro de Sydney. O agressor, Man Haron Monis, um imigrante iraniano, e dois dos 17 reféns foram mortos na madrugada de terça-feira (16), em meio ao caos da invasão policial.
As vítimas foram identificadas na terça-feira como Katrina Dawson, uma advogada de 38 anos, e o gerente do café, Tori Johnson, 34 anos.
"As novas leis não acrescentaram nada ao que pode ser feito antecipadamente em uma situação como a tomada de reféns", disse Bret Walker, um advogado que foi o primeiro monitor independente da Austrália para as leis de segurança nacional. Neste caso, Monis foi ignorado porque não viajou para o exterior e não era considerado integrante de uma gangue ou rede terrorista, disseram os especialistas.
O caso, como os recentes ataques de jihadistas solitários em Bruxelas, Ottawa e Nova York, levanta questões perturbadoras sobre a capacidade dos governos de monitorar extremistas domésticos radicalizados e impedi-los de causar mal.
Na Austrália, o governo até mesmo tinha informação de que o Estado Islâmico buscava recrutar um agressor desses para realizar um ataque ousado em Sydney. "Tudo o que basta para realizar um ataque é uma faca, um telefone com câmera e um vítima", Abbott alertou o Parlamento em setembro.
Monis, que estaria empunhando uma arma, não parece ter dedicado muito planejamento ao seu ataque ao Lindt Cafe. Na falta de uma bandeira do Estado Islâmico, ele exigiu uma em troca de vários reféns, noticiou a imprensa local.
Manny Conditsis, um advogado que representou Monis em casos criminais anteriores, o descreveu como "à margem da margem". "Ele não era aceito por ninguém", disse Conditsis.
A violência em Sydney ocorreu dois meses depois que um homem armado no Canadá, Michael Zehaf-Bibeau, matou um soldado e invadiu o Parlamento canadense em Ottawa, aparentemente motivado por uma mistura semelhante de descontentamento pessoal e fanatismo jihadista.
Monis, que obteve asilo político na Austrália há duas décadas, era um clérigo xiita no Irã. Ele escreveu recentemente em seu site que tinha se convertido ao ramo sunita do Islã.
As semelhanças entre esses ataques e um em Nova York, em outubro, quando um homem com uma machadinha investiu contra policiais, são a radicalização de pessoas isoladas de suas comunidades, segundo Greg Barton, diretor do Centro de Pesquisa do Terrorismo Global da Universidade Monash, em Melbourne.
"Não há resposta fácil sobre como lidar com isso", disse Barton. "Não é possível colocar pessoas sob vigilância 24 horas a menos que sejam suspeitos principais."
No Canadá, o governo apresentou uma legislação aumentando os poderes de vigilância da agência de espionagem do país e concedendo anonimato aos informantes. O Canadá também começou a revogar os passaportes de pessoas suspeitas de serem militantes para impedi-las de viajar para o exterior ou retornar para casa.
Mas os especialistas dizem que há um limite para que as leis de contraterrorismo podem fazer sem transformar as democracias ocidentais em Estados policiais.
"O verdadeiro problema não é a questão legal ou algo que as novas leis podem consertar, mas as pessoas marginalizadas e extremistas que podem agir de acordo com a legislação antes de cometerem um ato como a tomada de reféns da noite passada", disse Peter Jennings, diretor executivo do Instituto Australiano de Políticas Estratégicas.
Os grupos jihadistas mais sofisticados, como o Estado Islâmico, sabem disso, daí seu pedido, em setembro, para que um apoiador pegasse um australiano aleatório e o decapitasse.
"A ideia de um ator solitário é algo que os grupos terroristas estão buscando há algum tempo", disse Raffaello Pantucci, diretor de estudos internacionais de segurança do Instituto Real de Serviços Unidos, em Londres. O Estado Islâmico "está tentando capturar esse sentimento e parece estar repercutindo cada vez mais. O pacote de ataque não exige muito esforço. Você não diz a ninguém o que fará e isso torna muito difícil para que as agências de inteligência peguem essas pessoas."

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