Congresso errático aprova medidas contraditórias
Continuam a pairar sobre o país a visão de
que cabe ao Estado prover o sustento de grande parte da população e
ainda a ideia de que o Tesouro é inesgotável
O Globo
Tomada por um furor legiferante, induzido pelo presidente da Casa,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a Câmara acaba de gerar mais um monstrengo, ao
aproveitar a medida provisória da extensão da política do reajuste do
salário mínimo até 2019 e contrabandear para ela o “jabuti” da extensão
do reajuste do mínimo a todos os aposentados e pensionistas do INSS.
Acendeu o rastilho da implosão definitiva das contas públicas. Não é a
primeira vez nas últimas semanas. Também foi assim na derrubada do fator
previdenciário, mecanismo de atenuação das aposentadorias precoces,
desatino confirmado no Senado, mas vetado pela presidente Dilma.
O próprio sistema de cálculo do reajuste do mínimo não é o indicado,
por não refletir com precisão os ganhos de produtividade da economia,
essenciais para impedir efeitos inflacionários da elevação dos salários.
Aplicar a fórmula que soma inflação com evolução do PIB no já
deficitário e estruturalmente desequilibrado INSS é antecipar uma crise
fiscal que está desenhada no horizonte. Apenas esta benevolência
irresponsável da Câmara representaria, este ano, mais uma despesa de R$
9,2 bilhões, caso vigorasse desde janeiro.
A Câmara cria o gasto adicional enquanto aprova medidas do ajuste
fiscal. Corta de um lado, mas amplia despesas de outro. Mais um desvario
a ser vetado pela presidente Dilma, se o Senado não abater antes o
“jabuti”. Assemelha-se ao Titanic aportado na Ilha da Fantasia: não se
tem ideia do risco à frente, dada a ausência de senso de realidade de
tripulantes e passageiros. Inclusive da oposição, em que tucanos mais
uma vez dão o troco a um governo petista no mesmo estilo inconsequente
do PT no período de Planalto do PSDB.
O deputado Cunha tem tocado a Câmara de forma temerária, votando uma
eclética e destrambelhada reforma política, como forma de se impor ao
Planalto enquanto espera ser ou não denunciado pelo MP ao Supremo, no
escândalo do petrolão. Mesmo ele rejeitou a manobra: “Chegou-se a um
limite daquilo que não deve ser feito”. Pois, na prática, significa
subtrair parcela importante do ajuste fiscal aprovado apenas em parte no
Congresso, e mesmo assim a duras penas.
Confirma-se
que continua a pairar sobre o país a visão míope de que cabe ao Estado
prover o sustento direto de grande parte da população, a mesma ideologia
que plasmou a Constituição de 88.
Os milhões de beneficiários de programas sociais, somados a uma
previdência desestabilizada pelas aposentadoria, e ainda a folha de
salários de servidores estáveis e dos “cargos de confiança” enrijeceram o
Orçamento de tal forma que dificultam os cortes. Muito também por falta
de vontade política.
Este estado de coisas fica ainda mais grave diante dos surtos de
populismo do Congresso. E para piorar, existe a ideia de que a
capacidade de provedor do Estado é infinita. Não entendem o que tem
acontecido com a Grécia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário