Empresário afegão formado na Austrália revoluciona a televisão e a rádio em seu país, com pop e apresentadoras
Patricia R. Blanco - El País
Os extremistas islâmicos começam a perder quando o taleban deixa de ser o único modelo, e vencer como estrela da música pop ou como artilheiro do campeonato de futebol se transformam em aspiração para os jovens. É o que acontece no Afeganistão, segundo Saad Mohseni (nascido em Londres em 1966), fundador e diretor-executivo do Moby Media Group, o maior grupo de mídia do país asiático. "Não tenho certeza de que o pop possa mudar um país, mas conta, porque graças à música, em vez de querer ser como Osama bin Laden, talvez a pessoa queira ser como Enrique Iglesias", explica o empresário durante uma entrevista no Fórum da Liberdade de Oslo, realizado nesta semana na capital norueguesa.
Filho de um
diplomata, Mohseni, que viveu na Austrália desde sua adolescência,
viajou ao Afeganistão em 2002 depois da queda do regime taleban, "só
para ver como estavam as coisas". Nos meios de comunicação, o terreno
era virgem. "Não havia televisão porque os talebans a proibiam. Só
existia uma rádio e cerca de 10 mil celulares no país", lembra. Em 2015,
há cerca de 200 emissoras de rádio, mais de cem canais de televisão e
13 milhões de telefones celulares. "E centenas de grupos afegãos de
música pop", acrescenta.
"É muito arrogante dizer que nós mudamos a sociedade. Simplesmente lhe apresentamos novas ideias, e a sociedade, quando tem a oportunidade, muda por si mesma", afirma o empresário afegão, que lamenta que as únicas notícias que circulam sobre seu país sejam as relacionadas ao terrorismo.
Uma de suas primeiras inovações radiofônicas foi incluir dois locutores em cada estúdio, um homem e uma mulher. "No início, todos estranharam, mas depois muitas emissoras copiaram o modelo", entusiasma-se Mohseni, apesar de reconhecer que seus funcionários, cerca de mil em todo o país, sofreram ameaças por romper tabus. O maior deles, explica, não foi só escutar as vozes de mulheres, mas que seus rostos apareçam nas telas de televisão.
Mas, além de entreter, os meios de comunicação "fomentam a sociedade civil". É nisso que também acredita Kimberley Motley, a advogada norte-americana da família de Farjunda, a afegã que foi linchada depois de ter sido falsamente acusada de queimar um Alcorão. Motley conseguiu na semana passada que 11 policiais que presenciaram quando a turba a golpeou até a morte fossem presos por não a proteger, uma sentença inédita no país. Mas, se o caso comoveu os afegãos, "foi também por sua repercussão" na mídia, acrescenta. "A televisão e a rádio sugerem, mas a sociedade decide se reage, e o Afeganistão está reagindo", afirma Mohseni.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves"Bruce Lee do Afeganistão" quer mostrar lado positivo do país
Abbas Alizada, conhecido como o "Bruce Lee afegão", faz pose inspirada nas artes marciais em Cabul, no Afeganistão. Nas ruínas de um palácio que foi bombardeado, o jovem, que carrega uma semelhança impressionante com a lenda do kung fu, faz fama na internet com o objetivo de mostrar outro lado de sua nação, cansada da guerra - Mohammad Ismail/Reuters
"É muito arrogante dizer que nós mudamos a sociedade. Simplesmente lhe apresentamos novas ideias, e a sociedade, quando tem a oportunidade, muda por si mesma", afirma o empresário afegão, que lamenta que as únicas notícias que circulam sobre seu país sejam as relacionadas ao terrorismo.
Uma de suas primeiras inovações radiofônicas foi incluir dois locutores em cada estúdio, um homem e uma mulher. "No início, todos estranharam, mas depois muitas emissoras copiaram o modelo", entusiasma-se Mohseni, apesar de reconhecer que seus funcionários, cerca de mil em todo o país, sofreram ameaças por romper tabus. O maior deles, explica, não foi só escutar as vozes de mulheres, mas que seus rostos apareçam nas telas de televisão.
O poder do entretenimento
O grupo de Mohseni, dono da rádio e da televisão de maior sucesso no Afeganistão (Arman FM e Tolo TV), recebeu críticas por receber verbas dos Estados Unidos e da News Corporation, o conglomerado de mídia de Rupert Murdoch. Seus adversários acreditam que alguns de seus programas, como A Voz do Afeganistão, ou de suas telenovelas distraem dos verdadeiros problemas do país, que ocupa o 169º lugar, entre 187, no índice de desenvolvimento humano. "Não se pode subestimar a importância do entretenimento, porque no mesmo estádio aonde as pessoas vão hoje para escutar música, há 15 anos elas iam ver execuções", defende-se Mohseni. E mostra, entre seus êxitos, a cobertura do último campeonato de futebol afegão. "A final foi assistida por 15 milhões de pessoas, uniu o país."Mas, além de entreter, os meios de comunicação "fomentam a sociedade civil". É nisso que também acredita Kimberley Motley, a advogada norte-americana da família de Farjunda, a afegã que foi linchada depois de ter sido falsamente acusada de queimar um Alcorão. Motley conseguiu na semana passada que 11 policiais que presenciaram quando a turba a golpeou até a morte fossem presos por não a proteger, uma sentença inédita no país. Mas, se o caso comoveu os afegãos, "foi também por sua repercussão" na mídia, acrescenta. "A televisão e a rádio sugerem, mas a sociedade decide se reage, e o Afeganistão está reagindo", afirma Mohseni.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves"Bruce Lee do Afeganistão" quer mostrar lado positivo do país
Abbas Alizada, conhecido como o "Bruce Lee afegão", faz pose inspirada nas artes marciais em Cabul, no Afeganistão. Nas ruínas de um palácio que foi bombardeado, o jovem, que carrega uma semelhança impressionante com a lenda do kung fu, faz fama na internet com o objetivo de mostrar outro lado de sua nação, cansada da guerra - Mohammad Ismail/Reuters
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